A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 30 de outubro de 2011

A Semana na Ciência


Menos gelo, mais dinheiro

Empresas que transportam e exploram petróleo 

aproveitam o derretimento do Ártico para lucrar com 

novas rotas marítimas

André Julião
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DESBRAVADORES
Embarcações russas rasgam o gelo no Mar de Lincoln, no Ártico
Quem faz e propagandeia produtos e serviços ditos sustentáveis não são os únicos que estão lucrando com o aquecimento global. Além deles – e dos empresários que vendem créditos de carbono –, as mudanças climáticas estão ajudando aqueles que se beneficiam diretamente da relação entre calor e dinheiro. Com o derretimento do gelo do Polo Norte, o Oceano Ártico – antes debaixo de uma camada de gelo – se tornou um mar de oportunidades para empresas que transportam mercadorias no Hemisfério Norte.

“O Ártico é o atalho entre os maiores mercados da Europa e da Ásia”, disse recentemente o primeiro-ministro russo Vladimir Putin. “Trata-se de uma excelente oportunidade para otimizar custos.” A Rússia é um dos maiores interessados na nova fase do gelo ártico. Em algumas rotas, a viagem pelo topo do país se tornou competitiva quando comparada à passagem da Europa para a Ásia pelo canal de Suez, por exemplo. De acordo com o ministério dos transportes russo, a viagem de Roterdã (Holanda) para Yokohama (Japão), pela passagem Nordeste, na costa da Rússia, é cerca de 7 mil quilômetros mais curta do que pelo conhecido canal que divide a África e o Oriente Médio.

O primeiro uso dessa nova rota marítima, no entanto, é para dar suporte às indústrias que rumam para o Polo Norte, como as de mineração e exploração de petróleo. A empresa norueguesa Tschudi, por exemplo, comprou e reativou uma mina no norte do país para vender minério para a China pela passagem Nordeste. Uma viagem que antes demorava 37 dias até a cidade chinesa de Lianyungang, por exemplo, agora leva 21. A economia, segundo executivos da companhia, é de US$ 300 mil dólares por viagem.
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OURO NEGRO
Instalações da petrolífera BP no Alasca
Empresas da Dinamarca, outro dos oito países que possuem território no Polo Norte, também relataram recentemente uma economia considerável ao usar a nova rota. A Nordic Bulk Carriers, por exemplo, garante ter reduzido a um terço do custo atual o transporte de bens para a China, via Ártico. “Economizamos mil toneladas de combustível – cerca de 3 mil toneladas a menos de CO2 lançadas na atmosfera – numa viagem entre a cidade russa de Murmansk e o norte da China”, disse Christian Bonfils, diretor da empresa, ao jornal britânico “The Guardian”. 

Os ambientalistas veem a nova fronteira marítima com reservas. O argumento é de que uma corrida marítima pelo Ártico pode acelerar o aquecimento global. Embora reconheçam que os navios queimarão menos combustível e emitirão menos carbono, eles temem vazamentos de óleo e outros acidentes marítimos, assim como o “carbono negro”, resíduo da queima incompleta de combustíveis que acelera o aquecimento global.

De toda forma, será difícil conter a euforia dos navegadores e exploradores de petróleo nesse, até então, inóspito território. Num claro sinal de que o Ártico está entrando no mapa, os navios quebra-gelo russos – que abrem caminho para outras embarcações, como bem indica o nome – receberam 15 solicitações para escoltar viagens em 2011, contra apenas quatro no ano passado. Especialistas estimam que 2% da navegação global deve ser desviada para os mares árticos até 2030, aumentando para 5% até 2050. O Polo Norte, definitivamente, nunca mais será o mesmo. 
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Um mundo, 7 bilhões de pessoas

Número de humanos no planeta atinge marca recorde e 

levanta a incômoda questão: até quando a Terra será 

capaz de suportar tanta gente?

Hélio Gomes
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LOTAÇÃO 
Acima, tumulto nas ruas de Mumbai, na Índia. Abaixo, Kofi Annan e o bebê número 6 bilhões
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Aos 12 anos, o garoto bósnio Adnan Nevic é uma das poucas celebridades de Visoko, pequena cidade perto da capital Sarajevo. Ele não faz parte do elenco de algum programa de televisão infantil nem sobe aos palcos como um improvável Justin Bieber da antiga Iugoslávia. A fama de Adnan é fruto de uma escolha tomada pela ONU em 1999. Naquele ano, a cúpula das Nações Unidas resolveu eleger uma das crianças nascidas nos escombros da Guerra da Bósnia para marcar a chegada do habitante número 6 bilhões ao nosso planeta. Mais de uma década depois, o menino reflete sobre seu sucessor. “Gostaria que a chegada do bebê 7 bilhões trouxesse paz para o mundo”, disse o garoto para o jornal inglês “The Guardian”.

Infelizmente, é muito provável que o desejo do jovem bósnio passe em branco. Segundo os cálculos da ONU, a criança-símbolo de mais esse significativo momento da humanidade, marcado para a segunda-feira 31, deve nascer na Índia, um dos países mais populosos e díspares do planeta. Nas favelas de Mumbai ou Nova Délhi, ela pode ser recebida pelas adversidades de um mundo onde se sobrevive com menos de US$ 2 por dia, a água é um bem cada vez mais raro e a falta de saneamento básico ainda é responsável por altos índices de mortalidade infantil.

“A população mundial vai continuar a crescer e precisamos estar preparados para isso”, diz Richard Kollodge, um dos editores do relatório das Nações Unidas sobre a expansão populacional divulgado na semana passada. Uma análise dos números compilados no trabalho revela dados importantíssimos sobre a evolução de nossa espécie e as diversas maneiras como construímos nosso legado, geração após geração.

O grande responsável pela explosão populacional da segunda metade do século passado foi o chamado baby boom do pós-guerra. Na década de1950, a média global de filhos por mulher chegava a 6. Hoje, o número estabilizou-se em 2,5. Essa desaceleração, somada aos avanços na medicina e na melhoria das condições de vida nos países em desenvolvimento, deve fazer com que o intervalo entre um bilhão e outro de terráqueos aumente progressivamente (confira quadro à direita). Mesmo assim, os recursos naturais do mundo serão consumidos em ritmo cada vez mais intenso.

Mais uma vez, os especialistas afirmam que a única solução para nossos herdeiros chegarem ao final do século XXI a bordo de um planeta minimamente saudável reside na combinação de educação, uso inteligente de nossas riquezas e planejamento. Afinal, algumas estimativas apontam que o número de habitantes em 2100 chegue a impressionantes 15 bilhões.

A ONU já anunciou que, desta vez, não recorrerá à arriscada estratégia de marketing de escolher seu bebê 7 bilhões. Há 12 anos, dois dias depois de dar à luz Adnan, a mãe do menino bósnio o entregou a Kofi Annan, ex-secretário geral da ONU, que posou orgulhoso para a matilha de fotógrafos. Foi a última vez em que eles se encontraram. “Pensávamos que Annan seria como um padrinho para ele”, diz Jasminko Nevic, pai do garoto. Ledo engano.  
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