A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 20 de novembro de 2011

A Semana na Ciência

Robôs com fome de energia

Cientistas criam máquinas capazes de localizar e "comer" fontes 

de energia de origem animal e vegetal. Mais um passo em direção 

a um futuro de androides autônomos

Larissa Veloso
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IMITAÇÃO
O Flytrap (à esq.) captura insetos como as plantas carnívoras (acima) e os transforma em energia

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Um dos objetivos mais almejados pela ciência robótica é a autonomia. Isso significa criar uma máquina que seja capaz de se locomover, se recarregar e até mesmo reparar seus próprios defeitos sozinha. Pesquisadores e empresários americanos estão agora dando passos fundamentais em direção a essa realidade. Um dos exemplos é o robô EATR (sigla em inglês que pode ser traduzida como “comedor”). Projetado pelas empresas Robotic Technology Inc. e Cyclone Power Technologies, além da agência de tecnologia militar dos EUA, o invento não só conseguirá produzir e armazenar energia a partir da biocombustão, como será capaz de coletar gravetos e plantas para a queima (leia quadro). 

Apesar de estar sendo projetado para atuar em missões militares nas matas ou no patrulhamento de fronteiras, o equipamento também poderá ter utilidade como trabalhador no campo. “Na agricultura, o EATR poderá obter energia recolhendo resíduos em plantações”, explica Robert Finkelstein, presidente da Robotic Technology Inc. Além disso, a máquina ainda poderá monitorar o plantio ilegal de drogas ou espécies invasivas, já que uma das suas funções será diferenciar os vegetais entre si. Finkelstein estima que o produto esteja pronto para chegar ao mercado dentro de dois a quatro anos.

O anúncio da nova tecnologia causou confusão. Vários veículos chegaram a afirmar que o robô também usaria corpos humanos em decomposição e restos de animais como fonte de energia. Os desenvolvedores do EATR tiveram que ir a público explicar que o invento teria uma “dieta” estritamente vegetariana. “É muito difícil neste momento a ciência desenvolver uma máquina capaz de caçar animais”, tranquiliza o coordenador-assistente do curso de Engenharia Elétrica da Unicamp, Cesar Pagan.

Ainda assim, cientistas da Universidade do Maine, nos EUA, criaram algo que já se aproxima de um robô caçador. Conhecido como Flytrap, o pequeno invento utiliza sensores para detectar insetos que pousam em suas folhas e então se fecha, como uma planta carnívora. Apesar da eficiência, a máquina ainda não consegue se “alimentar” da presa. Mas esse quadro pode mudar com a ajuda de pesquisadores britânicos. No laboratório de robótica Bristol, no Reino Unido, foi desenvolvido o Ecobot, um dispositivo que usa bactérias para quebrar o exoesqueleto das moscas, o que gera energia elétrica. Até agora eles só não sabiam como fazer com que o invento “capturasse” os insetos. Num mundo em que energia é um bem cada vez mais caro, robôs que não precisam ser ligados na tomada podem ser uma boa alternativa. Resta agora saber o que vai entrar no cardápio dessas máquinas.  
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Cientistas caras de pau

Psicólogo holandês que afirmava que carnívoros são mais 

agressivos do que os vegetarianos é flagrado ao forjar dados de 

suas pesquisas. Mais um capítulo na extensa história das fraudes 

científicas

Wilson Aquino
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PICARETAGEM
O psicólogo Diederick Stapel caiu em desgraça depois de ser desmascarado por seus colegas
A comunidade científica internacional tem enfrentado uma questão contraditória para uma área acostumada a contar com o respeito quase unânime da população: a quantidade impressionante de fraudes praticadas por pesquisadores e cientistas sobre teses que os levam a ganhar muito dinheiro. “Os ganhos financeiros vêm em forma de conferências, prêmios e portas que se abrem”, afirma o professor Fernando Galembeck, da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Se eles ganham, perde a comunidade científica, que desperdiça recursos com falsários, em vez de aplicá-los em projetos importantes para a humanidade. 

A última farsa de repercussão ocorreu na Holanda, onde o renomado psicólogo Diederick Stapel, catedrático da Universidade de Tilburg, confessou ter forjado os dados de dezenas de estudos publicados em revistas especializadas que o catapultaram ao prestígio mundial. Entre as descobertas contestadas estão a afirmação de que as pessoas que comem carne são mais agressivas do que os vegetarianos e que os brancos são mais propensos a discriminar os negros em ambientes conturbados. 

Stapel foi desmascarado pelos próprios colegas, que desconfiaram de ele se recusar a mostrar os dados e nunca deixar seus alunos participarem da colheta dos mesmos. As fraudes mais comuns são justamente a fabricação ou invenção de dados (como fez Stapel), a manipulação dos resultados obtidos, o plágio e o auto-plágio (reapresentação total ou parcial de textos já publicados pelo mesmo autor, como se fossem inéditos). Como cada institutição é responsável pela verificação da idoneidade do trabalho de seus pesquisadores, não foi possível, ainda, a compilação de dados com a exata dimensão do aumento de fraudes.

“Tanto o Brasil como outros países ainda estão no início da adoção de práticas que identifiquem e evitem fraudes”, diz o professor Luiz Henrique Lopes dos Santos, coordenador da diretoria científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Pensava-se que a própria comunidade científica pudesse identificar e condenar as teses forjadas. Os anos e o aumento de casos mostram o contrário”, lamenta Santos. “Faltam diretrizes universais para que a análise desses dados seja padronizada”, defende o diretor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Paulo Sérgio Beirão. O órgão decidiu estabelecer um código de ética para pesquisas após a descoberta de fraudes em publicações envolvendo pesquisadores apoiados pela instituição. No caso, os doutores em Química Denis Guerra, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e Cláudio Airoldi, da Unicamp. 
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Turismo catástrofe

Desastres naturais protagonizam espetáculos que fazem 

viajantes gastar milhares de dólares e passar por sacrifícios 

físicos

Edson Franco
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RENDA
Guarda vigia o vulcão Nyamulagira, convertido em
atração turística na República Democrática do Congo
Quanto mais longe, melhor. Essa é a distância que muitos adotam quando se sabe que na vizinhança há um gigante cuspindo lava com temperatura superior a 800ºC e a 400 m de altura. Por outro lado, há gente disposta a encarar até quatro horas de caminhada pela selva para chegar perto de um espetáculo proporcionado por um desastre natural. Até paga – e caro – por isso. Exemplo mais recente desse fenômeno aconteceu na República Democrática do Congo. Desde a semana passada, a precária indústria turística local criou pacotes para levar viajantes aventureiros às cercanias do vulcão Nyamulagira, que está ativo desde o dia 6 deste mês.

Em geral, agentes e operadores de turismo tradicional têm calafrios ao ouvir falar de catástrofes naturais. Pudera: quando passou pela Austrália em fevereiro, o ciclone Yasi provocou estragos em 86% dos estabelecimentos associados ao turismo no Estado de Queensland, o mais afetado. Apesar de exemplos como esse, cresce o número de empresários que enxergam oportunidades onde a maioria só vê devastação.

É o caso dos ingleses da Disaster Tourism. Desde 2009, a empresa leva seus clientes para ver de perto tornados, tsunamis, degelos, vulcões e outras atrações do gênero. Como cada pacote é planejado individualmente, só esse processo de criação sai pelo equivalente a R$ 420. Os preços dos passeios, com duração máxima de duas semanas, chegam a R$ 84 mil. Além de dinheiro e espírito de aventura, a agência exige de seus clientes respeito com as pessoas atingidas pelo desastre: “Não queremos explorar a dor e as perdas geradas pelos eventos”, avisam em seu site.

Criada em 1997, a agência americana Storm Chasing Adventure Tours coloca turistas quase no olho do furacão. Por US$ 2.400, o viajante participa de uma perseguição a um dos tornados que varrem o Meio-Oeste dos Estados Unidos. A empresa possui radares e equipamentos de detecção próprios. São tão bons que acabam oferecendo ao turista um benefício extra: a possibilidade de estar ao lado dos maiores especialistas americanos no assunto, que pegam carona nas atividades da Storm Chasing. Cada grupo chega a juntar 20 turistas. Oportunidade rara se se quer entender o que atrai tanta gente para situações que afugentam a maioria da humanidade.
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