A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 18 de março de 2012

A Semana na Ciência

Corridas malucas

Criados pela iniciativa privada, desafios, como o que vai levar o 

cineasta James Cameron ao canto mais profundo do planeta, 

ajudam a evolução da pesquisa científica

Edson Franco
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QUASE PRONTO
James Cameron no veículo com o qual pretende
chegar ao fundo da Fossa das Marianas
As profundezas do mar sempre fascinaram o cineasta canadense James Cameron. Em 1989, no filme “O Segredo do Abismo”, ele registrou uma equipe atrás de um submarino nuclear a sete mil metros de profundidade. Na década seguinte, explorou o Titanic, navio que hoje repousa com 3,8 mil metros de água sobre si. Neste ano, o diretor que ir além. Mais exatamente ao ponto mais profundo do planeta, a Fossa das Marianas, uma “cicatriz” localizada 11 quilômetros abaixo da superfície do Oceano Pacífico. O plano é descer sozinho, num submarino que comporta pouca coisa além do cineasta, e fazer imagens em 3D a ser usadas na sequên­cia de “Avatar”.

Não é uma tarefa fácil. Tanto que a última vez em que um veículo tripulado chegou ali foi em janeiro de 1960. Na ocasião, os americanos Jacques Piccard e Don Walsh passaram 20 minutos onde o cineasta pretende ficar por seis horas. Uma lista das condições explica esse hiato de mais de 50 anos entre uma expedição e outra. A pressão local é de oito toneladas por polegada quadrada. É como se dois elefantes se equilibrassem sobre um estojo de alianças de casamento. A temperatura beira a do congelamento e a escuridão é absoluta. Tudo isso ajuda a entender por que temos muito mais imagens da superfície de Marte do que da Fossa. Se bem-sucedida, a empreitada – que recebeu o nome de Deepsea Challenge (desafio do mar profundo, em inglês) – terá como recompensas as imagens para o filme e a entrada da façanha para a história da exploração científica, na frente do britânico Richard Branson, que em abril de 2011 anunciou a construção de um veículo para explorar a Fossa. Nesses casos, não há prêmio em dinheiro. Essa é uma das poucas diferenças entre essas iniciativas e várias outras em que empresas ou ONGs criam desafios com premiações (leia quadro à esq.).

A cada hora é consumido um milhão de galinhas nos Estados Unidos. Preservar a vida desses e de outros bichos é a ocupação da Peta, ONG de origem americana que se dedica aos direitos dos animais. Como não havia muito dinheiro para pesquisar o desenvolvimento de carne artificial, a organização resolveu criar um prêmio. Quem produzir carne de frango a partir de células embrionárias leva US$ 1 milhão para casa. A data final para a entrega dos produtos é 30 de junho deste ano. “Talvez o prazo tenha de ser adiado, mas isso não nos desanima. Os resultados obtidos até agora nos incentivam a criar outros prêmios para que a humanidade possa saciar a sua fome de carne, mas sem ter na consciência o horror dos matadouros”, disse à ISTOÉ Ingrid Newkirk, presidente da Peta.

Se pode salvar galinhas, esse método também está sendo usado para ajudar humanos a superar a barreira dos 100 anos. A empresa americana Medco criou o Archon Genomics X Prize. A meta é colher amostras de DNA de uma centena de pessoas nessa faixa etária. De posse do material, pesquisadores do mundo todo estão convidados a sequenciar as amostras, descobrir maneiras de esticar a vida e concorrer a um prêmio de US$ 10 milhões. “Os prêmios são ferramentas excepcionais para estimular o espírito competitivo e a criatividade dos cientistas”, afirma Grant Campany, diretor do prêmio. Pena que a iniciativa esteja acontecendo só agora. Ainda vai levar umas duas gerações para que viver mais de uma centena de anos seja a coisa mais natural do mundo.
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Herança maldita

Um ano depois do terremoto seguido de tsunami que devastou o 

leste do Japão, o país ainda não sabe o que fazer com 25 milhões 

de toneladas de detritos

Larissa Veloso
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ESCOMBROS
Em foto do último dia 9, peritos lidam com os destroços na cidade de Iwate
Após um ano de luto e reconstrução, o Japão se vê diante de um obstáculo maior do que o próprio tsunami que varreu o leste do país. Cerca de 25 milhões de toneladas de lixo e entulho ainda se acumulam em montanhas nas cidades de Iwate, Miyagi e Fukushima, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (leia quadro). Os japoneses são um dos povos mais preparados para lidar com desastres de grande magnitude. No entanto, apenas 5% dos destroços foram processados.

As razões para a demora são várias. A primeira, obviamente, é a grande quantidade de material. Para se ter uma ideia, o volume equivale a cinco anos de coleta de lixo na cidade de São Paulo. Outro motivo é a tentativa de evitar mais poluição, uma vez que o país é uma ilha com recursos e espaços já limitados. Assim, em vez de optar pela solução mais fácil, como incinerar ou enterrar os destroços em um aterro, os japoneses estão separando os resíduos e reciclando ou reutilizando tudo o que podem. 

De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês), que acompanha de perto os trabalhos, “troncos de árvores estão sendo enviados para uma usina de papel, restos de madeira vão para uma companhia de cimento para serem usados como combustível e o entulho está sendo reciclado como material de construção ou pavimentação de vias”. As leis japonesas estabelecem que os fabricantes de carros e eletrodomésticos como geladeiras, fogões e máquinas de lavar são responsáveis pela coleta de seus produtos no fim da vida útil. Mas o volume de destroços é tão grande que as empresas não darão conta, afirmam os especialistas da Unep. 

Além do processo minucioso, o medo da radiação também tem atrapalhado o andamento da limpeza. Após o vazamento na usina nuclear de Fukushima, as cidades vizinhas se recusaram a ceder espaço para depositar os destroços, mesmo de localidades como Miyagi e Iwate, que estão fora da área de contaminação. De acordo com declarações do ministro japonês do Meio Ambiente, Goshi Hosono, a data para o término da limpeza, estipulada em março de 2014, não será cumprida.

Mesmo com o gigantesco problema à frente, o Japão tem sido um exemplo de superação. A própria ONU espera aprender com a organização e eficiência do governo japonês para poder aprimorar as técnicas de gerenciamento de desastres em outras áreas do mundo. Mas isso não é tudo. Ainda há pela frente o colossal trabalho de reconstrução de milhares de casas e realocação dos mais de 340 mil habitantes desabrigados pelas águas do tsunami e afetados pela radiação de Fukushima.
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