A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 2 de outubro de 2011

A Semana na Ciência


Tesouro sob as águas

Empresa de exploração marítima encontra R$ 430 

milhões em prata em um cargueiro afundado em 1941. É 

a maior fortuna já encontrada no oceano

Flávio Costa
Riquezas quase incomensuráveis escondem-se nos ce­mitérios de naus que povoam os oceanos. Somente em águas brasileiras, estima-se que existam duas mil embarcações naufragadas, parte delas recheada de moedas de ouro e prata. A caça desses tesouros marítimos faz a fortuna – e também lança polêmica – de empresas detentoras das mais modernas tecnologias de regaste de naufrágios. A americana Odyssey Marine Exploration divulgou, na semana passada, a descoberta da localização do cargueiro inglês SS Gairsoppa, que jazia havia seis décadas a 4,7 mil metros de profundidade no Atlântico Norte. Ele trazia sete milhões de onças de prata, avaliadas em R$ 430 milhões. Desse total, 80% ficarão com a empresa e o restante será destinado ao governo britânico. É a maior fortuna já encontrada sob o oceano. 

Construído em 1919, o Gairsoppa transportou mercadorias pelas águas do Extremo Oriente e da Austrália, Índia e África Oriental, e levou suprimentos militares durante a Segunda Guerra Mundial. Sua trajetória chegou ao fim em 17 de junho de 1941, quando o navio mercantil empreendia a viagem entre Índia (partindo de Calcutá) e Inglaterra, com uma tripulação de 83 marinheiros e dois oficiais de artilharia. A 300 milhas da costa da Irlanda, um submarino nazista o atingiu com um torpedo U-boat. Apenas o oficial Richard Ayres sobreviveu ao naufrágio, após ficar à deriva por 13 dias em um bote salva-vidas – ele morreu em 1992.

O navio foi localizado por meio de um sistema sonar de baixa frequência conhecido como MAK-1M, que estava a bordo de um navio russo especializado nesse tipo de investigação. A procura começou em janeiro de 2010, quando a Inglaterra abriu licitação para a busca. Os pesquisadores confirmaram a identidade do SS Gairsoppa por meio de checagem de suas características: comprimento, largura e altura do navio, o tipo de âncora, os cinco porões de carga reservados para os lingotes de prata. A retirada da embarcação vai começar apenas no segundo trimestre de 2012. “Tivemos a sorte de encontrar o navio “sentado”, com os porões abertos e acessíveis. Com isso, deverá ser possível descarregá-lo através das escotilhas como aconteceria com um navio flutuante ao lado de um terminal de carga”, disse Greg Stemm, presidente da companhia, que tem a Disney entre seus investidores. Pelo menos 15 navios naufragados foram encontrados por seus pesquisadores desde 2000.

 
A descoberta do paradeiro do cargueiro inglês veio a calhar para as finanças da Odyssey. A empresa trava uma batalha na Justiça dos Estados Unidos contra o governo espanhol pelas 500 mil moedas de prata e ouro do navio La Mercedes, que afundou perto da costa de Gilbratar em 1804 e foi encontrado por ela em 2007. O navio foi afundado pela Marinha inglesa em guerra contra a Espanha na ocasião. Na época da descoberta desse tesouro, o ministro da Cultura, César Antônio Molina, referiu-se à empresa como “pirata”. Stemm defendeu-se dizendo que compartilha com o mundo suas descobertas. “Mas também precisamos ganhar a vida”, disse ao jornal britânico “The Guardian”. Uma semana antes do anúncio do SS Gairsop­pa, o Tribunal de Apelações de Atlanta confirmou a decisão em primeira instância que obriga a empresa a devolver a fortuna ao governo espanhol. As ações da Odyssey despencaram 44%, mas a companhia promete recorrer.

As empresas de exploração marítima não lucram apenas com os minérios encontrados nos navios. Outros tipos de carga de valor arqueológico são vendidos no próprio site da Odyssey, a exemplo do pedaço de carvão do navio a vapor SS Republic, que desapareceu durante uma tempestade na travessia entre Nova York e Nova Orleans, em 1865. O artefato é vendido por US$ 25 (R$ 46). Esse tipo de comércio coloca em lados opostos os chamados caçadores de tesouro e os arqueólogos marítimos para quem esses achados devem ser de domínio público. “A arqueologia tem o propósito de divulgar os artefatos produzidos pelo homem através da história. Os verdadeiros arqueólogos não visam o enriquecimento pessoal”, afirma o educador patrimonial do Instituto de Arqueologia Brasileira, o bioarqueólogo Antônio Souza.

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Ecocídio, um crime mundial

Advogada ambientalista britânica propõe que desastres 

ambientais sejam considerados crimes contra a paz e 

passem a ser julgados pelo Tribunal Penal Internacional 

da ONU

Hélio Gomes
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INFERNO
Magnitogorsk, na Rússia, centro de produção de aço e um dos locais mais poluídos do país
Genocídio, crime contra a hu­manidade, agressão entre países e crime de guerra. Em breve, a lista de atrocidades passíveis de julgamento na mais alta corte da Organização das Nações Unidas, o Tribunal Penal Internacional, pode aumentar. E o delito em questão promete inaugurar um novo verbete em dicionários das mais diversas línguas: ecocídio, ou dano extensivo, destruição e perda de ecossistemas em qualquer parte do globo (leia a definição completa no quadro acima).

A ideia, que deve ser votada pela ONU em 2012, é fruto da mente inquieta da advogada ambientalista escocesa Polly Higgins. Filha de um meteorologista, ela abraçou a causa ambiental há cerca de uma década, depois de construir uma bem-sucedida carreira na vara trabalhista. Desde então, ganhou destaque como autora da Declaração Universal de Direitos do Planeta – baseada na Declaração Universal dos Direitos Humanos e já aceita pela ONU – e criadora da Wise Women Network (Rede de Mulheres Sábias), organização que tem como missão estimular a discussão sobre o aquecimento global entre as britânicas. Radical sem ser xiita, conquista cada vez mais respeito – e alguns detratores, claro – ao advogar em nome de um só cliente: o planeta Terra.

Depois de obter o apoio de figuras de peso na Grã-Bretanha, Higgins foi capaz de convencer a Suprema Corte de seu país a rea­lizar o julgamento de um ecocídio fictício. Encenado na sexta-feira 30 e transmitido ao vivo pela internet e via tevê por assinatura, ele foi protagonizado por procuradores e advogados de verdade, que acusaram e defenderam um alto executivo – interpretado por um ator – de uma gigante do petróleo. Sentado no banco dos réus, o CEO foi responsabilizado pelos danos causados por um derramamento sem precedentes no Golfo do México (alguém se lembra da tragédia da BP em 2010?) e por um desastre decorrente da extração de óleo de areias betuminosas no Canadá. O debate de improviso, segundo os organizadores, levantou questões importantes, como a divisão da culpa entre governos e empresas e as formas de medição do alcance dos danos. Depois de horas de argumentação, o júri considerou o CEO parcialmente culpado pelos desastres.
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ATIVISMO
A escocesa Polly Higgins, que se autodefine como “advogada da Terra”
“Em sua essência, um ecocídio é a antítese da vida”, resumiu Higgins em conversa com ­ISTOÉ no Twitter enquanto o julgamento acontecia em Londres. Segundo a advogada, sua principal intenção ao propor a nova lei à ONU não tem nada a ver com o revanchismo típico dos defensores mais fundamentalistas da natureza. “Não quero ver um monte de executivos na cadeia. Acredito que uma lei para os ecocídios poderia fazer com que essas pessoas tenham mais responsabilidade sobre seu trabalho”, diz a escocesa.

Para Diogo Antônio Correa dos Santos, advogado especialista em direito internacional, a cruzada de Higgins na ONU não deve ser fácil. “Já existem diversas convenções que inclusive preveem sanções a quem não cumpri-las. Os Estados é que precisam se comprometer com a fiscalização”, afirma. Santos lembra que criar uma lei internacional ainda exige que ela esteja de acordo com o texto legal de cada país. “Se a legislação for contrária à Constituição local, não terá efeito”, diz. No caso das leis regidas pelo Tribunal Penal Internacional, elas precisam ser aprovadas por pelo menos 86 dos 116 países signatários – Brasil inclusive –, uma briga difícil.

A principal justificativa de Higgins em sua proposta para incluir o ecocídio na lista dos chamados crimes contra a paz é a de que a escassez de recursos inevitavelmente leva ao conflito. “A guerra vem a reboque nos lugares onde a natureza é destruída pela ação do homem”, conclui a ambientalista. Resta saber se o seu argumento será capaz de convencer o mundo.
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Colaborou André Julião 

Chegou a hora de falar com as máquinas

Como novos avanços no comando por voz - uma das 

prováveis atrações do iPhone 5, que será lançado na 

terça-feira 4 - devem mudar nossa relação com os 

computadores

André Julião
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PROMESSA 
O Android (acima), criado pelo Google de Page (última), prometeu, mas não entregou.
Melhor para a Apple de Cook (abaixo), que deve trazer inovações no iPhone 5
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O sonho de conversar com as máquinas é tão ou mais velho que as próprias traquitanas. Cada geração tem seus filmes, histórias em quadrinhos ou desenhos animados sobre uma realidade em que, com um simples comando de voz, uma atividade é executada por um computador. Uma nova esperança de que a fantasia se torne realidade deve surgir com o lançamento do iPhone 5, marcado para a terça-feira 4. Não bastassem rumores e vazamentos na imprensa especializada, a Apple convidou jornalistas para um evento com um sugestivo texto que dizia “Let’s talk iPhone” (literalmente, “Vamos falar iPhone”), um jogo de palavras que brinca com “falar sobre” e “falar no” aparelho.

O papel de messias nessa história parecia ter ficado com o Google, quando, no ano passado, a empresa anunciou melhorias no Android, seu sistema operacional para smartphones. As opções, contudo, não foram além das poucas funções como escrever mensagens de texto, fazer uma ligação e procurar um endereço. Nada que o iPhone atual não faça. Essas funções, limitadas, não substituíram o toque na tela na preferência dos usuários. 

Por isso, espera-se que as inovações no iPhone 5 possam ir muito além. Esse conjunto de operações acionadas por voz se chamaria Assistant (assistente, em inglês). Ele teria a capacidade de converter automaticamente uma frase em um comando no iOS 5, sistema operacional do smartphone. Qualquer função, desde marcar um compromisso na agenda (discriminando a pessoa e o local, por exemplo) até outras mais comuns, como ligar para alguém, estariam interligadas ao programa. Como já acontece no comando de voz existente hoje, bastaria apertar um botão e dar o comando. Como um perfeito assistente pessoal.

A diferença é que agora a máquina interpretaria com muito mais precisão o que é dito e transformaria o comando em tarefas mais complexas do que as executadas hoje. Mas não se trata de uma via de mão única, em que o usuário fala e o aparelho realiza. De acordo com o site especializado em Apple “9to5Mac”, que teve acesso a uma versão preliminar do programa, se você diz algo como “marque uma reunião com José da Silva”, o assistente responde perguntando a hora e a data. Uma vez que você dá essas informações, ele pergunta como contatar José (ligando, mandando um e-mail ou mensagem de texto) e assim sucessivamente.

Outra característica inovadora do Assistant será a capacidade de, apenas com a voz, criar e enviar um SMS ou iMessage (serviço de mensagens de texto gratuito entre usuários do iPhone). Por exemplo, será possível dizer: “Envie uma mensagem para Marcos dizendo que não vou ao ensaio da banda hoje” e tudo isso terá sido feito. O usuário pode ainda optar por ler a mensagem antes, para ter certeza de que o programa interpretou corretamente o que ele disse. Se estiver certo, ele diz “sim” e o texto é enviado; se disser “não”, o sistema vai pedir para falar novamente.

Prever uma mudança de paradigma tão grande não seria possível se a Apple não tivesse comprado no ano passado a Siri, empresa que detém a tecnologia mais avançada de comando e resposta por voz. Não são poucas as críticas às tecnologias existentes hoje, em que o usuário repete várias vezes o comando e, mesmo assim, ele é sequer compreendido como tal. Elas já existem, em diferentes níveis de precisão, em sistemas de busca, carros e até mesmo cadeiras de roda (leia quadro).

Funções tão complexas, porém, exigem uma máquina poderosa para executá-las. Por isso, a Apple terá na nova versão do iPhone o processador A5 e um gigabyte de memória ram, configuração que até pouco tempo só existia em computadores de mesa. Usuários de versões anteriores do smartphone que quiserem utilizar o Assistant, portanto, precisarão atualizar não só o software como o hardware de seus equipamentos. 

“Como sempre, em casos de vazamento de informações, é possível que toda essa conversa de Assistant seja um grande disparate”, escreveu Chris Ve­lazco, do site especializado TechCrunch. Ele mesmo, no entanto, reitera que as novas informações estão de acordo com outros rumores há muito espalhados sobre o próximo smartphone da empresa – que deve ser apresentado por Tim Cook, que assumiu como CEO da ­Apple desde que Steve Jobs renunciou ao cargo no mês passado. “Acessibilidade sempre foi um grande foco para a eles”, diz Velazco. Se a tecnologia existente pode proporcionar o mais intuitivo dos comandos, não será nenhuma surpresa se a gigante, que praticamente faz uma revolução a cada dois ou três anos, seja a primeira a realizar o sonho de ter um desejo realizado com um simples pedido. Se não correrem atrás, Google e outros concorrentes estarão falando com as paredes.
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