A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 23 de outubro de 2011

A Semana na Ciência


Epidemia do medo

Baseado em uma pesquisa rigorosa, "Contágio" é um 

suspense que retrata o estrago mundial causado por um 

novo vírus

Ivan Claudio
Assista ao trailer :
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OPORTUNISTA
Jude Law se protege do vírus: blogueiro que lucra com a doença
Uma tela preta e o som de uma tosse que invade a sala de cinema – assim se inicia “Contágio” (em cartaz na sexta-feira 28), o thriller científico estrelado por Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow, juntos pela primeira vez desde “O Talentoso Ripley”. Durante as duas horas de suspense, esse som vai se sobrepor aos diálogos do filme, misturado a uma trilha tecno que imprime rítmo à sua montagem rápida: tosse. Trata-se do primeiro sintoma de uma nova enfermidade que está se alastrando pelo planeta na velocidade dos aviões que cruzam os oceanos. Depois vem a febre, as convulsões e uma fulminante encefalite. Quem aparece com os primeiros sintomas da infecção pelo novo vírus, mais tarde nomeado MEV-1, é a empresária vivida por Gwyneth. Ela havia estado em Hong Kong a negócios, apertou a mão de muitos executivos, tocou em fichas de um cassino, entregou seu cartão de crédito a um sem-número de pessoas. Pensa que o mal-estar é mero jet leg. Chega em casa em Mineapollis, abraça o filho. Em dois dias está morta – e também o garoto. Ao mesmo tempo, um rapaz febril é atropelado na China, uma modelo cai num banheiro em Londres, um executivo sente calafrios no Japão. A Organização Mundial de Saúde não tem dúvidas: na progressão geométrica em que o vírus começa a se alastrar, se está diante de uma pandemia. Beth Emhoff, a personagem de Gwyneth, não sabia disso: ela é a paciente zero da nova doença que vai provocar o caos total.
O diretor Steven Soderbergh se inspirou, obviamente, na recente epidemia do vírus H1N1 para criar a trama de “Contágio” e, para não soar leviano ao tratar de um tema de poder viral, tentou ser o mais científico possível. Afora o núcleo familiar dos Emhoff, cujo patriarca é o bom moço Matt Damon, a maioria dos personagens são profissionais da área de saúde – não médicos de plantão, mas aqueles que lidam com o poder da medicina e da ciência. Está lá o diretor do CDC (Center of Disease Control), o órgão americano que cuida do mapeamento de moléstias, interpretado por Laurence Fishburne; a médica-chefe do serviço de inteligência epidêmica, papel de Kate Winslet; a pesquisadora da vacina, vivida por Jennifer Ehle; e finalmente, a epidemiologista da Organização Mundial de Saúde, defendida por Marion Cottilard. Esse batalhão branco une forças para rastrear o vírus, identificá-lo e, o mais importante, criar uma vacina que o neutralize. A corrida contra o tempo, acompanhada dia a dia, é de tirar o fôlego. Mesmo porque é orquestrada por quem entende do gênero docudrama. Soderbergh, que opera a própria câmera, usou a mais avançada tecnologia digital e isso o permitiu filmar em ambientes naturais sem o auxílio de luzes suplementares. Nesse quesito, o filme é um espetáculo.
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CAOS
Matt Damon e a população em desespero: cada um por si enquanto não chega a vacina
Do lado científico, o cineasta contou com todo o apoio dos cientistas do CDC, que inclusive abriu suas portas para as filmagens. A cena passada no reconstruído laboratório de biossegurança (BLS-4), por exemplo, é de um realismo impressionante ao mostrar os personagens “envelopados” em roupas de proteção, munidos de oxigênio pressurizado. Mesmo detalhes ínfimos foram respeitados. A sequência em que a médica testa a vacina em sua perna teve que ser refilmada pelo fato de a atriz estar usando meia-calça – para um dos consultores do filme Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunidade da Universidade de Colúmbia, isso seria inconcebível. 

Em um artigo especial para a revista “The Atlantic”, o diretor do CDC, Thomas R. Frieden, aprovou o resultado e afirmou que o filme é “o retrato justo e acurado de como profissionais de saúde pública respondem ao aparecimento de uma epidemia”. Mas se esquivou de fazer apreciações ao blogueiro interpretado por Jude Law, um jornalista inescrupuloso que aposta na teoria de conspiração e na aliança entre a saúde pública e os grandes laboratórios. Frieden concorda também com a velocidade com que o vírus se propaga e acrescenta que, todo ano, pelo menos uma nova enfermidade é identificada. Foram informações como essa que permitiram aos atores dizer frases assombrosas como essa saída da boca da médica vivida por Kate Winslet: “A cada minuto, uma pessoa toca o seu rosto até cinco vezes e, ao fim do dia, cerca de cinco mil vezes.” É por causa dessa “síndrome das mãos inquietas” que micróbios passam de uma pessoa para outra. “Esse filme pode fazer pelos botões de elevadores e pelas maçanetas o que ‘Tubarão’ fez pelas pessoas na praia”, afirmou Soderbergh. Ele tem razão: dá para imaginar a espera nas pias dos banheiros ao final da sessão.  
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A guerra dos não tripulados


Brasil entra no mercado cada vez mais disputado de 

aeronaves sem piloto, usadas para missões militares ou 

de monitoramento

André Julião
Se depender dos avanços da tecnologia e de um mercado que cresce a cada dia, não vai demorar muito para que tenhamos sobre nossas cabeças cada vez mais aeronaves que vão informar a situação de florestas, plantações e depósitos naturais de minérios. Esses espiões, mais conhecidos pelas siglas Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado) ou UAV (em inglês), ganharam os céus graças aos militares, sempre sedentos por informações para o combate, mas conquistam cada vez mais o espaço aéreo global para fins civis.

Graças à sua supremacia bélica, os EUA são os líderes dessa tecnologia. O país possui nada menos que 7 mil unidades dos aviões apenas para uso militar. A administração Obama aumentou a sua aplicação nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Osama bin Laden, inclusive, só foi encontrado no Paquistão graças a imagens feitas por Vant. O mesmo ocorreu na semana passada, quando um Vant atuou no cerco ao comboio de Kadafi.

As aeronaves são controladas por uma central em solo e capazes de pousar e decolar sozinhas. “A vantagem dos Vant é que dá para encaixar qualquer coisa neles: câmeras, equipamento de espionagem ou armas”, disse Dennis M. Gormley, pesquisador da Universidade de Pittsburgh (EUA), ao jornal “The New York Times”. 

Apenas EUA, Israel e Reino Unido confirmam o uso dessas aeronaves em ataques, mas especialistas estimam que mais de 50 países fabriquem ou comprem Vant – e o número aumenta a cada dia. A Alemanha recentemente apresentou o seu, batizado de Euro Hawk, e fabricantes chineses demonstraram 25 modelos no ano passado. A maioria dos veículos, no entanto, é usada para monitoramento.

É nesse nicho que aposta Adriano Kancelkis, diretor-presidente da AGX Tecnologia, de São Carlos (SP). Criada em 2002, a empresa começou a comercializar Vant neste ano. “A maior aplicação ainda é o monitoramento de lavouras”, diz o empresário. Recentemente, a AGX cedeu dois aviões para a Polícia Militar paulista, que os utiliza na detecção de crimes ambientais, como queimadas e desmatamentos.

Já a Polícia Federal começou a utilizar em setembro duas aeronaves modelo Heron, fabricadas pela IAI (Indústria Aeroespacial de Israel) e comercializados no Brasil pela EAE Soluções Aeroespaciais. As aeronaves são usadas no monitoramento da tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, principalmente no combate ao tráfico e contrabando. O plano da PF é obter mais 12 unidades. “Elas são guiadas por satélite, que tem alcance muito maior do que as controladas por rádio”, diz Moshe Cytter, diretor da EAE. Ambos os empresários concordam que o mercado brasileiro tem um grande potencial. Afinal, terreno para ser investigado não falta.  
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Grito de alerta

Estudo mostra que várias espécies animais e vegetais 

estão diminuindo de tamanho por conta dos efeitos do 

aquecimento global, o que pode afetar diretamente os 

humanos

André Julião
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PEQUENA FERA
Medidos no século XXI, crânios de lince – felino que vive em diferentes
partes geladas do Hemisfério Norte – eram menores do que outros de 1953
O aquecimento global está causando um efeito inesperado nas espécies que habitam o planeta. Em resposta a temperaturas cada vez mais altas, as novas gerações de algumas plantas e animais têm tamanhos cada vez menores. O alerta vem de dois pesquisadores da Universidade Nacional de Cingapura, em artigo publicado na revista especializada inglesa “Nature Climate Change”. Segundo os cientistas, esse efeito poderia afetar negativamente plantações e fontes de proteínas como os peixes, importantes para a nutrição humana. 
O levantamento dá conta de que uma vasta gama de espécies, de plantas a predadores, está sofrendo os efeitos das mudanças climáticas. “Analisamos o que foi publicado sobre o assunto nas últimas décadas, assim como evidências de fósseis. As duas abordagens demonstram uma relação direta entre aquecimento e encolhimento”, diz David Bickford, um dos autores do estudo. “Precisamos entender por que isso está acontecendo e o que significa para a sociedade”, completa.

Segundo o especialista, o estudo é uma evidência de que estamos alterando o clima do planeta a ponto de causar um impacto na maioria das espécies. O principal problema, porém, não é a redução do tamanho das plantas e animais, mas as diferentes respostas de cada um – alguns encolhem enquanto outros não são afetados da mesma maneira. “O fato de não ser um evento universal é problemático, porque tem o potencial de abalar os ecossistemas e a cadeia alimentar”, diz Bickford.

Plantas menores, por exemplo, significam menos recursos para os animais que as comem, o que pode levar a indivíduos ou mesmo a populações inteiras menores. Em última instância, a redução do tamanho pode resultar em perda de biodiversidade e até mesmo causar efeitos danosos aos seres humanos, como plantações menos produtivas e serviços ambientais comprometidos ou limitados – menos organismos purificadores de água ou sapos para comer insetos perigosos, por exemplo.
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ANÃS
Segundo estudo, espécies amazônicas correm risco
Um grau centígrado a mais nos termômetros pode diminuir o tamanho de invertebrados marinhos em mais de 4%, salamandras em 14% e peixes em até 22% (conheça mais exemplos no quadro abaixo). Mas a redução mais perigosa, provavelmente, é a do fitoplâncton, plantas microscópicas que são a base da cadeia alimentar em todos os oceanos. “Isso pode afetar negativamente toda a vida no mar”, afirmam os pesquisadores.

Eles também já sabem que nem tudo fica menor com o aquecimento global. Um estudo publicado no ano passado mostra que marmotas da barriga amarela podem ficar maiores em decorrência das mudanças climáticas. Os cientistas acompanharam por 30 anos uma colônia desses mamíferos, que, por conta do calor, passaram a desmamar mais cedo e tiveram tempo para crescer mais. Outros estudos indicam que certas espécies de lagarto, pato, lontra e algumas aves também estão crescendo em tamanho corporal. A maioria delas, no entanto, habita lugares de altas latitudes, onde a vegetação cresceu com o aumento da temperatura, tornando o encolhimento menos comum. Apesar do alerta, os pesquisadores são cautelosos. “Ainda não sabemos se esse fenômeno pode ser catastrófico ou se os sistemas evolutivos e ecológicos vão se adaptar”, finaliza Bickford.  
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