A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 25 de março de 2012

A Semana na Ciência

O sonho do elevador espacial

Empresa japonesa anuncia plano de construir um veículo 

espacial puxado por cabos e volta a alimentar um velho sonho 

dos aventureiros espaciais

Hélio Gomes
Assista ao vídeo:
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 A ideia é antiga, muito antiga. E já alimentou a imaginação de gênios da ficção científica como Arthur C. Clarke, autor do clássico “2001: uma Odisseia no Espaço”. Agora, graças aos avanços da ciência e à ousadia de investidores japoneses, o tão sonhado elevador espacial finalmente pode sair do papel. Desde que foi anunciado, há duas semanas, o projeto criado pela empreiteira Obayashi – uma das maiores do Japão, responsável pela construção da nova Tokyo Sky Tree, uma torre de 634 metros de altura – deixou os aficionados pelo espaço salivando. Mas há quem duvide da história.

Os cientistas consideram a ideia do elevador espacial viável desde os anos 90, depois do advento dos nanotubos de carbono, minúsculas estruturas cilíndricas capazes de formar um cabo resistente e longo o bastante para chegar ao espaço. Com o anúncio dos planos japoneses, a comunidade científica discute agora se uma previsão tão longínqua não pode ser apenas um blefe. Coincidentemente, o custo estimado da obra não foi divulgado. 

De qualquer forma, o conceito apresentado em Tóquio, que prevê a construção para 2050, dá detalhes animadores da máquina. Projetado para levar até 30 passageiros, o veículo viajaria numa velocidade média de 220 km/h, alcançando uma estação espacial localizada a 36 mil quilômetros da Terra. Acoplado a um cabo de nanotubos de carbono, ele usaria motores magnéticos para se locomover. Ao chegarem à estrutura construída no espaço, os viajantes ficariam hospedados em um hotel e teriam a chance de visitar laboratórios científicos nos quais estudos sobre o cosmos devem ser realizados.

No entanto, alguns blogueiros especializados duvidam do plano, alegando que a tecnologia atual ainda é incapaz de viabilizá-lo. Marc Boucher, do site thespaceelevator.com, é um deles: “Como outras empreiteiras japonesas, a Obayashi gosta de anunciar planos visionários e de longo prazo. Se a ideia não sair do papel logo, talvez, um dia, eles mostrem que estão falando sério”, resumiu o especialista. Só nos resta esperar.
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A CABO
O conceito de elevador espacial apresentado por uma empreiteira japonesa


À espera de um milagre

Com o nível dos oceanos subindo por causa do aquecimento 

global, o arquipélago de Kiribati pode sumir e o governo já 

negocia terras em ilhas vizinhas para iniciar a migração em massa

Edson Franco
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FÉ 
Sobre barragem feita para conter o avanço do mar, grupo católico
de kiribatianos reza para que Jesus volte e salve o arquipélago
Quando estiver pronto para receber a Copa de 2014, o estádio do Maracanã terá uma capacidade para 76 mil pessoas. Kiribati, país que ocupa um arquipélago no Pacífico, está se preparando para despachar dois Maracanãs lotados para uma nação vizinha. Isso porque as ilhotas correm o risco de chegar ao final deste século engolidas pelo oceano. O processo parece irreversível: o aquecimento global derrete calotas polares, o nível do mar sobe e cobre uma região cujo ponto mais elevado não passa dos sete metros. Se o plano de deslocar a população se concretizar, será a maior migração forçada pelo clima da história.

Todo começo de ano, os kiribatianos são lembrados de que a necessidade de arrumar as malas se aproxima. Cada vez mais violentas, as ondas invadem as ruas de areia do arquipélago, destroem casas, espalham lixo e criam gigantescas poças permanentes. Outras soluções foram imaginadas. Primeiro, cercar as ilhas com paredões, ao custo de US$ 1 bilhão cada um. Pelo dobro disso, o governo cogitou produzir ilhas artificiais e flutuantes, similares às plataformas de petróleo. Nenhuma das ideias se mostrou viável.

O presidente Anote Tong não viu outra saída que não bater na porta do governo das Ilhas Fiji e iniciar a negociação para a compra de uma área de 20 quilômetros quadrados para dar uma nova casa para os kiribatianos. Tong não planeja embarcar todos os seus conterrâneos de uma vez. “Eles precisam encontrar empregos, não na condição de refugiados, mas como imigrantes com habilidades para oferecer”, disse ele em entrevista ao Canal One, de Fiji. Para facilitar a adaptação dos kiribatianos ao novo território, o governo já colocou em prática o programa Educação para a Migração. 

De longe, moradores de outras ilhas acompanham com apreensão o caso de Kiribati. Se as previsões mais pessimistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas se confirmarem, os oceanos chegarão ao final do século 59 cm mais altos. Isso varreria do mapa o arquipélago de Tuvalu e as Ilhas Maldivas. Por enquanto, os tuvaluanos ainda acreditam que diques e muros podem resolver o problema. Mais atento ao exemplo de Kiribati, o governo das Maldivas já estuda comprar terras em outros países. 

Para quem estuda os povos que se espalham pelas ilhas do Pacífico, o fato de as migrações forçadas pelo clima começarem por ali é um problema menor. Nascido nas Ilhas Fiji, o escritor e antropólogo Epeli Hau’ofa é autor do livro “Our Sea of Islands” (Nosso mar de ilhas), inédito no Brasil, e defende que os habitantes desses arquipélagos são historicamente grandes viajantes. A diferença é que, em vez de expandir seus horizontes, agora eles vão viajar porque a casa deles deixará de existir.
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Testamento digital

Conteúdo gerado na internet por pessoas que já morreram vira 

caso de Justiça nos Estados Unidos e começa a ser discutido 

por usuários brasileiros

Larissa Veloso
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VIDA APÓS A MORTE
A professora Karen Willians (abaixo) e a fotógrafa Thays Bittar tentam manter a memória de seus entes queridos
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Gastamos boa parte de nossa vida digital produzindo, juntando e publicando vídeos, textos ou perfis espalhados pela internet, preferencialmente bem guardados por senhas. Os anos passam, os arquivos crescem e um dia a gente morre. E quem é o dono dessa herança e dessa memória digital que deixamos? 

Nos EUA a discussão ganhou força depois que a professora Karen Willians abriu um processo contra o site de relacionamentos Facebook para poder manter o perfil de seu filho, Loren, no ar. O rapaz morreu em 2005, aos 22 anos, em um acidente de moto. Como forma de relembrar o passado, ela conseguiu a senha e passou a acessar a conta do rapaz, lendo depoimentos de amigos e parentes. Mas, quando Karen mandou uma mensagem para a companhia pedindo instruções sobre como proceder para que o perfil não fosse exterminado, o site fechou o acesso para ela. A professora venceu a batalha judicial e, após dois anos, teve o acesso liberado, mas por apenas dez meses.

O caso abriu um precedente judicial, e o assunto começou a chamar a atenção dos legisladores americanos. Em 2010, o Estado de Oklahoma aprovou uma lei estabelecendo que o executor de um testamento também tem o direito de administrar as contas de redes sociais e outros serviços virtuais que a pessoa usava antes de morrer. Agora o Estado de Nebraska discute uma lei semelhante. Por meio dela, amigos e parentes ganhariam o poder de gerir o legado digital daqueles que já se foram.

O Brasil ainda está longe de transformar essa discussão em lei. Enquanto não há como decidir quem é responsável pelo que foi deixado na internet por alguém que morreu, familiares tratam de arrumar maneiras de manter viva a memória de seus entes queridos. É o caso da fotógrafa Thays Bittar, que cuida do legado digital de seu pai, o também fotógrafo João Bittar, morto em dezembro de 2011. João não deixou senhas ou orientações, mas a vontade da filha é manter seu perfil no Facebook da maneira como está. “O mais importante são as fotos, os comentários carinhosos que as pessoas deixaram e o diálogo que ele mantinha com aqueles de quem gostava”, diz. Ela mantém o perfil do pai ativo, postando mensagens e incentivando comentários. A página está lotada de homenagens e referências ao trabalho do profissional, mas ela não sabe quanto tempo permanecerá assim. “Mandei um recado para administração do site para saber como proceder, mas não obtive resposta”, conta.
Consultado pela reportagem, o Facebook afirmou por meio de sua assessoria que desde 2007 tem a política de apresentar duas opções para a família que tem de lidar com um perfil inativo. A primeira delas é transformar a página em memorial, deixando o acesso restrito a amigos confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal. A segunda opção é apagar todos os dados do usuário. Outras redes sociais, como o Orkut, também têm opções para que parentes removam a conta do antigo usuário. Já no caso dos outros serviços do Google, como o YouTube ou o Gmail, a empresa afirma que em situações extremas pode conceder acesso às informações, mas os pedidos serão analisados caso a caso.

Segundo o presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Federação de Comércio de São Paulo, Renato Opice Blum, os parentes têm direito às informações e arquivos postados por quem já morreu, mas não há nada que possa ser feito quanto ao destino da conta. “O usuário concordou com essa política no momento em que fez a inscrição no site. Então, a empresa não está errada em seguir o que foi previamente determinado”, explica. Para ele, ler antes de assinar – ou, nesse caso, clicar – é uma das principais precauções que o usuário deve tomar se quiser que seu perfil acabe se tornando um legado (leia quadro).

A questão é complexa, principalmente porque não há precedentes na lei que possam servir de orientação sobre o que fazer com uma herança digital, mas não há como fugir do assunto. “A cada dia que passa, o legado que deixamos na internet fica maior. E, considerando que alguma parte desse conteúdo pode ter valor comercial, vai chegar um momento em que ficará difícil diferenciar a herança real da digital”, analisa Blum. Como na vida fora da internet, a melhor estratégia é pensar desde já sobre o que fazer com os nossos bens digitais quando partirmos. No mínimo, é um assunto a menos para os herdeiros discutirem. 
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