A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Semana na Ciência


Ver sem os olhos

Cego desde a adolescência, americano escala montanhas com a 

ajuda de aparelho que permite "enxergar" com a língua e que 

deve chegar ao mercado já em 2013

Lucas Bessel
Assista ao vídeo:
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DESAFIOS
Acima, Erik Weihenmayer chega acompanhado ao topo do Everest em 2001; agora, com
o novo aparelho sobre a língua, ele consegue escalar montanhas sozinho (abaixo)
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A falta de visão nunca foi um obstáculo na carreira de aventureiro do americano Erik Weihenmayer, 44 anos. Ele foi o primeiro deficiente visual a chegar ao topo do Everest, o monte mais alto do mundo, em 2001. No ano seguinte, completou as expedições aos sete maiores picos da Terra. Já saltou de paraquedas sozinho e é praticante de canoagem e mountain bike. Atualmente, nos intervalos entre as palestras motivacionais que ministra no mundo todo, ele tem se dedicado a um novo desafio: aprender a enxergar com a língua. Para tanto, conta com um aparelho revolucionário que deve chegar ao mercado dos Estados Unidos já em 2013. Chamado de BrainPort V100, o dispositivo desenvolvido pela empresa médica Wicab transforma imagens em sinais elétricos, que são enviados à língua do usuário por meio de eletrodos. Nesse sensível órgão, centenas de microchoques elétricos, que variam em intensidade, formam as figuras captadas pela câmera, montada em óculos escuros. Quem usa o aparelho descreve a experiência “como se imagens fossem pintadas na língua com pequenas bolhas”.
Apesar de parecer coisa de ficção científica, a lógica por trás do funcionamento do aparelho é velha conhecida dos estudiosos de deficiências sensoriais: na ausência da visão ou da audição, o cérebro consegue aprender a enxergar ou ouvir por meio de outros sentidos. “Não são os olhos que realmente enxergam, mas sim o cérebro”, diz Weihenmayer, que ficou cego aos 13 anos por causa de uma doença na retina. Graças a essa nova tecnologia, o alpinista é capaz não apenas de escalar sozinho as montanhas do Estado americano do Colorado, onde vive, mas também de reconhecer palavras escritas, jogar bola com a filha ou brincar com seu cachorro. “Usuários do BrainPort V100 conseguem identificar obstáculos acima do solo, localizar placas e encontrar objetos em uma mesa”, explica Lindsey Spencer, diretora de pesquisas clínicas da Wicab, empresa que produz o aparelho. “Essas são tarefas impossíveis de serem feitas com a ajuda de uma bengala ou um cão-guia”, afirma a pesquisadora.
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PAISAGEM SONORA
O cientista Amir Amedi exibe dispositivo que transforma imagens
em sons; lançamento comercial está previsto para 2015
O BrainPort V100 é um dos exemplos daquilo que os cientistas chamam de dispositivo de substituição sensorial – SSD, na sigla em inglês. Pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém trabalham atualmente em um aparelho que, por meio do som, poderá ajudar os quase 50 milhões de cegos no mundo a interagir com pessoas e objetos. A iniciativa, liderada por uma equipe de neurocientistas, já chegou a um protótipo avançado de óculos equipado com câmera e microcomputador para transformar as imagens em paisagens sonoras. “Trata-se de um som que contém informação visual”, afirma Amir Amedi, cientista que lidera o desenvolvimento do dispositivo, ainda sem nome comercial definido. “Essa paisagem sonora é criada por um algoritmo de conversão que transforma as diferentes figuras em algo audível”, diz ele. Assim como a imagem de um código de barras é convertida por um computador em outra informação – descrição do produto e preço, por exemplo –, os neurocientistas provaram que o som pode ser interpretado pelo cérebro como informação visual, embora não se traduza em visão propriamente dita.
Após duas horas de treinamento, os voluntários na pesquisa da universidade foram capazes de reconhecer letras e palavras simples. Depois de cerca de setenta horas de aprendizado, os resultados foram ainda mais impressionantes: os pesquisados conseguiram saber se uma sala estava cheia de gente, se as pessoas estavam de frente ou de costas e se estendiam a mão para cumprimentá-los ou não. Os deficientes que passaram pelo treinamento completo chegaram a um nível tão avançado que conseguiram “enxergar” as diferenças entre um rosto que expressava alegria, tristeza ou raiva. Segundo Amedi, essa pesquisa dará origem, já no próximo ano, a um aplicativo para celulares batizado de EyeMusic. O software poderá ser usado por deficientes visuais e fará reconhecimentos simples. O aparelho completo, com câmera e óculos, deve ser colocado à venda até 2015. E muita gente vai poder “ouvir” imagens.
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Fotos: Michael Brown/Outside; Divulgação

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