A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Qual é o tamanho do universo?


Construa comigo uma imagem mental das dimensões do cosmo

PETER MOON
 Peter Moon Repórter especial de ÉPOCA vive No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia.  petermoon@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Eu sempre adorei astronomia. Desde pequeno lembro-me de olhar fascinado uma coleção de livros da revista Life que meu pai comprou, com fotos de estrelas e galáxias. Era o início dos anos 1970, o homem já havia pisado na Lua, o universo era fascinante, inescrutável e em preto e branco. Foi só nos anos 1990, com as imagens captadas pelo telescópio espacial Hubble, que o universo foi pintado com cores deslumbrantes. Foi quando descobrimos que aquelas nebulosas distantes não eram nuvens de poeira acinzentada, mas que reluziam com todos os tons cores do espectro.
Ainda menino, fascinado com a beleza monocrômica das estrelas e galáxias, comecei a tentar conceber o que significariam as inconcebíveis distâncias cosmológicas envolvidas. Naquela época, li que a Via Láctea, a nossa galáxia, é uma espiral com 100 bilhões de estrelas e um diâmetro de 100 mil anos-luz. É impossível imaginar o que isto significa. Mas confesso que, aos 12 anos, tentei fazê-lo. Eu queria imaginar mentalmente o que significariam os 100 mil anos-luz do diâmetro da Via Láctea para, a partir deste cálculo, tentar imaginar o tamanho do universo.
Nos anos 1970, a teoria do Big Bang já estava bem consolidada. Ela reza que o universo surgiu de uma explosão primordial que lançou matéria e energia em todas as direções. Com o passar das eras, matéria e energia começaram a formar galáxias e estrelas. Nos anos 1970, a idade do universo ainda era incerta. Lembro que meus primeiros cálculos mentais foram feitos com base num universo surgido há 20 bilhões de anos – hoje sabemos com precisão que o Big Bang aconteceu há 13,7 bilhões de anos.
O universo é tão antigo e sua escala de tempo é tão deslocada da escala de tempo de uma vida humana, ou mesmo da civilização, que se torna incompreensível. Não é possível imaginar o que são 13,7 bilhões de anos. Mas é possível conceber analogias que nos aproximem - se não de uma resposta -, pelo menos de um significado, de uma imagem cerebral do universo. Foi o que aquele menino paulistano de 12 anos começou a fazer – e faz até hoje.
Vamos lá. O segredo deste exercício mental é esquecer a palavra tempo, e passar a imaginar o tempo como um sinônimo de espaço. Na verdade, o espaço e o tempo são duas faces da mesma moeda universal, assim como a matéria e a energia, como Albert Einstein nos ensinou. O espaço e o tempo nasceram com o Big Bang. Logo, não faz sentido tentar imaginar se existe algo “fora” ou “além” do universo, porque só existe espaço e tempo no universo. Se existem outros universos ou universos-bebês?, e se eles nascem do interior de buracos-negros para se expandir em dimensões desconhecidas?, estas são especulações teóricas do âmbito dos cosmólogos – e terreno fértil para quem busca respostas metafísicas para a origem de tudo. Não é o meu caso.
Como imaginar o tamanho da Via Láctea?
A unidade de distância cosmológica é a velocidade da luz, ou seja, 299.792,49 quilômetros por segundo, que se convencionou arredondar para 300 mil km/s. É muito. A nave espacial mais veloz construída pelo homem é a sonda americana Voyager I, lançada em 1977. Passados 34 anos, a Voyager I se encontra neste momento além da órbita de Plutão, na porta de saída do Sistema Solar. Sua velocidade é 17,46 km/s. Ou seja, a Voyager I cobriria os 446 km que separam São Paulo do Rio de Janeiro em 25 segundos. É muito rápida, mas uma lesma paralítica caso comparada à velocidade da luz. A velocidade da luz é mais de 17 mil vezes superior à da Voyager I.
Basta um segundo para a luz completar 7,5 voltas em torno da Terra, cuja circunferência é de 40 mil km. A distância média da Terra à Lua é de 384 mil km. A luz emitida pelo Sol que ilumina a superfície da Lua, e reflete em direção à Terra leva 1,28 segundos para, saindo da Lua, atingir a sua retina. Ou seja, a imagem que vemos da Lua é como ela era 1,28 segundos no passado.
O Sol encontra-se a 150 milhões de km da Terra. A luz leva 8 minutos e 18 segundos para cobrir essa distância. Se o Sol explodisse neste exato instante – fique tranquilo, isto jamais acontecerá – a imagem da explosão só seria visível daqui 8 minutos e 18 segundos – e seria a última coisa que qualquer um de nós assistiria, pois a Terra deixaria de existir.
É quando olhamos o céu noturno pontilhado de estrelas que as coisas começam a ficar realmente assombrosas. Quantas estrelas existem no céu? Elas são incontáveis, e ainda assim são um número ínfimo se comparado às estrelas da Via Láctea que são invisíveis ao olho nu. Pensando apenas nos pontinhos cintilantes que conseguimos distinguir no céu noturno, quão longe eles estão? Bem longe. De todas as estrelas no céu, a mais próxima do sistema solar é, como seu nome indica, Próxima Centauri, a 4,2 anos-luz de distância. A mesma luz que dá 7,5 voltas na Terra em um segundo precisa de 4,2 anos para cobrir a distância que separa Próxima Centauri do Sol. Daí se conclui que a luz de todas as estrelas que observamos à noite levou, NO MÍNIMO, 4,2 anos viajando pelo espaço interestelar até chegar à nossa retina.
Agora estamos começando a adentrar as dimensões cósmicas. Elas são incompreensíveis. Estão aquém e além das dimensões do microcosmo ao qual estamos acostumados. Aqui, a unidade básica é o ano-luz, a distância que a luz percorre em um ano, ou 9,46 trilhões de quilômetros. Este número é tão grande que, para todos os efeitos, não tem significado algum. Pode esquecê-lo. Nossa unidade é o ano-luz.
Sabemos que a Via Láctea é uma imensa galáxia em espiral que abriga 100 bilhões de estrelas e tem um diâmetro de 100 mil anos-luz. Ou seja, a luz emitida por uma estrela em uma extremidade leva 100 milênios para atingir a outra extremidade. Há 100 mil anos, nossa espécie, os Homo sapiens, ainda se encontrava confinada na África.
A galáxia gigante de Andrômeda, irmã gêmea da Via Láctea, é a galáxia em espiral mais próxima da nossa. Andrômeda está a 2,9 milhões de anos-luz de distância. Vale dizer que, ao usar-se um telescópio para observar Andrômeda, o que se vê é a luz que saiu dela para cobrir a vastidão intergaláctica há 2,9 milhões de anos, quando Lucy e os Australopithecus afarensis viviam tranquilos na África, sem sonhar que, de sua linhagem, evoluiriam primatas capazes de ir á Lua.
Como imaginar o tamanho do universo?
Foi este o cálculo mental que fiz pela primeira vez aos 12 anos. Agora que sabemos que a Via Láctea mede 100 mil anos-luz, esqueça tudo isto e considere os 100 mil anos-luz da nossa galáxia como se sendo apenas e tão somente um centímetro do metro de uma trena cósmica. Nesse caso, Andrômeda estaria a 29 cm de distância. Não parece tão longe quanto antes, parece?
Longe mesmo são os confins do universo. O universo surgiu há 13,7 bilhões de anos. O Big Bang foi uma explosão que lançou matéria e energia em todas as direções, logo as primeiras radiações emitidas estão há 13,7 bilhões de anos viajando em todas as direções. Se imaginarmos o universo como um balão de festa que vai enchendo na medida em que se sopra dentro dele, 13,7 bilhões de anos, ou 13,7 bilhões de anos-luz, é o raio do balão. Como o diâmetro é o dobro do raio, o diâmetro do universo deve estar em cerca de 27,4 bilhões de anos-luz.
Retome agora a nossa trena cósmica e vamos calcular o tamanho do cosmo. Se os 100 mil anos-luz da Via Láctea correspondem a um centímetro da trena cósmica, quanto seria 27,4 bilhões de anos-luz? A conta é fácil, embora cheia de zeros. Uso uma calculadora para chegar ao resultado. Obtenho a resposta. O diâmetro do universo é 274 mil vezes maior que o da Via Láctea. Convencionamos que o comprimento da nossa galáxia é um centímetro, certo? Então o diâmetro do universo é 2,74 km.
O universo pode ser imaginado como uma esfera em expansão com diâmetro atual de 2,74 km, sendo que cada centímetro equivale a uma Via Láctea. Esta esfera tem um volume de 10,77 km³. Em seu interior cabe todas as 400 bilhões de galáxias do universo visível, cada qual com uma média de 100 bilhões de estrelas, cada uma com seus incontáveis planetas.
“O universo é um lugar muito, muito grande”, lê-se no romance “Contato” (1985), de Carl Sagan. “Se só existisse vida aqui na Terra, então o universo seria um enorme desperdício de espaço.” Não consigo imaginar afirmação mais verdadeira.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A "descoberta" de neutrino mais rápido que a luz


Segundo o site da revista científica, uma falha na conexão entre o GPS e um computador para verificar a velocidade das partículas fez resultado de experimento indicar que partículas poderiam viajar a velocidades maiores que a da luz

REDAÇÃO ÉPOCA
Imagem de 22 de março de 2007 mostra parte do grande colisor de hádrons (LHC na sigla em inglês), mantido na fronteira entre a Suíça e a França pela Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Foto: Martial Trezzini / AP)
Em setembro do ano passado, a comunidade científica recebeu com muita cautela a notícia de que a luz poderia não ter a máxima velocidade cósmica. O dado fora obtido pelos cientistas do experimento Opera, que lançaram um feixe de neutrinos, partículas subatômicas, do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), na fronteira entre a Suíça e a França, até o laboratório de Gran Sasso, na Itália. A distância de 730 quilômetros teria sido percorrida em 60 nanosegundos menos do que se as partículas viajassem a velocidade da luz. 
Os próprios envolvidos no experimento afirmaram à época que ainda eram necessárias mais experiências para concluir que os neutrinos atingiram velocidades superiores à da luz, já que essa conclusão contrariaria a Teoria da Relatividade Especial, de Albert Einstein, que estabelece a velocidade da luz como uma constante e sendo a máxima possível. Cientistas desconfiaram que um erro de medição deveria ter levado ao resultado.
Cinco meses após o anúncio dos pesquisadores do Ópera, o site da revista Science afirma que o resultado foi mesmo consequência de uma falha. O problema estaria na conexão entre o cabo de fibra ótica que liga o receptor GPS para medir o tempo de viagem dos neutrinos e um cartão eletrônico em um computador. Com a conexão corrigida, a discrepância de 60 nanossegundos deixou de existir nas medições. Mesmo que agora os resultados estejam de acordo com as amplamente testadas teorias de Einstein, como em todo experimento científico, ainda são necessárias mais observações para se concluir que desta vez a experiência está sendo realizada de maneira adequada.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Semana na Ciência

Cientistas que desmentiram Einstein podem ter 

sido enganados por "má conexão"

Experiência parecia provar que neutrinos podiam viajar a 

velocidades superiores à da luz

AFP
EINSTEINS_BRAIN_O8T.jpg
Os resultados da experiência Ópera - que sacudiu o mundo científico no final de setembro ao revelar neutrinos com velocidade superior a da luz - foram provocados por uma má conexão, afirma nesta quarta-feira (22) o site da revista Science. "Uma má conexão entre um GPS e um computador é, sem dúvida, a origem do erro", garante a revista americana, que cita "fontes ligadas à experiência".
No final de setembro, os especialistas da equipe Ópera anunciaram que neutrinos percorreram os 730 km entre o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), em Genebra, e o laboratório subterrâneo de Gran Sasso, na Itália, em velocidade superior a da luz.
A maioria dos especialistas não acreditou que uma partícula elementar da matéria tivesse superado a velocidade da luz, considerada um "limite insuperável" na relatividade geral de Einstein. Segundo a Science, os 60 nanosegundos de vantagem registrados pelos neutrinos sobre a velocidade da luz foram resultado de uma má conexão entre o GPS utilizado para corrigir o momento da chegada e um computador. Novos estudos serão necessários para confirmar a origem do erro, destaca a Science.

Uma outra origem para a vida

Nova pesquisa afirma que as primeiras células teriam surgido em 

poças, e não nos oceanos, como se pensava até então

André Julião
chamada.jpg 
O surgimento das primeiras células no oceano é uma ideia tão bem aceita que os cientistas que buscam vida fora da Terra a procuram justamente em planetas cobertos por água. Uma pesquisa divulgada na semana passada mostra que a busca será ainda mais difícil a partir de agora. Segundo o estudo, a origem da vida teria se dado em pequenas poças sobre o solo, próximas a campos geotermais, conhecidos como gêiseres. O conceito de que os seres vivos surgiram de uma combinação de certos elementos químicos é uma unanimidade. Esses organismos muito simples teriam se isolado, criado metabolismo próprio e a capacidade de se reproduzir. Para uma corrente de cientistas, essa “sopa primordial” teria surgido perto de jatos d’água quente que nascem em fissuras no leito do oceano.

A equipe de Armen Mulkidjanian, pesquisador da Universidade de Osnabrück (Alemanha), notou que havia discrepâncias entre as proporções de algumas formas de elementos químicos dentro das células atuais e em ambientes marinhos e terrestres em geral. Segundo os cientistas, a proporção de íons nas células de hoje reflete a composição do ambiente em que elas se formaram há bilhões de anos. As condições químicas das células não são compatíveis com as dos oceanos, e sim com zonas dominadas por vapor de gêiseres como, por exemplo, os que existem no Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA.
img.jpg

Amazônia em 3D

Mapeamento com laser permite estudar a fundo a biodiversidade 

da floresta e as heranças deixadas por civilizações extintas

André Julião
img1.jpg
RIQUEZA
Tucunaré é flagrado em rio amazônico
Para o cientista americano Gregory Asner, a Amazônia vista de cima não é apenas verde, mas amarela, azul, rosa, vermelha e laranja. Essa é a visão que ele tem na tela do seu computador depois de sobrevoar uma área com o Carnegie Airborne Observatory (CAO). Trata-se de um avião bimotor dotado de um equipamento que lança lasers sobre a vegetação e cria um retrato preciso e em três dimensões da biodiversidade e geografia locais. É dessa forma que o pesquisador do Carnegie Institution for Science, nos EUA, pretende contribuir para a criação de políticas de conservação do mais rico bioma da Terra.

“Os satélites não mapeiam a absorção e a emissão de carbono ou a diversidade biológica”, disse Asner à ISTOÉ. “O CAO é a mais avançada tecnologia de mapeamento no mundo para esse tipo de estudo. Enquanto o satélite pode ser usado para mapear a cobertura florestal e o desmatamento, nosso equipamento mostra o que há na floresta”, explica. O Lidar, como é chamado, mapeia 360 quilômetros quadrados por hora (entenda o funcionamento no gráfico abaixo).
img.jpg
HERANÇA
Arqueólogo usa máquina para escanear pedrais localizados no rio Madeira, em Rondônia
Tecnologias desse tipo se tornam cada vez mais comuns – e necessárias – para o estudo e consequente conservação de riquezas como as florestas e evidências deixadas por civilizações extintas. É o que está acontecendo no rio Madeira, na área que será o reservatório da usina hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO). Antes que a água tomasse conta do local para sempre, uma equipe de arqueólogos fez o escaneamento dos chamados pedrais, que possuem inúmeras gravuras rupestres.

“O aparelho transforma o desenho em uma nuvem de pontos, permitindo reconstruí-lo em laboratório”, diz Renato Kipnis, diretor da Scientia, empresa que realizou o mapeamento. Em breve, os dados estarão disponíveis para pesquisadores. Ironicamente, nunca foi tão fácil estudar os pedrais. Asner, do CAO, quer agora mapear a parte brasileira da Amazônia – seus parceiros atuais estão em países como Peru, Colômbia, Equador e Panamá. “A principal barreira agora é conseguir financiar essa parte do estudo. Talvez no futuro”, finaliza. 
img2.jpg