A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

quinta-feira, 1 de março de 2012

::: ACHO QUE OS APRESSADINHOS NÃO ERAM OS NEUTRINOS! :




Em setembro do ano passado, uma notícia sacudiu a mídia: neutrinos, no experimento do Gran Sasso, teriam viajado os 730 km entre os dois laboratórios (na Suíça e na Itália) com velocidade superior à velocidade da luz no vácuo.
O barulho todo se deve ao fato de que a Teoria da Relatividade Restrita (ou Especial) de Einstein está ancorada em dois postulados, um dos quais afirma categoricamente que "a velocidade da luz é sempre a mesma para qualquer observador". Como decorrência destes postulados, tentando "salvar" a Mecânica Clássica e compatibilizando-a com o Eletromagnetismo, Einstein chegou à conclusão de que a inércia de um corpo depende da sua velocidade de onde concluiu que "a velocidade da luz no vácuo, c, é o limite superior de rapidez de qualquer corpo". Explico detalhes neste post. E, só para lembrar, o valor aproximado da velocidade da luz no vácuo é c = 300000 km/s = 1080000000 km/h = 1,08.109 km/h).
Mas de ontem para hoje surgiram notícias (e até uma matéria na Revista Science) que nos levam a acreditar que a aparente velocidade superluminal dos neutrinos parece ter sido mesmo um erro experimental, uma medida mal feita por conta de uma conexão entre o GPS e o equipamento computacional.
Eu já apostava num erro experimental sistemático quando escrevi Imagino que, apesar dos extremos cuidados nas medidas, há alguma falha no delicado processo de medir o curtissimo tempo que os neutrinos levam para perfazer os 730 km (medidos com margem de erro de apenas 20 cm!) entre os dois laboratórios (...) (confira neste post de setembro de 2011).
Mas, particularmente, bem lá no fundo, embora não acreditasse no resultado do experimento do Gran Sasso, queria que ele se confirmasse. Sem dúvida seria muito mais divertido, não? Para entender a razão disso, teríamos que repensar a Relatividade Restrita de Einstein e fazer correções na teoria que já atravessou um século mostrando muita consistência até então. Ou talvez fosse o indício de novas ideias, quem sabe a real possibilidade de atalhos no espaço-tempo e até a existência de novas dimensões. Seria uma excelente explicação das tantas canetas Bic (vermelhas que uso para corrigir provas) que sumiram da minha mesa sem deixar vestígio! Provavelmente elas teriam pego um atalho dimensional, como os neutrinos. Mas, ao contrário destes que voltaram, as canetas (por alguma razão ainda a ser pesquisada) teriam maior probabilidade de se perderem noutra dimensão, talvez por alguma quebra de simetria...
Vamos aguardar. Eu acho que este assunto ainda tem fôlego para render mais. A coisa não vai parar por aí! Vai?
De qualquer forma, quero ratificar que achei louvável a atitude dos cientistas do Gran Sasso que resolveram abrir o resultado paradoxal do experimento para a comunidade científica. Isso aconteceu porque:
  1. Tinham certeza de que o experimento estava bem cercado de cuidados. Logo, os riscos acadêmicos de um mico internacional estavam bem calculados. E pediram que a comunidade científica os ajudasse a resolver o problema que mostrou-se não ser nada simples e botou uma multidão de cientistas para estudar o caso com cuidado.
  2. Sabiam que, de uma forma ou de outra, confirmado ou não o resultado, toda a história seria interessante para a boa ciência. E está sendo!
Só que a mídia sensacionalista não pensou duas vezes. Talvez nem tenha pensado uma vez sequer. Publicou logo manchetes afirmando "Einstein errou"(*). E conseguiram fazer barulho fácil. Se soubessem da importância científica do que estava  (ou ainda está) em jogo no experimento do Gran Sasso, poderiam ter feito barulho equivalente, mas muito mais elegante. É uma pena que os textos jornalísticos - em especial na área científica - cada vez mais abram mão da elegância em favor do barulho e da audiência rápida!  

Encerro este meu texto deixando para você uma pergunta: neste experimento que já ficou pra história da ciência, quem foram os apressadinhos de fato? Os neutrinos? Ou muitos jornalistas que apostaram na rapidez da notícia fácil? A pergunta fica para você. Minha reposta já dei lá no topo, no título do post! 

(*) Para não poluir o texto principal e correr o risco de perder o foco, trago aqui para o rodapé uma segunda discussão que também é relevante nesta história: Einstein não errava? Será mesmo que nunca errou? Gênios não erram? Não podemos ser ingênuos a tal ponto! Certamente gênios erram. Erram especialmente porque ousam. Mas não se abalam com erros. Aprendem rápido e corrigem o curso. E continuam ousando, ou seja, rompendo fronteiras e correndo riscos de errar outra vez mas igual risco de escolher a direção certa. Talvez aí esteja o grande diferencial entre alguém chamado de gênio e outro dito "normal". E ressalto ainda que a maioria das pessoas arrastam uma visão distorcida da ciência. Como sempre digo para meus alunos, em ciência não temos certo ou errado. Não é tão simples e bipolarizado assim.  Para os cientistas há o funciona ou não funciona. E funciona é sempre dentro de certas condições de contorno, sob rigoroso controle. Por isso não podemos simplificar e apenas polarizar as coisas! Para o cientista, se algo que estava indo bem deixa de funcionar, encontra-se um upgrade no modelo e  bola pra frente. Aliás, é bom que se diga que é exatamente o que aconteceu com a Mecânica de Newton (seculo 17) que pelas mãos de Einstein (século 20) sofreu um upgrade para compatibilizar-se com as novidades do Eletromagnetismo (século 19). Dentro das condições de contorno em que Newton construiu suas ideias, ele estava corretíssimo! Mas bastou pensar em velocidades enormes, não mais depreziveis em relação à velocidade da luz no vácuo, que a teoria clássica teve que sofrer ajustes. Pensando assim, Newton estava certo ou errado? Percebe que a resposta não é simples? Mas é assim que tudo funciona na ciência.

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