A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 4 de dezembro de 2011

A Semana na Ciência

Tsunami nas montanhas

Como o derretimento das geleiras do Himalaia, uma das 

consequências do aquecimento global, coloca boa parte da 

população do pequeno Butão sob o risco constante de enchentes 

devastadoras

André Julião
img.jpg
AMEAÇA
Butaneses observam a geleira Gankar Punsun, no Himalaia
Há algum tempo o Butão é conhecido como o país mais feliz do mundo. Para se ter uma ideia da importância do sentimento para os seus habitantes, o governo local criou um índice oficial batizado de Felicidade Interna Bruta, medido anualmente como os PIBs de outras nações. As mudanças climáticas, porém, estão acabando com a alegria desse pequeno pedaço de terra encravado entre a Índia e a China, bem aos pés da cadeia de montanhas do Himalaia. A elevação das temperaturas está derretendo as geleiras de forma acelerada e instável, ameaçando comprometer a segurança e o abastecimento de água dos butaneses.

Quando a enorme quantidade de gelo do Himalaia derrete além do normal, a água corre com força até romper as barreiras naturais congeladas, que seguram tudo no lugar. O resultado desse choque foi visto em 1994, quando uma torrente de lama vinda das montanhas destruiu vilas inteiras, matou 22 pessoas e afetou pelo menos outras 600. Esse fenômeno é chamado de enchentes-relâmpago de origem glacial (Glof, na sigla em inglês). Atualmente, 24 das mais de 2 mil geleiras do país são consideradas instáveis, tornando concretas as chances de ocorrência desses “tsunamis das montanhas” nos próximos anos.

Mas os butaneses não esperam pela tragédia de braços cruzados. O país é um dos primeiros a fazer da prevenção aos GLOFs uma prioridade nacional. Em 2005, o governo recebeu recursos internacionais para investir na prevenção a novas tragédias como a de 1994. Parte do dinheiro foi usada para reforçar as barreiras naturais do lago glacial Thorthormi. O problema é que o trabalho é difícil, perigoso e de alto custo quando realizado em altitudes que ultrapassam os 5 mil metros.
img1.jpg
RISCO
O templo de Punakha Dzong corre risco constante de alagamento
O ar rarefeito não dá sustentação para helicópteros, impedindo o uso das aeronaves. O esforço maior vem de cerca de 350 voluntários, que caminham até dez dias para chegar a um acampamento-base, cinco quilômetros acima do nível do mar. Estudantes, soldados aposentados e camponeses uniformizados trabalham com água gelada pelos joelhos, usando as poucas ferramentas disponíveis para abrir canais e construir barreiras a fim de reforçar o lago Thorthormi. Todo ano, porém, os esforços são interrompidos com a chegada do inverno.
As geleiras mais perigosas são identificadas com a ajuda de imagens de satélite, mas é impossível dizer quando ou onde uma catástrofe vai acontecer. “Esse recurso nos dá o tamanho da área coberta de gelo e outros tipos de cobertura. Para informações mais detalhadas como volume, dados geotécnicos e hidrológicos, é preciso fazer a coleta em campo, indo diretamente aos locais”, disse à ISTOÉ Pradeep Mool, especialista do International Centre for Integrated Mountain Development, no Nepal.

Autoridades já identificaram algumas zonas de alto risco e proibiram construções nessas áreas. Elas planejam instalar um sistema eletrônico de alerta, com sensores e mensagens enviadas para celulares, para que os moradores possam fugir a tempo e buscar abrigo. O problema, no entanto, vai além. Como só existem graças à água de degelo, os rios podem ser afetados, comprometendo o abastecimento de água e o funcionamento de hidrelétricas, vitais para a economia do país (leia quadro). Mais do que derreter o gelo das montanhas, o aquecimento pode alterar profundamente a essência do, até agora feliz, Butão.
G_Butao_numbers.jpg

Movidos à inovação

A expansão dos parques tecnológicos mostra como as parcerias 

entre iniciativa privada, governos e especialistas são 

fundamentais para o progresso científico no Brasil

Francisco Alves Filho e Michel Alecrim
chamada.jpg
"Saímos da fase de incubadora para a de parque tecnológico
e agora pretendemos crescer bastante no ano que vem"

Ronaldo Nóbrega, engenheiro e sócio-fundador de empresa nascida no campus
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele segura as membranas
do sistema de filtragem de água desenvolvido no parque tecnológico
Uma espécie de paraíso científico, no qual a parceria entre pesquisadores e empresários resulta em produtos e serviços inovadores, rapidamente colocados à disposição da sociedade. Esse é o conceito de parque tecnológico, criado na década de 50 nos Estados Unidos, que somente agora chega à maturidade no Brasil. Os resultados são tão significativos que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, prometeu tratar esses empreendimentos como prioridade. Motivos para isso não faltam. Pelos dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), o País tem hoje 25 parques tecnológicos em operação, 17 em fase de implementação e 32 ainda no papel. O principal deles está instalado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O projeto, nascido em 2003, abriga no campus setores de pesquisa de gigantes como Petrobras, Siemens e Motorola e receberá investimento da ordem de R$ 500 milhões nos próximos três anos. “A essência de um parque assim é transformar conhecimento em riqueza e benefício para a sociedade”, explica o engenheiro Maurício Guedes, responsável pelo projeto da UFRJ e presidente da Associação Internacional dos Parques Tecnológicos. Ele acha positivo que o ministério tenha reconhecido a importância desses projetos, mas pede mais recursos para rivalizar com outros países. “É um programa grandioso, deveria ter a participação do BNDES”, aponta.

A ideia de reunir pesquisadores universitários e empresas em busca de inovações surgiu na Califórnia, quando a Universidade de Stanford implantou um projeto com essas características. No final dos anos 50, começaram a se instalar ali empresas que, com o passar dos anos ficaram mundialmente famosas: Intel, Microsoft, Apple e várias outras. O próprio lugar, o Vale do Silício, ganhou fama. O Brasil adotou o conceito há cerca de três décadas, mas nunca os parques tecnológicos estiveram tão em alta por aqui. Das pesquisas realizadas nesses laboratórios sairão soluções para questões fundamentais no desenvolvimento do País ao longo dos próximos anos, como a exploração do pré-sal ou novos aplicativos de informática. Essa é, por exemplo, a especialidade do Porto Digital, empreendimento iniciado há 11 anos, com investimento do governo pernambucano em torno de R$ 33 milhões. Atualmente, os negócios gerados ali alcançam a cifra de R$ 700 milhões por ano, ou 3,9% do PIB do Estado. “Até 2020, podemos chegar a 10% do PIB e duplicar o número de trabalhadores, passando para 20 mil funcionários”, avalia Silvio Meira, fundador do Porto Digital e cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados.

Mesmo fora das capitais, é possível encontrar iniciativas de destaque. É assim o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), que desde 2006 vem recebendo recursos que nos próximos anos chegarão a US$ 250 milhões, e o Tecnosinos, instalado na cidade gaúcha de São Leopoldo, escolhido como o melhor do Brasil no ano passado. Há várias iniciativas de implantação ou expansão em curso. O superintendente de competitividade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio, Sérgio Teixeira, ressalta que a diversificação está levando à criação de novos complexos como o de Xerém, em Duque de Caxias – no lugar, a PUC está construindo um centro com laboratórios para a indústria automobilística. O InMetro pretende construir um parque voltado para a metrologia e energia renovável. Outro, voltado para a tecnologia da informação, ficará em Petrópolis. “Os parques criam a possibilidade de os empreendedores desenvolverem seus projetos”, diz Teixeira. Isso vale tanto para os mega quanto para os micro empreendimentos. Pequenas empreitadas, como a Pam Membranas, nascida na UFRJ, encontram ambiente propício para se desenvolver, mesmo ao lado de gigantes como Nokia e Motorola. Nascida depois que o engenheiro Ronaldo Nóbrega e seus sócios desenvolveram uma técnica inovadora para filtrar água em grande escala, a empresa fatura atualmente R$ 2,5 milhões anuais. “Saímos da fase de incubadora para a de parque tecnológico e agora pretendemos crescer bastante em 2012”, prevê Nóbrega.

Um dos maiores centros produtores de conhecimento do País é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com uma diferença importante: não concentra suas operações em um só espaço. Pulverizada em centros de pesquisa espalhados por todo o Brasil, ela teve importante papel no desenvolvimento da agropecuária nas últimas décadas. Agora, se prepara para o futuro. “Estamos negociando um programa chamado Embrapa Verde, justamente para trabalharmos a sustentabilidade sem abrir mão da renda”, diz o presidente da empresa governamental, Pedro Arraes.  
img.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário