A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 28 de agosto de 2011

A Semana na Ciência


O robô que corre como homem

Cientistas desenvolvem máquina capaz de correr 

sobre duas pernas. Será o começo de uma era em que 

os humanos serão substituídos por soldados 

cibernéticos?

André Julião
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DESENGONÇADO
Mabel corre sobre duas pernas, mas ainda não se mantém de pé sozinho
Os robôs já falam, pegam objetos, jogam futebol, fazem atividades domésticas e de escritório. Mas, até hoje, eles não tinham a capacidade de replicar uma das façanhas mais características dos seres humanos: correr sobre duas pernas. Essa dificuldade agora é parte do passado. Cientistas revelaram o robô sem rodas mais rápido já criado. Ele é dotado de pernas com joelhos e pode alcançar 11 quilômetros por hora. É uma velocidade equivalente apenas à de uma pessoa trotando, mas o feito abre caminho para a criação de máquinas-soldados ou para resgates capazes de chegar a qualquer lugar que um ser humano puder.


“Queremos máquinas que possam, por exemplo, ajudar bombeiros. Elas poderiam entrar numa sala em chamas, subir escadas e desviar de objetos caídos”, disse à ISTOÉ Jessy Grizzle, um dos responsáveis pelo invento. O projeto é financiado em parte pela Darpa, agência de pesquisa das Forças Armadas americanas. Então o objetivo é criar robôs para matar? Sim e não. “O interesse da Darpa é no desenvolvimento tecnológico”, responde Grizzle. “Basta lembrar que eles desenvolveram carros que não precisam de motorista e agora o Google está testando a mesma tecnologia para o dia a dia”, diz. Outra criação famosa da agência é nada menos que a internet. 


O projeto, desenvolvido na Universidade de Michigan (EUA), foi batizado de Mabel, sigla em inglês para bípede antropomórfico com pernas elétricas. Mais do fazer soldados ou bombeiros cibernéticos, os pesquisadores querem usar robôs como plataformas científicas. “Estamos criando a ciência de locomoção sobre pernas em máquinas”, explica Grizzle. Outros usos podem ser exoesqueletos, capazes de fazer paraplégicos voltar a andar, ou dar a algumas pessoas habilidades super-humanas para correr e pular.
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"A parte mecânica dos robôs ficará pronta muito antes 
de a inteligência artificial servir como um cérebro"

Jessy Grizzle, responsável pelo projeto
O Mabel foi construído em 2008, mas novos algoritmos de computador criados agora deram a ele as condições para imitar a corrida humana. O corpo pesado, aliado a pernas leves e flexíveis, o deixa no ar por 40% do tempo de cada passo. Robôs anteriores tinham os dois “pés” fora do chão por um tempo quatro vezes menor. A diferença pode parecer pequena, mas é o que separa um passo robótico do nosso. Muito, porém, ainda precisa ser melhorado.


O robô ainda tem de estar atrelado a um tipo de braço, preso a um eixo central, para se manter de pé. Isso porque ele só se movimenta para a frente e para trás. O equivalente ao quadril no robô não se move para os lados. Portanto, ele não pode jogar o peso para a direita ou a esquerda a fim de se equilibrar, como fazemos o tempo todo. Junto com o pesquisador Jonathan Hurst, da Oregon State University, a equipe da Universidade de Michigan está construindo uma nova máquina que supera essa deficiência. “Ela poderá correr, pular, andar rápido e fazer tudo o que Mabel faz, sem precisar se apoiar em nada”, diz Grizzle.


Recentemente, IBM, Darpa e universidades americanas revelaram a criação de um chip que pode aprender, imitando a cognição humana. Outras máquinas estão se aproximando dos humanos, com feições, sentidos e outros atributos (leia quadro). Mas ainda falta muito para convivermos com robôs que possam ser confundidos com pessoas. “Minha aposta é que a parte mecânica ficará pronta muito antes de a inteligência artificial poder servir como um cérebro e dar total autonomia a eles”, diz Grizzle. “Nesse meio-tempo, poderemos controlá-los remotamente.” É o que temos para agora.
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Chantagem internacional

O Equador descobre uma fortuna em petróleo debaixo 

de uma das florestas mais ricas do planeta e faz 

proposta inusitada à comunidade internacional:se os 

países ricos pagarem, o oásis seguirá intocado

Larissa Veloso
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PARAÍSO
Turistas passeiam em canoa no Parque Nacional
Yasuní, um dos últimos biomas intocados pelo homem
Encontrar uma reserva de quase um bilhão de barris de petróleo é o sonho de qualquer nação. Mas, no caso do Equador, um campo descoberto em 2007 veio acompanhado de um grande obstáculo, uma vez que o recurso está debaixo de uma das florestas mais ricas em biodiversidade do mundo: o Parque Nacional Yasuní (leia quadro). Entre a decisão de explorar o campo Ishpingo Tambococha Tiputini (ITT), destruindo um dos últimos oásis ecológicos intocados pelo homem, ou perder US$ 7,2 bilhões em óleo cru, o país propõe uma terceira alternativa. E assim, pela primeira vez na história moderna, uma nação pode deixar de explorar um recurso natural altamente rentável em benefício da natureza. Mas só se a comunidade internacional pagar para isso.

Em 1989 o Parque Yasuní foi declarado pela Unesco como Reserva Mundial de Biosfera, uma região fundamental para a preservação do ecossistema terrestre. A proposta do Equador é manter a área intacta e ser recompensado por “abrir mão” da riqueza do petróleo em benefício da saúde do planeta. O preço dessa ação seria a metade do valor da reserva, ou US$ 3,6 bilhões, e o compromisso seria reafirmado a cada dois anos até 2024. Como primeiro passo, o país tenta, até o fim de dezembro, arrecadar US$ 100 milhões para viabilizar a iniciativa. Todo o recurso irá para um fundo que será gerido pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Lançada em 2009, a proposta ganhou a simpatia de vários países, mas até o momento ainda faltam US$ 60 milhões. “Foram recebidas várias cartas de apoio da comunidade internacional, mas poucos deram suporte financeiro. A iniciativa vai ser lançada novamente no mês que vem na Assembleia das Nações Unidas e assim esperamos que mais recursos sejam obtidos”, revela a representante da Conservação Internacional no Equador, Veronica Arias. Para ela, a proposta é tão inovadora que muitos países estão esperando que surjam projetos semelhantes para então empenhar seu dinheiro.
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INTOCADOS
O parque Yasuní é o lar dos últimos grupos indígenas que
ainda vivem isolados, como os membros da tribo waorrani
Mas para um dos autores da proposta, o ex-ministro de Energia do Equador, Alberto Acosta, não há desculpas para a demora nas contribuições. “Quando se trata de proteger a vida, as respostas deveriam ser imediatas. Lamentavelmente, não é assim que as coisas acontecem hoje em dia. Os EUA e a Europa levantaram com uma velocidade incrível milhões de dólares e euros para salvar os banqueiros. Se não há a mesma agilidade para atender às demandas da pobreza e da fome, que dirá então para proteger o meio ambiente”, protesta.

Mesmo assim, ele não perde as esperanças. “De qualquer forma, a exploração do campo de ITT terá que ser aprovada pela Assembleia Nacional. E o órgão pode então convocar uma consulta popular. A população equatoriana ainda não se pronunciou sobre essa questão”, defende. O governo do país tem pouco mais de três meses para arrecadar o restante do dinheiro. Se conseguir, abrirá caminho para que outras nações sejam pagas para não explorar seus recursos. Se falhar, será mais uma prova de que o mundo ainda não está disposto a pagar o preço da sustentabilidade.
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Valeu, Steve

Ao se afastar da Apple, o maior visionário do século XXI 

deixa para trás um legado incomensurável. A 

humanidade agradece

Hélio Gomes
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“Sempre disse que, se um dia eu deixasse de corresponder às expectativas
como CEO, seria o primeiro a informá-los. Infelizmente, esse dia chegou”

Steve Jobs, em carta à equipe da Apple
Não dá para dizer que a notícia pegou o mundo de surpresa, mas a dureza dos fatos teve força semelhante à de um chute direto de Anderson Silva ao pé do ouvido. Na quarta-feira 24, Steven P. Jobs, 56 anos, renunciou ao cargo de diretor executivo da empresa que fundou na garagem de seus pais adotivos em 1976. A partir de agora, ele será presidente e membro do conselho, afastando-se do dia a dia da firma. Chega ao epílogo, portanto, o ciclo produtivo de um dos empreendedores mais odiados, copiados e endeusados da história.


Em seu comunicado de despedida, Jobs não citou seus já conhecidos problemas de saúde, mas é bem provável que aquilo que sua frágil aparência demonstra seja, infelizmente, verdade. Depois de enfrentar um câncer no pâncreas em 2003, o empresário fez um transplante de fígado em 2009. Desde então, encara curtos períodos de trabalho e licenças médicas cada vez mais longas. Sua última aparição pública – em junho, na apresentação do serviço iCloud – causou consternação.


Digerido o susto, tanto o mercado quanto os especialistas em tecnologia alternam momentos de especulação e reflexão. No dia seguinte ao anúncio da saída de Jobs, as ações da Apple – que há poucas semanas chegaram a ser as mais valiosas do mundo, superando as da petrolífera Exxon – caíram 5%. Pouca coisa quando se pensa que, há dez anos, cada papel que hoje vale US$ 376 era comprado por U$ 9.


Por sua vez, o mundo tech tenta prever como será a rotina da Apple na era pós-Jobs. A aposta que parece ser mais certeira é aquela que transforma o maior arquiteto digital do século XXI em uma espécie de guru ou mestre Jedi. Se não tem mais condições físicas de passar horas discutindo o desenho de um simples botão do próximo iPhone em uma reunião, ele pode empenhar seus preciosos minutos em debates filosóficos com seu chefe de design, por exemplo. Jobs montou um time que, assim como ele, aprende por osmose. Há quem diga que o staff atual da Apple é um dos maiores êxitos da carreira do empresário. E o sucesso do novo CEO Tim Cook, à frente do negócio nas últimas licenças médicas do chefe, é a prova irrefutável disso. Mais: sabe-se que muitos produtos e serviços desenvolvidos nos últimos tempos estão na fila para chegar ao mercado. É bem provável que o caminho para os próximos cinco anos já esteja cuidadosamente pavimentado.


Basta olhar para trás para saber que a promessa feita por Jobs em sua carta de despedida – “Os melhores e mais inovadores dias da Apple estão por vir” – não é balela. Como o quadro abaixo demonstra, os produtos lançados pela empresa, sobretudo na última década, redefiniram a comunicação, o entretenimento e a forma como a humanidade lida com o conhecimento. Um exemplo: o iPhone literalmente mudou o mundo ao fazer com que o telefone deixasse de ser um mero comunicador vocal para se transmutar em uma máquina praticamente sem limites.


Em um dos momentos mais marcantes de sua trajetória, o clássico discurso proferido aos formandos da Universidade de Stanford (EUA) em 2005, Steve Jobs resumiu os principais eventos de sua vida em 15 minutos. Sem receio, com a voz e o espírito firmes, falou sobre o momento em que decidiu largar a faculdade (Jobs nunca se formou), sobre a demissão da empresa que fundou e seu posterior retorno e, por fim, sobre sua primeira vitória na luta contra o câncer. “A única forma de realizar um grande trabalho é amar o que se faz. Como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar esse amor. Continue procurando até achar”, disse o empresário, que acabara de completar 50 anos.


Lições como essa devem fazer parte da primeira biografia autorizada de Steve Jobs, que chega às lojas americanas em novembro. Escrita por Walter Isaacson – ex-editor da revista “Time”, ex-diretor executivo da rede CNN e biógrafo de gigantes como Albert Einstein e Benjamin Franklin –, a obra foi antecipada em alguns meses. A urgência tem suas razões.
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Assista ao vídeo com trechos do discurso de Steve Jobs na Universidade de Stanford, em 2005 :
Parte 01
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Parte 02
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