A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 12 de setembro de 2010

A semana na Ciência

A semana 1 - A energia dos raios

Pesquisador brasileiro propõe a captação da eletricidade guardada nas nuvens, mais um passo na busca por alternativas energéticas limpas

Tempestade elétrica exibe sua fúria em estrada do Meio-Oeste americano

A mesma umidade que forma o orvalho que cobre as folhas das plantas durante a noite – facilmente perceptível em regiões como a Amazônia, por exemplo – pode ser a próxima fonte de energia limpa a abastecer o planeta. É o que propõe o cientista brasileiro Fernando Galembeck, da Universidade de Campinas (Unicamp). A pesquisa que comprova sua ideia foi apresentada durante a última reunião da Sociedade Americana de Química, em Boston (EUA). Galembeck garante que, principalmente em lugares com alta umidade relativa do ar, as famílias poderão ter dispositivos no quintal de suas casas que transformarão as partículas de água em eletricidade – algo semelhante ao que acontece na formação dos raios.

O fenômeno deixa cientistas entusiasmados há séculos. São célebres os relatos de pessoas que tomaram choques após tocar no vapor saído de chaleiras, como resultado da eletricidade estática que se forma nesse caso. O austríaco Nikola Tesla (1856-1943), famoso por, entre outros feitos, ter inventado a corrente alternada, sonhava em captar esse tipo de energia. O evento ocorre quando o vapor se acumula em partículas de poeira e outros materiais, gerando correntes elétricas. Até hoje, porém, os cientistas não conseguiram descobrir todos os segredos que explicam como o processo se dá na atmosfera.

Regiões úmidas como a Amazônia podem se beneficiar com a tecnologia

“O resultado obtido até hoje é muito fraco”, disse à ISTOÉ Marin Soljačić, físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. “Para utilizá-lo em larga escala, seria preciso encontrar um modo de aumentar consideravelmente a taxa de produção de energia.” Estima-se que a quantidade coletada num dispositivo do tipo seja 100 milhões de vezes menor do que a produzida numa mesma área com células de captação de energia solar. Por isso, Soljačić afirma que os estudos devem continuar. “É importante descobrir até onde a pesquisa pode chegar.”

O brasileiro Galembeck alcançou os resultados atuais depois de simular, em laboratório, o contato no ar entre água, partículas de outros líquidos e de poeira – sílica e fosfato de alumínio, substâncias comuns na atmosfera. Ele observou que as partículas de sílica se tornaram mais carregadas negativamente, enquanto o fosfato ficou positivamente carregado. “É uma clara evidência de que a água na atmosfera pode acumular carga elétrica e transferi-la para outros materiais com os quais entra em contato”, disse o pesquisador brasileiro durante o encontro, em Boston. Ele ainda acrescentou que a tecnologia pode ajudar a prevenir que raios se formem e atinjam construções.

Superados os devaneios dos séculos passados, parece que chegou o momento de a “energia da umidade” ser posta em prática. Soljačić, do MIT, dá sua sugestão. “É um pouco cedo para afirmar, mas talvez a nanotecnologia seja muito útil nesse sentido.” Galembeck admite que resultados concretos levarão tempo, mas que a espera se justifica. “Temos um longo caminho pela frente. Os benefícios em longo prazo, no entanto, podem ser substanciais”, afirma. Matéria-prima é que não vai faltar.




A semana 2 -"Os cientistas brasileiros não precisam deixar o país"

Matemático mineiro fatura um dos prêmios mais importantes do mundo com pesquisa inédita sobre a Teoria do Caos


“Já orientei mais de 40 teses de doutorado no Brasil.
Boa parte delas tem padrão internacional”
Jacob Palis, matemático


Um dos campos científicos menos badalados no Brasil rendeu reconhecimento internacional na semana passada. O matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, foi agraciado com o Prêmio Balzan, um dos mais importantes da Europa. Além dele, apenas seis estudiosos da área já conquistaram a láurea, concedida a pesquisadores de diversos ramos do conhecimento desde 1972. “Até hoje, apenas matemáticos dos Estados Unidos e da Europa haviam sido premiados”, celebra o cientista.

Quando recebeu a notícia do prêmio, Palis estava em um simpósio na Inglaterra, no qual falou sobre seu trabalho desenvolvido ao longo de 20 anos com sistemas dinâmicos, uma contribuição à Teoria do Caos (leia quadro). Mineiro de Uberaba, o pesquisador chegou a estudar e lecionar na Universidade de Berkley, na Califórnia, mas desde 1998 mora no Brasil e atua no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. “Descobri que podemos trabalhar com ciência no Brasil. É possível chegar a um patamar muito elevado ficando no País”, disse à ISTOÉ. “E não falo só por mim. Já orientei mais de 40 teses de doutorado de jovens talentosos. Boa parte delas tem padrão internacional”, ressalta. Palis afirma ainda que a matemática é hoje uma das áreas de destaque na pesquisa brasileira, ao lado da física e da engenharia. “Em termos de produção científica, estamos próximos da média mundial, tradicionalmente puxada pelos países desenvolvidos”, atesta. Já quando o assunto é a área biológica, de acor­do com o estudioso, os brasileiros começam a perder terreno por conta da falta de recursos para bancar esse tipo mais caro de pesquisa.

A cerimônia de entrega do Prêmio Balzan acontecerá em 19 de novembro, na Itália, onde fica a sede da fundação de mesmo nome. Palis receberá 750 mil francos suíços (quase R$ 1,3 milhão), mas a metade é obrigatoriamente destinada à pesquisa sob supervisão do matemático. Parte do dinheiro deverá ser destinada ao Impa, mas o matemático garante que o instituto já está muito bem financiado. Além do brasileiro, também foram agraciados o italiano Carlo Ginzburg, por seus estudos em história europeia, o alemão Manfred Brauneck, pelo trabalho em história do teatro e o japonês Shinya Yamanaka, que desenvolve pesquisas com células-tronco.

Para entender a Teoria do Caos

A Teoria do Caos é aplicada para entender como funcionam sistemas complexos em constante transformação – como o crescimento de populações, o comportamento do mercado financeiro ou a formação de uma nuvem. Uma das bases mais conhecidas da teoria é o chamado “Efeito Borboleta”, elaborado pelo matemático Edward Lorenz em 1963. Segundo o pesquisador, os resultados finais desses fenômenos dependem muito de suas condições iniciais. Assim, o bater de asas de uma borboleta em Nova York pode desencadear uma série de eventos que podem culminar em um furacão em Tóquio. O trabalho de Jacob Palis procura lançar novas luzes sobre essas questões. Ele propõe a hipótese de que os resultados de sistemas complexos tendem a se agrupar em padrões, tornando o imprevisível um pouco mais exato.

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