A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hawking e a evidência de Deus



O novo livro do físico inglês Stephen Hawking (The Grand Design) tem tudo para dar sequência a uma discussão sem sentido e que, por isso mesmo, tende a levar a lugar algum: a idéia de que a criação do Universo dispensa a necessidade de Deus, ou de um deus, qualquer que seja ele.

Devidamente considerada, a idéia da existência ou não de Deus, sempre intrigou os humanos e, fundamentalmente, os dividiu em dois blocos: os que acreditam e os que não acreditam Nele.

Na sociedade de massas em que vivemos neste início do século 21, no entanto, uma discussão como essa é mais aborrecida que propaganda eleitoral, com seu sonolento desfile de lugares-comuns.

Com alguma frequencia as pessoas querem saber se acreditamos em Deus.

Qual o significado de uma pergunta como esta?

O que o interlocutor imagina que seja Deus? Um velhote vestindo bata-branca, de barbas longas, sentado em um trono tendo ao lado seu indefectível cajado?

Essa é uma idéia possível de Deus?

Aparentemente sim, para boa parte das pessoas.

Evidentemente que se trata de uma imagem infantil ou infantilizada, capaz de revelar conteúdos de natureza psicanalítica, mas incapaz de trazer qualquer contribuição a uma discussão que exige, acima de tudo, refinamento intelectual.

E isso tanto para aceitar quanto negar a existência de uma divindade máxima.

Acreditar que cientistas sejam capazes de resolver questões dessa magnitude é, antes de tudo, falta de informação sobre a natureza da ciência.

A ciência existe para, fundamentalmente, diminuir o sofrimento humano. A ciência é capaz de construir um relato inteligível sobre a natureza das coisas, incluindo a origem do Universo e da nossa surpreendente presença nele.

Mas isso não tem qualquer relação com afirmar ou negar, por exemplo, a existência de Deus. Ainda que uma confusão primária neste caso induza a equívocos como dar sequência a uma conversa sem fim e sem finalidade alguma.

Cientistas, de modo geral, conhecem profundamente (até o ponto que se possa considerar profundo) seus campos específicos de pesquisa. Mas costumam ser igualmente ignorante em outros.

Não muitos homens da ciência transcenderam o conhecimento a ponto de articular considerações promissoras numa ponte capaz de conduzir a conexões com um território tão possivelmente surpreende quanto ao de divindades.

Ou o equivalente disso.

Gênios como Erwin Schrödinger (1887-1961), físico austríaco, foi um deles. Seus escritos relacionados à transcendência de um cotidiano restrito, na direção de planos mais refinados de consciência e possibilidades, são, acima de tudo, experiências de profunda satisfação intelectual.

Mas, aqui, as considerações são de natureza incomparável ao que pensa, entre outros, o biólogo inglês Richard Dawkins (no livro, Deus, um Delírio) vítima do que um psicanalista diagnosticaria como “mania de grandeza”.

A batalha a que Dawkins se entregou, no passado recente, não é outra senão a de acuar e destruir o que ele chama de “Deus”.

Assim, entre homens como Schrödinger e Dawkins, para comparar dois cientistas, há uma separação de bilhões de anos luz.

A exploração da pretensa existência de Deus (seja lá o que isso signifique nos mais diferentes contextos considerados) produziu e continua produzindo, torturas, guerras e destruição ceifando vidas de homens, mulheres, velhos e crianças ao longo de milênios de história.

O que dá consistência a uma das frases de efeito de G. K. Chesterton (1874-1934), escritor e poeta inglês para quem, “quando deixamos de acreditar em Deus, passamos a acreditar em qualquer besteira”.

Claro que isso não significa tentar provar o que quer que seja.

Esta é apenas uma frase inteligente.

Conteúdo que sempre falta neste tipo de discussão.

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