A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

sábado, 31 de março de 2012

A caminho do tudo – Parte IX

A REVOLUÇÃO COPERNICANA
Copérnico : Detonando as esferas de Aristóteles



“Algumas pessoas, assim que ficarem sabendo deste livro que escrevi sobre a revolução das esferas universais, em que atribuo uma espécie de movimento ao globo terrestre, iram clamar para que me façam calar”.
Nicolau Copérnico



Amigos, parece título de episódio da série Dragonball Z, reconheço, mas como sugeri no inicio do blog, somos todos filhos de Nicolau. Nicolau Copérnico viveu 80 anos em uma época de investigação e descoberta sem precedentes. Nasceu na cidade Polonesa de Torun e estudou em Cracóvia, Bolonha e Pádua antes de retornar à sua terra natal. Nessa época ele já tinha aprendido como funcionava a astronomia de Ptolomeu. Quanto mais estudava o modelo de Ptolomeu, menos ficava satisfeito com ele. Para ele, era um simples modelo do sistema solar centrado na Terra, Que não explicava o movimento dos planetas que eram observados. Entre as dificuldades, citava:

• Se as trajetórias das trajetórias são círculos perfeitos, por que Marte, Júpiter e Saturno as vezes parecem “retroceder”em seus caminhos através dos céus;

• Por que os planetas parecem girar mais depressa a mais devagar quando se movem em suas órbitas;


• Se todos os planetas giram em torno da Terra em trajetórias circulares, isso significa que estão a mesma distância de nós, Por que Marte e Júpiter variam tanto em brilho no decorrer de um ano?

A fim de explicar essas observações o modelo de Ptolomeu precisava de alguns ajustes. Em vez de se mover em círculos simples à volta da terra, se achava que cada planeta também se movia em um ou mais círculos pequenos conhecidos como epiciclos.



Para Copérnico essa mistura de órbitas parecia ser “grosseira e deselegante” e ofereceu uma solução mais simples : talvez o sol e não a Terra, fosse o centro do sistema solar. Essa idéia de o Sol ser o centro do sistema solar já tinha sido sugerido por alguns antigos astrônomos Gregos, como em alguns textos sugeridos, por Aristarco de Samos. Entretanto ninguém elaborou os detalhes da teoria, e a idéia foi abandonada.

E sua grande sacada, Copérnico percebeu que um sistema centrado no Sol resolvia muitos dos problemas que perturbavam o modelo de Ptolomeu. As variações no brilho e velocidade dos planetas do ponto de vista de uma Terra em movimento, agora faziam sentido.



Havia, é claro, algumas perguntas à serem respondidas pelo modelo de Copérnico, muitas delas baseadas no “senso comum”. Se a Terra realmente se move porque a Jabulani jogada pra cima, cai no mesmo ponto de onde foi lançada? Por que os pássaros não são lançados para trás contra o sentido de movimento da Terra? O próprio Aristóteles já tinha sido hilário devido a essas idéias.

Copérnico tinha uma resposta: a atmosfera da Terra não precisava ser transportada junto com ela, e assim nenhum movimento pode ser observado( galera, somente o Sir. Isaque Newtom responderia de forma mais clara esta questão com seu principio da inércia).

E havia mais dúvidas: se a terra se movia em volta do Sol, as estrelas deveriam parecer mudar de posição no decorrer de um ano. Esclarecendo: imagine você caminhando na floresta amazônica, enquanto em movimento, as árvores próximas parecem mudar de posição em relação as árvores mais distantes atrás delas. Mas, porém, contudo, todavia e entretanto, nenhuma mudança assim foi vista nas posições das estrelas. E, se a Terra se move em uma grande órbita, ela teve estar mais perto de certas estrelas em certas épocas no ano; portanto, as estrelas deveriam mudar de luminosidade no decorrer das estações. A resposta, raciocinou Copérnico, é que as estrelas devem estar muito longe em comparação com o nosso sistema solar, brilhante no pensar. Essa visão de universo infinito era um afastamento radical da visão popular medieval, fantástico.

Alguns mitos surgirão em volta da revolução copernicana:

• O sistema heliocêntrico resolveria todos os problemas da astronomia com uma só tacada; Comentário: não foi bem assim, afim de observar com precisão os movimentos observados do sol, da luz e dos planetas, ele também precisava de epiciclos.

• Os lideres religiosos eram contrários a um sistema centrado no sol por que privava a humanidade de um lugar “especial”no universo; Comentário: De fato o centro do universo de Aristóteles estava reservado para o CAPIROTO ( não confundam com o Petillo) e seus anjos; a idéia da Terra em movimento era muito perturbadora e havia uma certa relutância em aceitar o “infinito cosmos” proposto pelo modelo de Copérnico.


Copérnico deveria estar se borrando..... de medo por não publicar sua teoria. Somente na velhice ele permitiu que a sua grande obra, De Revolutionibus Orbium Celestium ( Sobre as revoluções das esferas celestiais ), fosse publicada; um exemplar completo foi lhe apresentado em seu leito de morte, causando um infarto fulminante ( a segunda parte, a do infarto, é mentirinha tá ). Sem o seu conhecimento , seu editor acrescentou um prefácio, ou uma declaração afirmando que o sistema heliocêntrico era apenas um modelo teórico, estava com medinho de virar churrasco também!

Mas acho que Copérnico sabia era mais que apenas uma abstração. Completando o senso de equilíbrio do modelo ele escreveu que “descobrimos nesse arranjo organizado a maravilhosa simetria do universo, e uma firme e Harmoniosa conexão entre o movimento e o tamanho das esferas (...). A pura elegância do modelo heliocêntrico, a idéia, não os detalhes, foi suficiente para convencê-lo de que se tratava de uma verdadeira descrição da natureza.

Devemos muito a esse homem, tudo começou com ele e somos todos filhos do brilhante e medroso NICOLAU COPÉRNICO cujas idéias serviram de base para o desenvolvimento da física pelos cientistas que o sucederam seus “herdeiros intelectuais”.

Beleza de história, já estou estudando o próximo post. O título é: Tycho apenas Um GRANDE observador.

O que têm de bom?
* Apenas um ano de contato com Kepler foi necessário para Kepler estudar e escrever as leis que regem a mecânica celeste;

O que têm de ruim?
* Sua vida social; primeiro perdeu um talho do nariz em um duelo. Sua morte foi por causa de uma infecção urinária, motivo, etiqueta. Mais esta é uma outra história. Aguardo vocês.


Einstein estava certo

30/03/2012 - 15h32

Estudo mostra que Einstein estava certo sobre a expansão do Universo

  •  Albert Einstein
    Albert Einstein
Um estudo publicado nesta sexta-feira ressalta os acertos dos cálculos do físico alemão na hora de explicar a expansão do Universo. A  conclusão surge de uma pesquisa feita por uma equipe de físicos da Universidade de Portsmouth (sul da Inglaterra) e do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre da Alemanha, cujos resultados foram anunciados nesta sexta-feira em um encontro nacional de astronomia na Universidade de Manchester (Inglaterra).

Assim, a expansão do Universo poderia ser explicada mediante a teoria de Einstein e a constante cosmológica, uma combinação que representa a resposta "mais simples" para este fenômeno, segundo os especialistas.

Os pesquisadores se centraram no período compreendido entre 5 bilhões e 6 bilhões de anos, quando o Universo tinha quase a metade da idade de agora, e realizaram medições com uma precisão "extraordinária".

A Teoria da Relatividade de Einstein prediz a velocidade pela qual galáxias muito afastadas entre si se expandem e se distanciam entre si, e a velocidade com a qual o Universo deve estar crescendo na atualidade.

Estes resultados são, segundo a pesquisadora Rita Tojeiro, "a melhor medição da distância intergaláctica já feita, o que significa que os cosmólogos estão mais perto que no passado de compreender por que a expansão do Universo está se acelerando".

Neste processo parece ter um grande protagonismo a energia do vazio, relacionada com o período inicial da expansão, e segundo alguns astrofísicos também com a aceleração da expansão do Universo.

Na opinião de Rita, o melhor da Teoria Geral da Relatividade de Einstein é que ela pode ser comprovada e que os dados obtidos neste estudo "são totalmente consistentes" com a noção de que esta energia do vazio é a responsável pelo efeito de expansão.

Segundo os especialistas, esta confirmação ajudará os cientistas a compreender melhor o que é que causa este misterioso processo e por que ele acontece.

Eles também esperam avançar na pesquisa da matéria escura, aquela que não emite suficiente radiação eletromagnética para ser detectada com os meios técnicos atuais, mas cuja existência pode ser deduzida a partir dos efeitos gravitacionais que causa na matéria visível, tais como as estrelas e as galáxias.

Os físicos calculam que a matéria escura representa cerca de 20% do Universo, e o estudo publicado nesta sexta parece apoiar sua existência.

"Os resultados não mostram nenhuma evidência de que a energia escura seja simplesmente uma ilusão fruto de nosso pobre entendimento das leis da gravidade", acrescentou Rita.

Uma melhor compreensão da matéria escura ajudaria a entender por sua vez de que são feitos os buracos negros.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Zenão de Eléia




Zenão de Eléia (489 - 430 a.C)

Sabemos pouco sobre a vida de Zenão de Eléia e dos seus pensamentos foram conservados poucos fragmentos. Das suas concepções conhecemos algumas coisas graças sobretudo ao que contêm nos diálogos platônicos Parmênides, no livro Vida dos Filósofos de Diógenes Laércio e nos escritos de Física de Aristóteles.

Ele é conhecido sobretudo pelos paradoxos formulados basicamente sobre a tese da impossibilidade do movimento que hoje são conhecidos como paradoxos de Zenão. Seguindo as pegadas de seu mestre Parmênides, através da dialética, ele tenta afirmar a teoria da imutabilidade do ser reduzindo ao absurdo o seu contrário. A tese contestada por Zenão é a tese dos Pitagóricos que acreditam na multiplicidade do ser em relação ao seu número. Contesta também a tese de Anaxágoras, seu contemporâneo.

Zenão foi discípulo de Parmênides e coloca a serviço de seu mestre seus conhecimentos lógicos inventando vários argumentos com o objetivo de desacreditar os críticos da visão de mundo exposta por Parmênides, com quem visitou Atenas e conheceu Sócrates.

Os paradoxos mais famosos de Zenão são os que buscam demonstrar a inexistência do movimento.  Eles são descritos por Aristóteles nos seus estudos sobre Física. O método de Zenão consiste em assumir como certas as hipóteses das teses dos seus adversários e partindo dessas hipóteses ele chega a conclusões contraditórias e inaceitáveis, buscando assim desacreditar os argumentos de seus antagonistas.

Dos paradoxos, ou aporias (estradas sem saída), criadas por Zenão o mais famoso é o de Aquiles (um dos mais fortes e rápidos guerreiros gregos) e a tartaruga. Mesmo sendo um rápido corredor Aquiles não poderá jamais numa corrida ultrapassar uma lenta tartaruga que está correndo à sua frente pois ao se aproximar da tartaruga esta já percorreu um certo espaço, quando Aquiles percorre esse espaço, a tartaruga percorreu outro espaço menor, quando Aquiles percorre essa segunda distância, a tartaruga já andou um percurso menor ainda e assim sucessivamente em movimentos infinitos e cada vez menores. Conclusão de Zenão: Aquiles pode se aproximar cada vez mais da tartaruga, mas não a ultrapassa jamais. Um argumento similar a esse é o da dicotomia (divisão por dois): Quando existe um movimento de um corpo de um ponto A em direção a um ponto B, antes do corpo atingir B ele deve percorrer metade do caminha entre A e B, depois deve chegar até a metade da metade do caminho de A a B e assim o corpo segue numa divisão infinita entre as duas distâncias sem nunca chegar ao ponto B como ilustrado abaixo.
A--------------------A1----------A2-----A3--- --B

A dicotomia demonstra a impossibilidade do movimento porque quando alguma coisa se move ele deve chegar primeiro ao estágio intermediário antes de chegar à sua meta. Por exemplo, suponhamos que um objeto se move de A a B, para chegar ao ponto B o objeto deve antes atingir o ponto intermediário B1, mas antes de chegar a B1 deve chegar ao ponto B2 que é a metade da distância entre A e B1,  para chegar a B2 também deve antes chegar ao ponto B3. Esse movimento vai ao infinito demonstrando que o movimento não pode ser iniciado conforme ilustra a figura abaixo:

A-----B3-----B2----------B1--------------------B

Estes paradoxos expostos por Zenão se baseiam sobre o conceito de divisão infinita do espaço, segundo essa divisão podemos decompor o espaço em um número infinito de pontos. Ele igualava o espaço real e físico ao espaço abstraído pela nossa mente. O filósofo não fazia distinção entre esses dois planos. Para ele o plano ideal do nosso pensamento era diretamente relacionado à realidade, criando assim uma relação confusa entre o espaço físico e o espaço geométrico. A visão virtual da geometria é diretamente relacionada com a matéria física, criando assim os paradoxos.


Veja onde nasceu Zenão, atual Velia na Itália - Clique Eléia


Arildo Luiz Marconatto

quarta-feira, 28 de março de 2012

Watch the Planets Line Up With Crescent Moon in Rare Conjunction



Planetary Conjunction NASA/JPL

Look toward the west tonight and you’ll see Jupiter and Venus together, lining up with the crescent moon in a rare and beautiful conjunction. Venus is so bright you can see it during the day today, a few degrees above the sun, just like Abraham Lincoln famously did during his second inauguration. Cloudy skies? No problem — check here for a live feed of this event.
On March 4, 1865, crowds attending Lincoln’s inauguration noticed a bright star in the daytime sky, and even Lincoln himself pointed to it, according to an account posted at Space.com. Lincoln bodyguard Sergeant Smith Stimmellater described it thusly:

“It was a little after midday at the time I saw it, possibly near one o'clock; the sun seemed to be a little west of the median, the star a little east. It was a strange sight. I never saw a star at that time in the day before or since. The superstitious had had many strange notions about it, but of course it was simply owing to the peculiarly clear condition of the atmosphere and the favorable position of the planet at that time. The President and those who were with him in the carriage noticed the star at the same time.”

Good for Stimmellater for pointing out the physics and ignoring the superstitious. For hundreds of years, this alignment would have sparked talk of bad omens, but today it just looks lovely. It will be the best Venus-Jupiter conjunction for years to come, so enjoy the view.

segunda-feira, 26 de março de 2012

“Somos poeira de estrelas”


Todos os átomos do nosso corpo e do universo que nos cerca foram forjados há bilhões de anos, no coração de estrelas que explodiram
PETER MOON
 Peter Moon Repórter especial de ÉPOCA vive No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia.  petermoon@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
“Somos poeira de estrelas”. A frase é do cosmologista Carl Sagan (1934-1996) e foi celebrizada na série “Cosmos”, de 1980. Sagan era um cientista brilhante e divulgador da ciência melhor ainda. Ele tinha o dom de sintetizar em frases inspiradas todo o sentido do maravilhoso que percebia na observação do universo. Assim, a Terra tornou-se aquele “pálido ponto azul” (pale blue dot) onde vivemos, um grão rochoso contaminado pela vida e orbitando uma estrela comum, como tantas bilhões de outras, num braço de uma galáxia em espiral chamada Via Láctea, que se confundia com as outras bilhões de galáxias do universo.
Ainda assim, e apesar do nosso pálido ponto azul ser um nada no oceano cósmico, seja na tevê seja em seus livros Sagan fazia a Terra reluzir como um brilhante precioso, por ser o berço da vida como a conhecemos, o berço da nossa espécie e a espaçonave que nos transporta em uma valsa celestial. Ao afirmar e reafirmar a preciosidade do nosso planeta, Sagan jamais usou este argumento para defender o indefensável, que a vida seria exclusiva da Terra. Ele, mais do que ninguém, defendeu a certeza estatística incontornável de que o universo está coalhado de vida e civilizações avançadas. Sagan usou a literatura para ilustrar essa certeza, no romance “Contato”, de 1985. “O universo é um lugar muito, muito grande”, diz Jody Foster no filme homônimo de 1997. “Se só existisse vida aqui na Terra, então o universo seria um enorme espaço desperdiçado.”
Mas não é. A prova é que estamos aqui, usando a imaginação para entender a natureza e sonhar com as possibilidades de vida em outros mundos. Outra prova está na universalidade das leis da física, que tanto determinam a formação de espirais de espuma quando se mexe com a colherinha numa xícara de café, quanto influem na dança das galáxias.

Os ingredientes da vida
Uma terceira prova de que o universo não é um enorme desperdício de espaço está na origem da matéria, a origem dos átomos aprisionados nas moléculas que constituem cada uma das 100 trilhões de células do corpo humano. Cada célula humana é constituída por uns 10 quadrilhões de átomos. E cada um destes foi forjado no coração de estrelas há muito extintas.
Não estou me referindo apenas aos átomos do seu e do meu corpo, mas também aos átomos de toda a humanidade, de todas as formas de vida, dos vírus à baleia-azul, assim como o ar que respiramos, o sapato que calçamos, o solo onde pisamos, a crosta terrestre que flutua sobre o manto de rocha liquefeita que forma a interior da Terra, os outros planetas do sistema solar, os bilhões de planetas das 100 bilhões de estrelas da Via Láctea, apenas uma entre as 400 bilhões de galáxias do universo visível... Todos estes átomos foram forjados no núcleo de estrelas que explodiram.
O oxigênio e o nitrogênio que respiramos; o carbono que é a base da vida; o cálcio de nossos ossos; o sódio, o fósforo, o magnésio, o iodo e o potássio essenciais ao organismo; o ferro e o alumínio das máquinas; o cobre dos fios elétricos e o silício dos computadores... Todos estes elementos químicos saíram da fornalha atômica de supernovas, estrelas gigantes que, ao esgotar seu combustível, explodiram, semeando na vastidão interestelar os ingredientes dos planetas e da vida.
A vida evoluiu na Terra há mais de 3 bilhões de anos. Já a matéria que constitui a vida é muito mais antiga. Os elementos químicos forjados nas supernovas tiveram que vagar por centenas de milhões de anos no espaço em nuvens de poeira. Eventualmente, a atração gravitacional em algum ponto de uma nuvem forçou o início de um processo de concentração, atraindo os átomos da nuvem e concentrando-os num local que viria a atingir densidade e temperatura incríveis. Quando, naquele ponto da nuvem, os átomos de hidrogênio se encontravam tão próximos uns dos outros a ponto de se fundir - e a temperatura se elevou aos 10 milhões de graus - dois átomos de hidrogênio se fundiram para formar outro, de hélio, liberando energia. Esta energia precipitou a fusão de outros átomos de hidrogênio, desencadeando uma reação nuclear em cadeia. Nascia o Sol.
Com os planetas a história foi diferente. As porções da nuvem que estavam afastadas o suficiente do Sol para não ser tragadas pela sua atração gravitacional acabaram por se condensar na forma de planetas. Ali os elementos químicos forjados há bilhões de anos no seio de supernovas puderam dar início à geologia e à vida.
  
A forja elementar
O universo surgiu no Big Bang, a explosão primordial que lançou matéria e energia em todas as direções há 13,7 bilhões de anos. A temperatura infinita da explosão primordial foi suficiente para espalhar pelo universo só três elementos: o hidrogênio, o hélio e o lítio, os elementos mais leves, de números atômicos 1, 2 e 3, respectivamente, pois o átomo de hidrogênio possui apenas um próton solitário em seu núcleo, o hélio tem dois e o lítio, três.
Todos os demais elementos químicos, do elemento de número 4, o berílio, ao urânio de número 92, saíram das três gerações de supernovas que se sucederam desde o início dos tempos. Sua criação seguiu dois passos: a forja e a explosão.
O elemento mais abundante do universo é o hidrogênio. Ele é combustível nuclear das estrelas. Uma estrela pequena como o sol irá queimar o seu estoque de hidrogênio por 10 bilhões de anos (já se passaram 5 bilhões...) até o combustível esgotar e o Sol começar a se contrair e resfriar, tornando-se uma estrela anã-branca.
As estrelas cuja massa é, no mínimo, oito vezes maior que a do Sol têm uma vida mais curta e uma morte espetacular. O hidrogênio da estrela vai queimando e formando hélio. A fusão libera a cada instante uma energia equivalente a milhões de bombas atômicas explodindo simultaneamente. É esta energia incrível emitida do núcleo da estrela que impede que suas camadas externas dasabem em direção ao núcleo sob o efeito da força da gravidade. Assim, uma estrela pode ser definida como a luta incessante entre a fusão nuclear e a força da gravidade - um luta aonde a gravidade sempre vence.
No caso de estrelas muito grandes, a energia liberada no núcleo precisa ser maior para compensar a força gravitacional, que é também maior, dado o volume da estrela. A estrela começa queimando hidrogênio a 10 milhões de graus e produzindo hélio. A temperatura no núcleo vai aumentando até que o calor seja suficiente para começar a fundir átomos de hélio, criando lítio. O processo se repete como nos degraus de uma escada. Cada novo elemento precisa de temperaturas maiores para fundir e criar o elemento seguinte da tabela periódica. Assim chega a vez do elemento 6, o carbono, do oxigênio 8, do alumínio 13, do cálcio 20, e, por fim, do ferro 26. Neste ponto, a temperatura no interior da estrela é de 100 milhões de graus. Quando a estrela começa a produzir ferro, sua sorte está selada.

A explosão de vida
O fim da estrela chegou. Ao tentar fundir átomos de ferro para produzir o elemento seguinte, que seria o cobalto, a reação nuclear deixa de produzir energia suficiente para manter a coesão da estrela. É o momento em que a força da gravidade vence a luta, o instante em que a fusão nuclear acaba, e as camadas externas da estrela conseguem desabar livremente em direção ao núcleo. Como não há espaço para todo aquela matéria ocupar o mesmo lugar, a estrela explode em supernova.
As supernovas são as explosões mais cataclísmicas conhecidas dos astrônomos. No momento em que acontecem, alcançam temperaturas de vários bilhões de graus, suficiente para forjar todos os demais elementos naturais, do cobalto 27 ao urânio 92.
Quando a supernova ejeta ao espaço as suas camadas externas, ela está semeando o espaço interestelar com os elementos químicos que forjou. É a “poeira de estrelas” que Sagan tão bem descreveu de forma poética, a “poeira de estrelas” que um dia circulará em nosso sangue.

P.S.:
Os demais elementos, mais pesados que o urânio 92, não existem na natureza. Se foram criados no Big Bang ou em explosões de supernovas, desapareceram no instante seguinte. No caso do plutônio (o elemento 94), ele surge na forma de lixo das usinas nucleares. 
Já os novos elementos de número 113 (ununtrium) e 118 (ununoctium), recém-descobertos em 2010, são artificiais, assim como todos os elementos mais pesados que o urânio, à exceção do plutônio. Eles foram detectados durante os seus poucos milionésimos de segundo de existência, no meio dos escombros das colisões de átomos no interior dos aceleradores de partículas. Estes elementos são absurdamente instáveis. Só existem por um instante, decaindo assim que são criados para formar outros elementos estáveis, aqueles que constituem a matéria do universo em que vivemos.

domingo, 25 de março de 2012

A Semana na Ciência

O sonho do elevador espacial

Empresa japonesa anuncia plano de construir um veículo 

espacial puxado por cabos e volta a alimentar um velho sonho 

dos aventureiros espaciais

Hélio Gomes
Assista ao vídeo:
2012_03_22_ED3_ISTOE_ELEVADORESPACIAL_255.jpg
 A ideia é antiga, muito antiga. E já alimentou a imaginação de gênios da ficção científica como Arthur C. Clarke, autor do clássico “2001: uma Odisseia no Espaço”. Agora, graças aos avanços da ciência e à ousadia de investidores japoneses, o tão sonhado elevador espacial finalmente pode sair do papel. Desde que foi anunciado, há duas semanas, o projeto criado pela empreiteira Obayashi – uma das maiores do Japão, responsável pela construção da nova Tokyo Sky Tree, uma torre de 634 metros de altura – deixou os aficionados pelo espaço salivando. Mas há quem duvide da história.

Os cientistas consideram a ideia do elevador espacial viável desde os anos 90, depois do advento dos nanotubos de carbono, minúsculas estruturas cilíndricas capazes de formar um cabo resistente e longo o bastante para chegar ao espaço. Com o anúncio dos planos japoneses, a comunidade científica discute agora se uma previsão tão longínqua não pode ser apenas um blefe. Coincidentemente, o custo estimado da obra não foi divulgado. 

De qualquer forma, o conceito apresentado em Tóquio, que prevê a construção para 2050, dá detalhes animadores da máquina. Projetado para levar até 30 passageiros, o veículo viajaria numa velocidade média de 220 km/h, alcançando uma estação espacial localizada a 36 mil quilômetros da Terra. Acoplado a um cabo de nanotubos de carbono, ele usaria motores magnéticos para se locomover. Ao chegarem à estrutura construída no espaço, os viajantes ficariam hospedados em um hotel e teriam a chance de visitar laboratórios científicos nos quais estudos sobre o cosmos devem ser realizados.

No entanto, alguns blogueiros especializados duvidam do plano, alegando que a tecnologia atual ainda é incapaz de viabilizá-lo. Marc Boucher, do site thespaceelevator.com, é um deles: “Como outras empreiteiras japonesas, a Obayashi gosta de anunciar planos visionários e de longo prazo. Se a ideia não sair do papel logo, talvez, um dia, eles mostrem que estão falando sério”, resumiu o especialista. Só nos resta esperar.
img.jpg
A CABO
O conceito de elevador espacial apresentado por uma empreiteira japonesa


À espera de um milagre

Com o nível dos oceanos subindo por causa do aquecimento 

global, o arquipélago de Kiribati pode sumir e o governo já 

negocia terras em ilhas vizinhas para iniciar a migração em massa

Edson Franco
chamada.jpg
FÉ 
Sobre barragem feita para conter o avanço do mar, grupo católico
de kiribatianos reza para que Jesus volte e salve o arquipélago
Quando estiver pronto para receber a Copa de 2014, o estádio do Maracanã terá uma capacidade para 76 mil pessoas. Kiribati, país que ocupa um arquipélago no Pacífico, está se preparando para despachar dois Maracanãs lotados para uma nação vizinha. Isso porque as ilhotas correm o risco de chegar ao final deste século engolidas pelo oceano. O processo parece irreversível: o aquecimento global derrete calotas polares, o nível do mar sobe e cobre uma região cujo ponto mais elevado não passa dos sete metros. Se o plano de deslocar a população se concretizar, será a maior migração forçada pelo clima da história.

Todo começo de ano, os kiribatianos são lembrados de que a necessidade de arrumar as malas se aproxima. Cada vez mais violentas, as ondas invadem as ruas de areia do arquipélago, destroem casas, espalham lixo e criam gigantescas poças permanentes. Outras soluções foram imaginadas. Primeiro, cercar as ilhas com paredões, ao custo de US$ 1 bilhão cada um. Pelo dobro disso, o governo cogitou produzir ilhas artificiais e flutuantes, similares às plataformas de petróleo. Nenhuma das ideias se mostrou viável.

O presidente Anote Tong não viu outra saída que não bater na porta do governo das Ilhas Fiji e iniciar a negociação para a compra de uma área de 20 quilômetros quadrados para dar uma nova casa para os kiribatianos. Tong não planeja embarcar todos os seus conterrâneos de uma vez. “Eles precisam encontrar empregos, não na condição de refugiados, mas como imigrantes com habilidades para oferecer”, disse ele em entrevista ao Canal One, de Fiji. Para facilitar a adaptação dos kiribatianos ao novo território, o governo já colocou em prática o programa Educação para a Migração. 

De longe, moradores de outras ilhas acompanham com apreensão o caso de Kiribati. Se as previsões mais pessimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas se confirmarem, os oceanos chegarão ao final do século 59 cm mais altos. Isso varreria do mapa o arquipélago de Tuvalu e as Ilhas Maldivas. Por enquanto, os tuvaluanos ainda acreditam que diques e muros podem resolver o problema. Mais atento ao exemplo de Kiribati, o governo das Maldivas já estuda comprar terras em outros países. 

Para quem estuda os povos que se espalham pelas ilhas do Pacífico, o fato de as migrações forçadas pelo clima começarem por ali é um problema menor. Nascido nas Ilhas Fiji, o escritor e antropólogo Epeli Hau’ofa é autor do livro “Our Sea of Islands” (Nosso mar de ilhas), inédito no Brasil, e defende que os habitantes desses arquipélagos são historicamente grandes viajantes. A diferença é que, em vez de expandir seus horizontes, agora eles vão viajar porque a casa deles deixará de existir.
img.jpg

Testamento digital

Conteúdo gerado na internet por pessoas que já morreram vira 

caso de Justiça nos Estados Unidos e começa a ser discutido 

por usuários brasileiros

Larissa Veloso
chamada.jpg
VIDA APÓS A MORTE
A professora Karen Willians (abaixo) e a fotógrafa Thays Bittar tentam manter a memória de seus entes queridos
img.jpg
Gastamos boa parte de nossa vida digital produzindo, juntando e publicando vídeos, textos ou perfis espalhados pela internet, preferencialmente bem guardados por senhas. Os anos passam, os arquivos crescem e um dia a gente morre. E quem é o dono dessa herança e dessa memória digital que deixamos? 

Nos EUA a discussão ganhou força depois que a professora Karen Willians abriu um processo contra o site de relacionamentos Facebook para poder manter o perfil de seu filho, Loren, no ar. O rapaz morreu em 2005, aos 22 anos, em um acidente de moto. Como forma de relembrar o passado, ela conseguiu a senha e passou a acessar a conta do rapaz, lendo depoimentos de amigos e parentes. Mas, quando Karen mandou uma mensagem para a companhia pedindo instruções sobre como proceder para que o perfil não fosse exterminado, o site fechou o acesso para ela. A professora venceu a batalha judicial e, após dois anos, teve o acesso liberado, mas por apenas dez meses.

O caso abriu um precedente judicial, e o assunto começou a chamar a atenção dos legisladores americanos. Em 2010, o Estado de Oklahoma aprovou uma lei estabelecendo que o executor de um testamento também tem o direito de administrar as contas de redes sociais e outros serviços virtuais que a pessoa usava antes de morrer. Agora o Estado de Nebraska discute uma lei semelhante. Por meio dela, amigos e parentes ganhariam o poder de gerir o legado digital daqueles que já se foram.

O Brasil ainda está longe de transformar essa discussão em lei. Enquanto não há como decidir quem é responsável pelo que foi deixado na internet por alguém que morreu, familiares tratam de arrumar maneiras de manter viva a memória de seus entes queridos. É o caso da fotógrafa Thays Bittar, que cuida do legado digital de seu pai, o também fotógrafo João Bittar, morto em dezembro de 2011. João não deixou senhas ou orientações, mas a vontade da filha é manter seu perfil no Facebook da maneira como está. “O mais importante são as fotos, os comentários carinhosos que as pessoas deixaram e o diálogo que ele mantinha com aqueles de quem gostava”, diz. Ela mantém o perfil do pai ativo, postando mensagens e incentivando comentários. A página está lotada de homenagens e referências ao trabalho do profissional, mas ela não sabe quanto tempo permanecerá assim. “Mandei um recado para administração do site para saber como proceder, mas não obtive resposta”, conta.
Consultado pela reportagem, o Facebook afirmou por meio de sua assessoria que desde 2007 tem a política de apresentar duas opções para a família que tem de lidar com um perfil inativo. A primeira delas é transformar a página em memorial, deixando o acesso restrito a amigos confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal. A segunda opção é apagar todos os dados do usuário. Outras redes sociais, como o Orkut, também têm opções para que parentes removam a conta do antigo usuário. Já no caso dos outros serviços do Google, como o YouTube ou o Gmail, a empresa afirma que em situações extremas pode conceder acesso às informações, mas os pedidos serão analisados caso a caso.

Segundo o presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Federação de Comércio de São Paulo, Renato Opice Blum, os parentes têm direito às informações e arquivos postados por quem já morreu, mas não há nada que possa ser feito quanto ao destino da conta. “O usuário concordou com essa política no momento em que fez a inscrição no site. Então, a empresa não está errada em seguir o que foi previamente determinado”, explica. Para ele, ler antes de assinar – ou, nesse caso, clicar – é uma das principais precauções que o usuário deve tomar se quiser que seu perfil acabe se tornando um legado (leia quadro).

A questão é complexa, principalmente porque não há precedentes na lei que possam servir de orientação sobre o que fazer com uma herança digital, mas não há como fugir do assunto. “A cada dia que passa, o legado que deixamos na internet fica maior. E, considerando que alguma parte desse conteúdo pode ter valor comercial, vai chegar um momento em que ficará difícil diferenciar a herança real da digital”, analisa Blum. Como na vida fora da internet, a melhor estratégia é pensar desde já sobre o que fazer com os nossos bens digitais quando partirmos. No mínimo, é um assunto a menos para os herdeiros discutirem. 
img1.jpg