♦ Por quase 50 anos, a missão Voyager 1 da NASA competiu pelo título de pequeno motor do espaço profundo que podia. Lançada em 1977 junto com sua gêmea, a Voyager 2, a espaçonave está agora a mais de 15 bilhões de milhas da Terra.
Em suas jornadas pelo sistema solar, as espaçonaves Voyager enviaram imagens surpreendentes para a Terra - de Júpiter e Saturno, depois de Urano e Netuno e suas luas. A foto mais famosa da Voyager 1 talvez seja a que o famoso astrônomo Carl Sagan chamou de "pálido ponto azul", uma imagem solitária da Terra tirada a 6 bilhões de milhas de distância em 1990.
Mas a jornada da Voyager 1 pode estar chegando ao fim. Desde dezembro, a espaçonave - que pesa menos do que a maioria dos carros - tem enviado mensagens sem sentido para a Terra, e os engenheiros estão se esforçando para resolver o problema. A Voyager 2 continua operacional.
Fran Bagenal é cientista planetária do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial (LASP) da Universidade da Califórnia em Boulder. Ela começou a trabalhar na missão Voyager durante um emprego de estudante de verão no final da década de 1970 e tem acompanhado de perto as duas espaçonaves desde então.
Para comemorar a Voyager 1, Bagenal reflete sobre o legado da missão - e qual planeta ela quer visitar novamente.
🔹 MUITOS ESTÃO IMPRESSIONADOS COM O FATO DE A ESPAÇONAVE TER CONTINUADO A FUNCIONAR POR TANTO TEMPO. VOCÊ CONCORDA?
O computador da Voyager 1 foi montado na década de 1970 e há muito poucas pessoas que ainda usam essas linguagens de computação. A taxa de comunicação é de 40 bits por segundo. Não são megabits. Não são kilobits. Quarenta bits por segundo. Além disso, o tempo de comunicação de ida e volta é de 45 horas. É incrível que eles ainda estejam se comunicando com ele.
🔹 COMO FOI TRABALHAR NA VOYAGER DURANTE OS PRIMEIROS DIAS DA MISSÃO?
No início, usávamos cartões perfurados de computador. Os dados estavam em fitas magnéticas e imprimíamos gráficos de linhas em bobinas de papel. Era muito primitivo.
Mas, planeta por planeta, a cada sobrevoo, a tecnologia se tornou muito mais sofisticada. Quando chegamos a Netuno, em 1989, estávamos fazendo ciência em computadores muito mais eficientes, e a NASA apresentava seus resultados ao vivo para todo o mundo por meio de uma versão inicial da Internet.
Pense nisso: passar de cartões perfurados para a Internet em 12 anos.
🔹 COMO A ESPAÇONAVE VOYAGER MOLDOU NOSSA COMPREENSÃO DO SISTEMA SOLAR?
Em primeiro lugar, as imagens eram de cair o queixo. Foram as primeiras imagens de alta qualidade e em close-up dos quatro planetas gigantes gasosos e suas luas. As Voyagers realmente revolucionaram nossa maneira de pensar, indo de um planeta a outro e comparando-os.
As nuvens brancas e alaranjadas de amônia de Júpiter e Saturno, por exemplo, foram violentamente varridas por ventos fortes, enquanto os sistemas climáticos mais amenos de Urano e Netuno foram ocultados e coloridos de azul pelo metano atmosférico. Mas as descobertas mais dramáticas foram os vários mundos distintos das diferentes luas, desde as crateras de Calisto e a vulcânica Io de Júpiter até a turva Titã de Saturno e as plumas em erupção em Tritão, uma lua de Netuno.
Desde então, os sistemas de Júpiter e Saturno têm sido explorados com mais detalhes por missões em órbita - Galileo e Juno em Júpiter, Cassini em Saturno.
🔹 A VOYAGER 2 É A ÚNICA ESPAÇONAVE QUE VISITOU URANO E NETUNO. PRECISAMOS RETORNAR?
Meu voto é retornar a Urano - o único planeta em nosso sistema solar que está virado de lado.
Antes da Voyager, não sabíamos se Urano tinha um campo magnético. Quando chegamos, descobrimos que Urano tem um campo magnético que é severamente inclinado em relação à rotação do planeta. Esse é um campo magnético estranho.
Júpiter, Saturno e Netuno emitem muito calor por dentro. Eles brilham no infravermelho, emitindo duas vezes e meia mais energia do que recebem do sol. Essas coisas são quentes.
Urano não é o mesmo. Ele não tem essa fonte interna de calor. Portanto, talvez, apenas talvez, no final da formação do sistema solar, bilhões de anos atrás, algum objeto grande tenha atingido Urano, virado de lado, agitado e dissipado o calor. Talvez isso tenha gerado um campo magnético irregular.
Esses são os tipos de questões que foram levantadas pela Voyager há 30 anos. Agora precisamos voltar atrás.
🔹 CULTURALMENTE, O IMPACTO MAIS DURADOURO DA VOYAGER 1 PODE SER O "PÁLIDO PONTO AZUL". POR QUÊ?
Tenho um enorme respeito por Carl Sagan. Eu o conheci quando tinha 16 anos, um estudante do ensino médio na Inglaterra, e apertei sua mão.
Ele apontou para a imagem da Voyager e disse: "Aqui estamos. Estamos deixando o sistema solar. Estamos olhando para trás, e há esse ponto azul-claro. Somos nós. São todos os nossos amigos. São todos os nossos parentes. É onde vivemos e morremos".
Essa foi a época em que estávamos começando a dizer: "Espere um minuto. O que estamos fazendo com o nosso planeta Terra?" Ele estava despertando ou reforçando essa necessidade de pensar sobre o que os humanos estão fazendo com a Terra. Ele também evocou o motivo pelo qual precisamos explorar o espaço: para pensar sobre onde estamos e como nos encaixamos no sistema solar.
🔹 COMO ESTÁ SE SENTINDO AGORA QUE A MISSÃO DA VOYAGER 1 PODE ESTAR CHEGANDO AO FIM?
É incrível. Ninguém pensou que eles chegariam tão longe. Mas com apenas alguns instrumentos funcionando, por quanto tempo mais poderemos continuar? Acho que logo chegará a hora de dizer: "Muito bem, muito bem. Trabalho extraordinário. Muito bem."
Fornecido pela Universidade do Colorado em Boulder
🌏 Créditos/fonte/Publicação: por Daniel Strain, Universidade do Colorado em Boulder. phys.org
📷 Crédito imagem: Pixabay/CC0 Domínio Público
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