A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 23 de setembro de 2012

A Semana na Ciência


Armas digitais contra o desperdício

Aplicativos de celular e programas de computador chegam para 

racionalizar as compras no mercado e evitar que os brasileiros 

joguem 10,9 milhões de toneladas de frutas e hortaliças no lixo 

todos os anos

Juliana Tiraboschi
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CARRINHO 
A chef Vivi Araujo usa aplicativo que 
calcula a quantidade certa de ingredientes
Todos os anos, 30% das frutas (5,3 milhões de toneladas) e 35% das hortaliças (5,6 milhões de toneladas) produzidas no País acabam no lixo, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nossas geladeiras colaboram muito com esses números. É muito comum comprar muito mais do que se pode consumir. Para atenuar isso, programadores criam sites e aplicativos para celular com serviços para acabar com a indústria do desperdício. Há programas que calculam a quantidade de ingredientes de acordo com o número de pessoas a serem servidas, que fazem listas de alimentos que estão próximos do vencimento e sugerem pratos com base na lista de compras para aproveitar tudo até o fim.

Entre as pessoas que estão vendo diminuir a quantidade de lixo orgânico em casa está a chef Vivi Araujo, consultora do Crudo Casa Hotel em Salesópolis (SP) e autora do blog e programa “Pé na Cozinha”. Ela já usou o aplicativo Love Food, Hate Waste (Ame a Comida, Deteste o Desperdício). “Podemos calcular as quantidades com bastante precisão; facilita as compras e dá muitas ideias de receitas com itens que você já tem em casa”, diz. A desvantagem é que, ao selecionar um alimento para calcular a quantidade, não dá para especificar se ele será acompanhamento ou prato principal, e ainda não existem muitos itens em algumas categorias, como a de carnes.
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Enquanto outros aplicativos são comuns no Exterior (confira as fotos nesta página), o Brasil está num estágio anterior. Aqui há sites que ajudam a organizar as compras e a comparar preços, como o Boa Lista e o Meu Carrinho. A tendência é que, com a crescente preocupação com a sustentabilidade, surjam novas ferramentas com foco no combate ao desperdício. O site Igluu, por exemplo, monta cardápios semanais de acordo com as preferências do usuário, de forma a aproveitar os ingredientes em mais de uma receita. Na semana que vem, os desenvolvedores lançarão uma ferramenta em que o cliente monta uma lista de itens que já tem em casa e recebe receitas que usam aqueles alimentos. 

O mercado Apanã, em São Paulo, que oferece produtos orgânicos e sustentáveis, planeja lançar no ano que vem um site de vendas com aplicativo para celular que avisa quando um produto estiver próximo do vencimento. Se a embalagem estiver intacta e ainda dentro de uma margem razoável do prazo de validade, o cliente poderá trocar o produto por outro igual, mais novo. “As pessoas estão procurando alimentos mais frescos, queremos ajudá-las a comprar melhor, sem desperdícios”, diz Miguel Carvalho, sócio da Unibio, empresa por trás do mercado. Com o que vai economizar ao parar de jogar alimento fora, o consumidor vai até poder trocar de celular.
Foto: Rogério Cassimiro

O mapa das nossas minas

Segundo maior produtor mundial de ferro e manganês, o Brasil 

faz a conta de quanto tempo as atuais reservas irão durar 

enquanto procura por novas jazidas

Edson Franco
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Piercings, motores de jatos e oleodutos têm algo em comum. Todos levam nióbio em sua composição. Resistente e raro, esse metal é um presente geológico para o Brasil, que concentra 98% da oferta mundial. Caso novas jazidas não sejam encontradas, esse quase monopólio nacional tem prazo para acabar. Ao ritmo atual de exploração, em 57 anos não será encontrado mais um grama de nióbio em solo brasileiro.

Com preocupações desse tipo, os maiores geólogos e especialistas em mineração do mundo se reúnem em Santos (SP), entre 30 de setembro e 5 de outubro, durante o 46º Congresso Brasileiro de Geologia. Além de encontrar formas de beneficiar as populações das áreas exploradas, os pesquisadores vão expor ideias que garantam matéria-prima para que as gerações futuras também possam ter seus piercings, jatos e oleodutos.

Especialistas na área são unânimes em afirmar que estão distantes os dias em que os recursos minerais estarão extintos. Muito mais do que se preocupar com o fim das reservas conhecidas, engenheiros e geólogos devem descobrir como explorá-las com mais eficiência e procurar por novas jazidas. “No Brasil, podemos e precisamos encontrar muitas outras reservas. O problema é que gastamos em pesquisa geológica o mesmo que Argentina e Chile, que têm território muito menor”, pondera Fábio Braz Machado, presidente da comissão organizadora do congresso. 

Contrário às previsões mais alarmistas sobre o fim de nossas reservas, o geólogo David Siqueira Fonseca, do Departamento Nacional de Produção Mineral, lembra o cenário da crise do petróleo em meados dos anos 1970. “Diziam que o mundo teria óleo, no máximo, até 1985. Mas as técnicas de prospecção evoluíram tanto que ninguém mais estipula uma data para o fim do petróleo na Terra”, diz. Para ele, um dos maiores problemas da mineração nacional é o baixo conhecimento que o País tem sobre suas próprias formações geológicas. Um fator que impede estudos mais aprofundados são as áreas de proteção ambiental ou indígenas. Nelas, os cientistas são impedidos de lançar as suas sondas. Mas isso não gera um conflito entre geólogos e ecologistas. “Essas áreas são uma espécie de reserva para o futuro. Quando as jazidas atuais estiverem esgotadas, será a hora de discutir o momento de começar a explorar essas áreas”, afirma Fonseca.
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Outra dificuldade da pesquisa geológica nacional é a falta de engenheiros e geólogos. Estimular a formação e preparação de profissionais especialistas em mineração é uma das preocupações do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Desde o início deste século, a mineração nacional passou por um boom e chegou a uma situação de pleno emprego, o que obriga as empresas do ramo a prospectar engenheiros e geólogos como se fossem ouro.

Mesmo com essa deficiência de pessoal, o Brasil comemora a descoberta de jazidas com metais supervalorizados e raros nesses tempos em que a tecnologia exige materiais cada vez mais versáteis. Em 2011, foi encontrada na Bahia uma grande reserva de tálio, metal usado em contrastes de exames cardiológicos e como supercondutor na transmissão de energia. Outra descoberta, também na Bahia, ocorreu neste ano. O geólogo João Carlos Cavalcanti encontrou no oeste do Estado uma reserva estimada em 28 milhões de toneladas de neodímio – um dos 17 elementos que compõem o grupo de minerais chamado de terras raras, usados em equipamentos como carros elétricos, smartphones e tablets.

Enquanto os estudiosos debatem soluções e comemoram descobertas como essas, o público que for ao congresso em Santos terá várias portas de entrada para o mundo da geologia. A 800 metros do Centro de Convenções Mendes, sede do evento, será montada a Praia das Geociências, espaço para que leigos e curiosos conheçam a variedade geológica do Brasil. Os frequentadores também poderão adquirir o livro “Brasil Geológico”, do geólogo Ricardo Siqueira, que juntou ciência e fotografia para investigar as mais fascinantes formações rochosas brasileiras. Por fim, quem comparecer volta para casa com uma amostra da nossa riqueza mineral: um vidrinho contendo 1,8 ml de petróleo vindo diretamente do pré-sal. 

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