A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

E disse Deus, haja Luz...e houve Energia


   A matéria não existe; tudo o que existe é energia

A energia é e está em tudo. Sem ela, nada poderia subsistir
Leonardo Boff
Este título diz uma obviedade para quem entendeu minimamente a  Teoria da Relatividade de Einstein, na qual se afirma a equivalência de matéria e energia. Matéria é energia altamente condensada que pode ser liberada, como o mostrou, lamentavelmente, a bomba atômica. 

A ciência percorreu, mais ou menos, este percurso: da matéria chegou ao átomo, deste, às partículas subatômicas, destas, aos "pacotes de onda" energética, destes, às supercordas vibratórias, em 11 dimensões ou mais, representadas como música e cor.

Um elétron vibra mais ou menos 500 trilhões de vezes por segundo. 
Vibração produz som e cor. 
O universo seria, pois, uma sinfonia. 


Das supercordas chegou-se, por fim, à energia de fundo, ao vácuo quântico.

Nesse contexto, sempre lembro de uma frase de W. Heisenberg, um dos pais da mecânica quântica, num seminário na Universidade de Munique, em 1968, que me foi dado seguir: 

"O universo não é feito por coisas, mas por redes de energia vibracional, emergindo de algo mais profundo e sutil". Que é esse "algo mais profundo e sutil"? 

Os físicos quânticos e astrofísicos chamaram de "energia de fundo" ou "vácuo quântico". O vácuo representa a plenitude de todas as energias e suas eventuais densificações nos seres. Dai se preferir hoje a expressão "pregnant void" (o vácuo prenhe) ou a "fonte originária de todo o ser"

Não é algo que possa ser representado nas categorias convencionais de espaço-tempo, pois é anterior a tudo o que existe, anterior ao espaço-tempo e às quatro energias fundamentais: 

  • a gravitacional
  •  a eletromagnética
  •  a nuclear fraca e forte.
Astrofísicos imaginam-no como uma espécie de vasto oceano, ilimitado, indescritível e misterioso no qual estão hospedadas todas as possibilidades e virtualidades de ser. De lá emergiu, sem que possamos saber por que e como aquele pontozinho prenhe de energia, inimaginavelmente quente que explodiu (big bang), dando origem ao universo. Nada impede que daquela energia de fundo tenham surgido outros pontos, gestando também outras singularidades e outros universos paralelos ou em outra dimensão.

Com o surgimento do universo, irrompeu simultaneamente o espaço-tempo. 

O tempo é o movimento da flutuação das energias e da expansão da matéria. O espaço não é o vazio estático dentro do qual tudo acontece, mas aquele processo continuamente aberto que permite às redes de energia e aos seres se manifestarem. 

A estabilidade da matéria pressupõe a presença de uma poderosíssima energia subjacente que a mantém nesse estado.
Nós percebemos a matéria como algo sólido porque as vibrações da energia são tão rápidas que não alcançamos percebê-las. Para isso nos ajuda a física quântica, exatamente porque se ocupa das partículas e das redes de energia.

A energia é e está em tudo. Sem energia, nada poderia subsistir. Como seres conscientes e espirituais, somos uma realização complexíssima, sutil e extremamente interativa de energia.

Que é essa energia de fundo que se manifesta sob tantas formas? 
Não há nenhuma teoria científica que a defina. Precisamos da energia para definir a energia. Não há como escapar dessa redundância, notada já por Max Planck.Essa energia talvez constitua a melhor metáfora do que significa Deus, cujos nomes variam, mas que sinalizam a mesma energia subjacente.

A singularidade do ser humano é poder entrar em contato consciente com essa energia. Ele pode invocá-la, acolhê-la e percebê-la na forma de vida, irradiação e entusiasmo


                                                                                                   Leonardo Boff


Publicado no Jornal O TEMPO em 01/10/2010



“Bom dia. Talvez você seja um desses milhões de seres humanos que acabam de acordar no meio da cidade, um pouco deprimidos, um pouco entediados com a vida cotidiana. Bem, é hora de dar play no vídeo acima e ver o preview da nova série da BBC, ‘Human Planet‘. Ligue os alto-falantes. Mudará seu dia”.



Assista no You Tube


EPISODIO 1 - EXISTE UM CRIADOR?


EPISODIO 2 - O Enigma dos Buracos Negros


EPISODIO 4 - O que houve antes do principio?

EPISODIO 5 - Como chegamos até aqui?


EPISODIO 6 - Estamos sós?


EPISODIO 7 - Do que realmente somos feitos
EPISODIO 8 - Alem da escuridao



domingo, 27 de fevereiro de 2011

Watson o Supercomputador


    Elementar meu caro "Watson"


Após quatro anos de desenvolvimento, a IBM na semana passada publicamente revelado um sistema de computação que se especializou em analisar a linguagem humana natural e respondendo a perguntas complexas.
 

"Criamos um sistema que possa interagir de uma maneira muito especial", disse ele na manifestação. "As pessoas passam suas vidas tentando avançar [no campo da inteligência artificial] por centímetros. O que Watson não tem demonstrado a capacidade de avançar no campo da inteligência artificial, por milhas. "


Não é a primeira vez que a IBM tem usado o seu know-how tecnológico para colocar as pessoas contra os computadores. O anúncio da Watson traz de volta memórias de Deep Blue, o supercomputador que, após alguns reveses iniciais, chegou a derrotar o campeão mundial de xadrez Gary Kasparov. As semelhanças param por aí. 

Watson é capaz de analisar rapidamente a linguagem humana natural, vasculhar seus cerca de 200 milhões de páginas de conteúdo armazenado - cerca de 1 milhão de livros vale a pena - e encontrar uma resposta com toda a confiança em menos de 3 segundos.


É esse fator humano que faz Watson tão inovador ainda de uma maneira também um pouco perturbador, perfeitamente secundado pela vinheta de um espaço vazio entre os dois competidores no palco. Em um ponto, ao terminar a última pergunta na categoria "Girls Dig Me", Watson fez até uma brincadeira - fazendo com que a platéia explodir em risos e aplausos. 

Parece que a máquina da IBM não foi apenas esperto, ele era engraçado 

"[HAL 9000] é ficção científica", admitiu Ferucci. "Eu não acho que estamos perto disso ou indo nessa direção. Uma inspiração para este tipo de tecnologia de ficção científica, pelo menos para mim, é o computador em Star Trek. Eles construíram um sistema que ajuda você com suas necessidades de informação, compreende a sua pergunta, organiza e apresenta-lo de uma forma que você possa digeri-la rapidamente. "

Watson está em constante aperfeiçoamento, é claro. Kelly estima um aumento de 50% a cada 20 meses, passa de aprendizagem. Ferrucci foi rápida para lembrar ao público que estava no comando. 

Afinal, era o homem que construiu Watson, em primeiro lugar.





 

A semana na Ciência

A semana 1 - Uma corrida de robôs na Lua

O objetivo é motivar empresas e inventores a investir na

 exploração do satélite. O prêmio é de US$ 30 milhões e tem 

brasileiro na briga

André Julião
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O Brasil nunca esteve tão próximo de chegar à Lua. Até o meio de 2012, um time nacional liderado pelo empresário Sérgio Cabral Cavalcanti promete levar o primeiro veículo não tripulado privado até o satélite natural. Uma das motivações é um prêmio que pode chegar a US$ 30 milhões. Quem oferece a recompensa é o Google Lunar X Prize, concurso promovido pela gigante da internet e pela X Prize Foundation, organização sem fins lucrativos de estímulo à inovação.
A entrada da equipe brasileira ­SpaceMETA na corrida foi anunciada juntamente com a de outras seis, provenientes de países tão diferentes como EUA, Israel, Canadá, Hungria, Índia e Chile. No total, 29 times de várias partes do mundo estão na briga. Para a equipe ser considerada vencedora, a nave – ou um veículo secundário carregado por ela – deve percorrer pelo menos 500 metros e transmitir vídeos com qualidade para a Terra (leia quadro). Tudo isso até a meia-noite do dia 31 de dezembro de 2012. Se até lá ninguém conseguir tal feito, o prazo será estendido por mais dois anos, mas o prêmio será US$ 5 milhões menor.
“O nosso projeto tem grandes chances”, diz Cavalcanti, empresário do setor de tecnologia que sempre foi fascinado pela exploração espacial. Nascido em Natal (RN), desde pequeno ele assistia a lançamentos de foguetes no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), primeira base da Força Aérea Brasileira do tipo, localizada a 12 quilômetros da capital potiguar. “As empresas que não têm experiência nessa atividade vão trazer grandes inovações para o setor espacial”, diz.
A atual situação da exploração espacial americana é a maior prova disso. No ano passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, cancelou o projeto que sucederia os atuais veículos espaciais da agência espacial americana, a Nasa, abrindo o caminho para empresas privadas como a Space X. A empresa do sul-africano Elon Musk ganhou credibilidade ao lançar com sucesso dois foguetes em 2010. Outra pretendente ao posto de dona da galáxia é a Virgin, do megaempresário inglês Richard Branson. Ele espera faturar com o turismo espacial, apesar dos constantes adiamentos do voo inaugural da sua SpaceShip.
Não é à toa, portanto, que cada vez mais empresas investem nesse mercado ainda incipiente, mas que nutre grandes expectativas. Cálculos dos organizadores do Google Lunar X Prize estimam que um bilhão de pessoas assistirão à chegada da espaçonave campeã à Lua. O público é quase dez vezes maior que a audiência da final do campeonato de futebol americano, o Super Bowl, que em 2011 bateu o recorde de 110 milhões de telespectadores. Para se ter uma ideia, apenas 30 segundos no intervalo comercial do jogo custam US$ 3 milhões.
Para alcançar tamanha glória, o time brasileiro conta com tecnologias bem diferentes das que nos acostumamos a ver nos mais de 50 anos de domínio da Nasa na exploração espacial. Para começar, o foguete é movido a etanol – algo inédito na indústria aeroespacial. O motor a combustão, no entanto, só será acionado a cerca de 80 quilômetros do chão – ele será levado por um enorme balão até essa altura, o que garantirá uma economia de 40% no consumo de combustível.
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VISIONÁRIO
Cavalcanti investe em um foguete movido a etanol
O robô que vai explorar o solo lunar em nada se parece com os veículos com rodinhas que já passaram pelo satélite natural ou por Marte. O veículo brasileiro consiste de uma esfera cheia de molas e painéis de captação solar na parte externa. Por dentro, um computador. Sua grande inovação é que ele não precisará de energia para se locomover. As molas serão feitas de nitinol, uma liga metálica conhecida pela capacidade de voltar à forma original. Cada vez que receber luz do Sol, elas vão se expandir, e com a escuridão, se retrair. “Isso vai fazer com que ele trafegue eternamente pela Lua”, explica Cavalcanti. “O consumo de energia de toda a missão é muito baixo, o que dá uma grande vantagem ao nosso projeto”, diz.
É por isso que gente importante apoia o projeto. Cavalcanti garante que o conselho da SpaceMETA tem entre seus membros executivos de grandes empresas como Petrobras e Intel. Embora ainda não revele nomes, por impedimentos contratuais, ele promete para breve o anúncio de um grande investidor estrangeiro, “uma das maiores empresas de tecnologia do mundo”. É esperar para ver.
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A coluna da semana "Por que iríamos a Marte?"
Chuck Yeager, o homem que quebrou a barreira do som em 1947 não vê motivos para uma missão tripulada ao planeta vermelho
PETER MOON
Reprodução
Peter Moon 
O repórter especial de ÉPOCA vive No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia. petermoon@edglobo.com.br
Em 4 de outubro completaram-se 53 anos do lançamento do Sputnik, o primeiro satélite artificial, evento que deu início à corrida espacial e à conquista da Lua. Mas quem viu o filme Os Eleitos (The right stuff, 1983) sabe que a corrida ao espaço iniciou bem antes. Ela começou há exatos 63 anos, em 14 de outubro de 1947, quando um piloto de testes americano de 24 anos chamado Chuck Yeager entrou na carlinga do jato experimental X-1 Bell para quebrar a barreira do som sobre o deserto de Mojave, na Califórnia.
Yeager é uma lenda viva da aviação. Ás da Segunda Guerra Mundial, em 1944, com apenas 21 anos, Yeager pilotou um Mustang P-51 nos céus da Alemanha e derrubou 11 caças inimigos – cinco numa única missão. Com o fim da guerra, tornou-se piloto de testes. Após quebrar a barreira do som em 1947, pilotou todos os protótipos experimentais da Força Aérea dos Estados Unidos, tornando-se o maior piloto de testes da história. Yeager também treinou astronautas para a Nasa e comandou um esquadrão de combate na Guerra do Vietnã. Ele se reformou com a patente de brigadeiro-general em 1975.
Em 1979, o jornalista americano Tom Wolfe publicou um livro-reportagem de enorme sucesso chamado Os Eleitos. Para contar a história do início do programa espacial americano e a escolha dos astronautas do Projeto Mercury, Wolfe recuperou a saga de Yeager, o “Mr. Supersonic”, ou ainda “the fastest man alive”, como ficou conhecido. Daí para Hollywood filmar a história foi um passo.
Muitos décadas depois, em 2007, eu me lembrei dessa história e percebi que o aniversário dos 60 anos daquele vôo histórico se aproximava. Daí pensei, "será que Yeager continuaria vivo? Será que consigo entrevistá-lo?" Dei uma busca no Google e acabei encontrando o site da Fundação Chuck Yeager. Não é que havia um email para quem quisesse entrar em contato com o brigadeiro-general Charles E. “Chuck” Yeager? O email era do próprio Yeager, então com 84 anos. Ele me respondeu no mesmo dia, e acertamos uma conversa por telefone.
Eu estava preparado para falar com um sisudo militar reformado, e me surpreendi com um senhor extremamente simpático e bem-humorado do outro lado da linha, como se pode perceber nesta entrevista exclusiva de 2007. Pasmem, aos 84 anos, Yeager continuava pilotando caças supersônicos F-16 - ainda não usava óculos, como ele mesmo observou todo prosa. 

General, Sir, em primeiro lugar, gostaria de cumprimentá-lo pelos 60 anos da quebra da barreira do som. O que tem a dizer sobre isso? 
Chuck Yeager -
 Que estou ficando velho (risos)! Mas ainda não uso óculos e piloto F-15s e F-16s! Tenho muita sorte. 

Como foi romper a barreira do som? 
Yeager -
 Eu só estava pilotando um avião. Não ouvi o boom sônico dentro do cockpit. A onda de choque se forma nas asas e se estende para o solo – apenas aqueles que estão no solo conseguem escutá-la quando ela atinge o solo. Eu me senti satisfeito por ter cumprido com o meu trabalho. Só isso. 

As novas gerações têm em mente a figura do ator Sam Shepard no filme Os Eleitos pilotando o X-1 para quebrar a barreira do som, mesmo tendo quebrado algumas costelas numa queda de cavalo na noite anterior ao vôo. Aconteceu desse jeito mesmo? 
Yeager -
 O dia em que quebrei a barreira do som não foi o meu primeiro vôo no X-1. Costumava pilotá-lo duas vezes por semana. Eu pilotava uns 15 outros aviões todos os dias, em diferentes programas de testes. Por isso, o X-1 era um prazer de voar, porque levava o dia inteiro para fazê-lo. Aquele vôo em particular, eu creio que foi numa 3ª-feira.
Nos finais de semana, costumávamos ir ao bar da Pancho Barnes. O local tinha um bom restaurante. Levei minha esposa Glennis ali, acho que no sábado à noite. Nós adorávamos andar a cavalo, daí fomos cavalgar após o jantar, perseguindo um ao outro. No caminho de volta, alguém fechou o portão. Estava escuro e eu não vi, meu cavalo bateu na cerca e eu rolei no chão. Quebrei umas duas costelas. No domingo dei uma descansada e na 2ª-feira fui ver o médico na base. Ele disse: “Você tem duas costelas quebradas. Vou ter que enfaixá-lo”. Isso no fundo não fez muita diferença para pilotar o avião, porque pilotar não envolvia esforço algum além de segurar o manche com as mãos e manter pés nos pedais que controlam os flaps.
Arquivo
Sam Shepard ( esq.) e Yeager, em 1993, nas filmagens de Os Eleitos, com a rplica do X-1
Na Segunda Guerra, os pilotos caçavam o inimigo a curta distância, mas o combate aéreo de hoje é, na maioria das vezes, virtual. O piloto identifica no radar um ponto a 30 quilômetros de distância, dispara um míssil e pronto, tudo acabado. Os novos pilotos precisam das mesmas habilidades do passado? 
Yeager -
 Não, porque tudo é computadorizado. Quando a gente usa o radar para localizar um avião a 40 quilômetros de distância, tudo o que precisa fazer é armar o míssil e dispará-lo. Só isso. Você não precisa descobrir como manobrar o avião como se fosse um beija-flor. O míssil faz tudo sozinho. É muito, muito fácil derrubar aviões com mísseis. Não requer habilidade alguma. 

A Força Aérea americana desenvolve veículos aéreos de combate não-tripulados (UCAVs - Unmanned Combat Air Vehicles) para ser os bombardeiros autônomos da próxima década. Vários deles já estão atacando alvos no Afeganistão. O próximo passo é substituir os pilotos por computadores? 
Yeager -
 Sim. Já está acontecendo. Na base Nellis, da Força Aérea há seis ou oito cockpits onde os pilotos, através de um link de comunicação via satélite, controlam os Predators no Afeganistão. Os aviões-robôs são armados com mísseis ar-terra, e os pilotos vêem tudo o que o avião enxerga, podendo armar e disparar os mísseis. Estamos treinando muitos pilotos para operar estes zangões (os drones, como são chamados os aviões-robôs), tanto o Predator quanto o Global Hawk. Hoje, um único avião faz o mesmo que dez faziam no passado. Os pilotos estão virtualmente sentados dentro de veículos pilotados remotamente. 

O senhor acha isso bom, substituir o homem pela máquina? 
Yeager -
 Claro que acho. É muito bom, porque você não corre o risco de ser morto. Não precisamos expor nossos pilotos ao fogo inimigo. Esta é a principal razão, mas também é efectivo. Ainda mantemos esquadrões de F-15s e F-16s no Afeganistão e no Iraque. Mas todos os sistemas de direcção das bombas e mísseis são guiados por GPS, e são muito precisos. 

Com o Programa Constellation, a Nasa planeja voltar à Lua em 2020, como preparação para uma missão a Marte. O que acha disso? (Em fevereiro de 2010, o presidente Barack Obama cancelou a construção da base lunar e postergou indefinidamente o programa de uma missão à Marte) 
Yeager -
 Bom, se eu fosse da Nasa não iria gostar da minha resposta (risos). Eu acho um desperdício de dinheiro voltar à Lua para fazer uma colônia num lugar onde não existe ar nem água, fazendo da Lua um primeiro estágio para saltar na direcção de Marte. Por que nós iríamos querer ir até Marte? A Nasa faria muito melhor se continuasse a exploração não-tripulada, como fez com os jipes marcianos. Eles fizeram um belo trabalho com sistemas não-tripulados. Construir uma colônia na Lua com duas ou três centenas de pessoas lá dentro vai acabar num erro catastrófico. Se ocorrer alguma rachadura na estrutura, todos morrerão. A Nasa está desperdiçando dinheiro só para obter publicidade. É isso que eu acho!

USAF
Yeager, aos 74 anos, em 1997, ao pilotar um F-16 no 50º aniversário da quebra da barreira do som
O senhor sobreviveu a situações muito perigosas, como na manhã de 27 de outubro de 1947. Poderia contar o que aconteceu? 
Yeager -
 Você se refere a quando sofri uma pane elétrica geral? Recordo de estar confiante naquela manhã. Era um sentimento muito diferente daquele do vôo anterior, quando quebrei a barreira do som e estava apavorado, porque os meus colegas no solo achavam que eu seria desintegrado. Quando o cabo que me prendia ao B-29 foi solto e o X-1 mergulhou no vazio, tentei ligar o motor, mas nada aconteceu. Tentei outra chave. Nada de novo. Era uma pane elétrica total, mas eu não podia contar para ninguém porque o rádio estava inoperante. Eu estava despencando feito uma bomba, carregado com combustível suficiente para abrir uma enorme cratera no deserto 6 quilômetros lá embaixo.
Não podia pousar com aquele combustível todo, porque o X-1 não havia sido projetado para aterrissar com aquele peso a bordo. O que me salvou foi o fato de haver um sistema manual para abrir a válvula e esgotar todo o combustível. Aquilo deu certo! Havíamos tentado isso no solo e, felizmente, funcionou no ar. Como fui solto do B-29 a uma distância de planador do leito do lago seco, procurei planar aquele pássaro até que a última gota de combustível tivesse vazado, para então no último minuto pousar sem bater, o que consegui! 

Outra situação quase inimaginável ocorreu em 1963. É a cena final de Os Eleitos, quando o senhor quase morreu a bordo do Lockheed NF-104A Starfighter. Como foram os quatro minutos que se passaram entre o momento em que perdeu o controle do jato a 32 quilômetros de altitude até o instante que botou os pés no chão? 
Yeager -
 O F-104A era um ato Mach 2 (atingia duas vezes a velocidade do som). Eu o pilotei umas 40 vezes. Naquele dia em particular, voei de manhã, depois aterrissei e queria fazer outro vôo depois do almoço. Decolei cerca de 1h30 da tarde. Atingi 104 mil pés de altitude (31,7 km). O que aconteceu nesse vôo foi que, quando o avião reentrou a atmosfera num ângulo de ataque de 50 graus, eu não consegui abaixar o seu nariz. Ele jogou para cima e começou a girar sem controle.
Como não havia ar entrando pelos dutos, o motor morreu. Quando isso acontece, você perde a pressão hidráulica para controlar os estabilizadores, o aileron e o flap. Disse no rádio, “Estou com um problema sério! Simplesmente não há jeito de fazer essa coisa parar de girar!!!”. Estava com meu traje pressurizado. Não tinha outra alternativa a não ser me ejectar. 

Como fez para se safar? 
Yeager -
 Esperei até atingir os 6 mil pés de altitude (1.800 metros) para então me ejetar. O foguete do assento dispara você para fora do avião a uma velocidade de 160 km/h. Dois segundos após sair do avião, o cinturão que me prendia ao assento se abriu. Eu ainda caí outros 400 metros até o pára-quedas abrir. Neste momento, o assento que também estava caindo ficou emaranhado nas cordas do pára-quedas. A droga do assento bateu no meu capacete.
O que me atingiu foi a parte de trás do foguete do assento, que ainda estava queimando propelente. Quando isso aconteceu, ele espirrou propelente no meu traje pressurizado. Como no interior dele eu estava num ambiente com 100% de oxigênio, pegou fogo como se fosse uma tocha. O visor do meu capacete partiu e cortou o meu olho, enchendo-o de sangue - mas felizmente não atingiu o meu globo ocular.

Eu tinha uma queimadura muito feia no pescoço e no ombro. Era muito difícil respirar. Sabia que tinha que erguer o meu visor para cortar o fluxo de oxigênio e extinguir o fogo. Foi o que fiz. Dei então umas duas cambalhotas e bati no solo. Não conseguia ver quase nada e mal conseguia espirar por causa da fumaça e do fogo. Mas deu certo. Sobrevivi. 

Qual é o seu segredo? O que é preciso para manter a calma e encontrar uma saída numa hora dessas? 
Yeager -
 Como escrevi na minha autobiografia Voando nas Alturas, desde que o livro de Tom Wolfe foi publicado em 1979 a pergunta que mais me fazem e que mais me irrita é se existe essa tal de ‘coisa certa’ (do inglês right stuff). Parecem palavras sem sentido quando usadas para descrever as atribuições de um piloto. A questão me incomoda porque implica que alguém com a ‘coisa certa’ nasceu assim. Eu nasci com uma visão e coordenação anormalmente boas. Eu entendia de mecânica e do funcionamento das máquinas.

É da minha natureza permanecer calmo em lugares apertados. Isso é a ‘coisa certa’? O que sei é que trabalhei duro para aprender como voar. No final das contas, a grande razão pela qual eu era um piloto melhor do que a média era porque voei mais do que qualquer um. Se existe a tal "coisa certa" ao pilotar, ela é a experiência. O segredo do meu sucesso foi que, de uma forma ou de outra, eu sempre conseguia permanecer vivo para voar no dia seguinte. 

Em Os Eleitos tem-se a impressão de que o seu personagem ficou desapontado ao não ser escolhido como astronauta. Era verdade? 
Yeager -
 Não. Veja bem, para ser astronauta em 1959 era preciso ter diploma universitário, de engenharia, matemática ou ciências. Eu só tinha o colegial, portanto não tinha qualificação para ser astronauta. Mas não pensei no assunto. O fato é que não estava nem um pouco interessado. Aquilo não era pilotar, e eu adoro pilotar aviões. Não queria ser trancado numa cápsula e deixar alguém me fazer voar de um lugar para o outro. Aquilo não era voar, era cavalgar uma cápsula. Isso responde a sua pergunta. Os Eleitos não é um documentário. É entretenimento. O programa espacial começou em 1959 e eu havia saído da base aérea Edwards em 1954, depois de nove anos como piloto de testes. Fui para a Europa comandar um esquadrão de Sabres F-86. Sam Shepard é um ótimo ator. Foi muito interessante trabalhar no filme (Yeager faz uma ponta como Fred, o barman do bar de Pancho Barnes), mas há muito de Hollywood nele. Metade do filme não é verdade, é pura ficção. 

Qual foi o seu avião favorito? 
Yeager -
 Eu adoro o P-51 Mustang, porque o pilotei em combate. Mas hoje, quanto mais nova é a aeronave, melhor ela é. É o mesmo com os automóveis. Um carro novinho, cheio de tecnologia e de controles computadorizados, é melhor e mais fácil de dirigir que a versão mais antiga. 

O senhor conhece o Brasil? 
Yeager -
 Sim, fui ao Brasil em 1954 com os primeiros jatos. Estive no Rio de Janeiro e em São Paulo. Realizamos shows aéreos com os P-84. Gostei mais de São Paulo do que do Rio. Ainda tenho pedras semi-preciosas como topázios e águas-marinhas que comprei no Brasil. 

Que conselho daria a um jovem piloto? 
Yeager -
 Não se prenda a objetivos estreitos. Essa é a primeira coisa. Você pode dizer: “Quero ser astronauta quando crescer”. Se você se prender a esse objetivo, pode perder de vista todas as oportunidades a sua volta. Faça algo que você goste. Esqueça o quanto vai ganhar, pelo amor de Deus! Administre o seu estilo de vida para caber no seu orçamento. Tenha satisfação com o seu trabalho, isso é o principal. Todas as pessoas que conheço que tinham prazer com o trabalho foram boas no que fizeram. Isso inclui pilotar aviões.

USAF Mike Cassidy
Yeager aos 84 anos, em 2007
General, o senhor ainda pilota? 
Yeager -
 Claro que sim! Costumo pilotar P-51s e jatos com duas turbinas, sem problemas. Eu ainda não uso óculos! Passei 60 anos dentro de cockpits da Força Aérea e voei no assento dianteiro de todos os aviões que pilotei. Voei 206 modelos diferentes. Pilotei todos os modelos usados pela Força Aérea, incluindo os da Segunda Guerra e outros das forças aéreas da Alemanha, França, Inglaterra, Japão, Suécia e Rússia.
Diga-me, General, que tipo de comemoração está prevista para celebrar o 60o aniversário da quebra da barreira do som? 
Yeager - 
Não faço idéia. Provavelmente vou ter que pilotar um F-16 ou qualquer coisa do tipo. 

Falei novamente com Yeager em 2008, e ele me disse que a última vez que pilotou um supersônico foi em 14 de outubro de 2007, no 60o aniversário da quebra da barreira do som. Desde então, limita-se a decolar com o seu monomotor na Califórnia para ir pescar salmão no Alasca. Yeager tem hoje 87 anos.