A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quantas lâmpadas equivale um homem ?


Há um horizonte muito amplo colocado pelo mundo contemporâneo para a escola. Não se pode perder de vista, porém, que ela é um espaço onde a aprendizagem de conteúdos deve estar obrigatoriamente voltada para a compreensão da realidade social.

Desde meados de 2001, um assunto muito presente na mídia é a racionalização do uso de energia elétrica e a conseqüente meta de redução do consumo. O “apagão”, iminente à época, desencadeou uma comoção nacional e tornou indispensável a discussão de conceitos e números antes ignorados pela grande maioria da população.

Muitos dos professores de Matemática, Física e Engenharia aproveitaram a motivação gerada por esse fato para introduzir conceitos, discutir posturas e políticas, analisar dados e para isso precisaram informar. Comentar, por exemplo, as diversas unidades de medida de energia. Mas dizer que 1 quilowatt hora - kWh é
igual a 3600 quilo joules - kJ - que por sua vez é igual a 860 quilo calorias - kcal - que ainda é igual a 8,6 x
10-5 toneladas equivalentes de petróleo - TEP - nem sempre facilita a compreensão. Em outras palavras, afirmar que 1 caloria - cal - é igual a 4,18 joules - J - ou que 1 BTU (unidade ainda hoje utilizada para indicar a capacidade de refrigeração de aparelhos de ar condicionado) é igual a 0,293 Wh não motiva o estudante
para a investigação ou para a compreensão da realidade que o cerca.

O assunto ‘racionamento’ pode ser adequado para explicar a relação existente entre nosso estágio de desenvolvimento e o consumo de energia. Mas será que é simples explicar que o consumo diário de energia per capita (do homem de hoje) é cerca de 230 mil kcal considerando a sua alimentação (que demanda uma grande quantidade de energia para ser elaborada), a sua moradia, a existência do comércio, da indústria, da agricultura e do seu transporte? Há alguém vivendo nas grandes cidades que não utilize alimento e vestuário industrializados ou veículos como o ônibus que consomem muita energia? E muitas outras comparações
podem ser feitas com o tema. Mas responder à pergunta: “A quantas lâmpadas equivale um homem?”,  parece ser muito intrigante e adequado para um estudante, principalmente do Ensino Médio. Então vamos à conta. Bem, um homem precisa de cerca de 2000 kcal diárias para sobreviver (que o digam todos os gordinhos que fazem regime!). Ora, 2000 kcal equivalema 2000 x 4,18 = 8360 kJ. Se 1 watt - W - é igual a 1 J/s então 1 J = 1 W.s e 8360 kJ = 8360 kW.s.

Portanto, um homem precisa de 2000 kcal, ou seja, 8360 kW.s por dia. Como 1 segundo - s - é igual a 1/
3600 de hora - h -, tem-se 8360 kW.s = 8360/3600 kW.h que é cerca de 2,3 kW.h. Como esta é a energia
consumida por dia e o dia tem 24 horas, Logo, em termos de consumo de energia, o homem é “equivalente a
uma lâmpada de 100 W”.

Podemos continuar as nossas investigações perguntando, por exemplo, quanto um homem gastaria para sobreviver se ele pudesse suprir a  suas necessidades diárias consumindo a energia elétrica disponível em sua
residência.

Ao preço de R$ 0,25 o kW.h, a energia correspondente a 2000 kcal que é igual a 2,3 kW.h custa R$ 0,57.
Parece que é mais barato que os almoços de R$ 1,00 que a imprensa tem divulgado como subsidiados pelo governo do Rio de Janeiro... E quando comparada com uma alimentação à base de queijo, como ficaria a nossa alternativa de usar a energia elétrica?

Para responder a essa pergunta é preciso comparar o que se paga pelo queijo e pela energia elétrica. Um pedaço de queijo de 30 gramas tem cerca de 60 kcal. Para completar 2000 kcal, são necessários cerca
de 30 pedaços. Esses pedaços de queijo certamente não sairão por menos de R$ 5,00. Cerca de 900% mais caro que a energia elétrica!

Os números, apresentados de forma pura e simples, podem não seduzir a todos... mas não há curiosidade que não possa ser despertada com um problema bem contextualizado. a potência do homem é de 2,3/24 kW, ou seja, de cerca de 100 W.

Fonte : José Roberto Drugowich de Felício
É físico e professor da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP em
Ribeirão Preto.

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