A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 11 de julho de 2010

Morte no seriado Pesca Mortal

Morte na tevê

Estrela do reality show "Pesca Mortal" que morreu durante as gravações tem sua agonia exibida no programa - e isso acirra o debate sobre os limites desse tipo de atração


Cena do reality show “Pesca Mortal”, que mostra a aventura de uma tripulação pelos mares do Alasca.Foi a bordo do barco Cornelia Marie (foto) que se deu a morte do capitão Philip Harris

O capitão Philip Harris, 53 anos, dedicou-se por mais de três décadas à pescaria em alto-mar. Há cinco anos ficou famoso como estrela do reality show “Pesca Mortal”, transmitido pelo canal a cabo Discovery. O programa mostra as emocionantes aventuras de Harris e sua tripulação (que inclui os seus dois filhos, Jack e Josh) a bordo do barco Cornelia Marie pelos mares do Alasca, nos EUA, em busca dos raros e valiosos crustáceos conhecidos como caranguejos-rei. Em janeiro, quando o grupo filmava a sexta temporada da atração, Harris teve uma sucessão de complicações de saúde: sofreu um AVC, sobreviveu com graves sequelas por dez dias, teve um infarto e morreu no dia 9 de fevereiro. Os técnicos e câmeras que integram a equipe da tevê registraram toda a agonia vivenciada nesse período e as dramáticas cenas foram reunidas em quatro episódios do reality show – o último será exibido na tevê americana na terça-feira 13. Os primeiros levados ao ar, com total anuência dos filhos, atingiram recordes de audiência nos EUA. Cerca de 5,5 milhões de telespectadores assistiram a todo o drama vivido pelo capitão do mar desde o momento em que ele sofre o derrame, é atendido por paramédicos, socorrido pelos filhos atônitos, sentindo fortes dores, parcialmente paralisado e sem fala, até o seu último suspiro.
A exposição da dor de Philip Harris (acima) atraiu 5,5 milhões de telespectadores

Nas cenas iniciais surge um bilhete redigido por Harris para a sua equipe: “Continuem filmando. Essa história tem de ter um fim.”
O trágico desfecho mostrado cruamente aos telespectadores é um marco na história dos reality shows – nunca a morte real de um ser humano pôde ser acompanhada num programa desse gênero. Mas o assunto sempre atraiu os produtores, já que desperta curiosidade no público. O pioneiro “Survivor” inaugurou a modalidade das situações-limite de sobrevivência. Já “Boston Med” mostra doentes graves reais nos hospitais e o repulsivo “Jogo da Morte” causou polêmica exibindo cenas verdadeiras de tortura: os competidores recebiam orientação para aplicar choques elétricos num participante sempre que ele errasse a resposta a uma pergunta (depois se revelou que o objetivo era produzir material para um documentário francês sobre a violência). Recentemente, o tema ganhou mais destaque quando a carismática ex-BBB inglesa Jane Goody revelou, após deixar o programa, sofrer de um câncer cervical. Causou comoção nacional e a mídia acompanhou sua agonia e morte, num evento que chegou a ser comparado a um “reality show” pelo sensacionalismo da cobertura. A mesma decisão de se expor se deu com a atriz Farrah Fawcett (de “As Panteras”), que gravou um documentário sobre a sua batalha contra o câncer, perdida após alguns anos de tratamento (ela morreu no ano passado).A atriz Farrah Fawcett (acima)documentou a sua luta contra o câncer

No caso do apresentador do “Animal Planet”, Steve Irwin, que morreu após o ataque de uma arraia na gravação de um programa, nenhuma imagem foi revelada ao público. O limite entre o que é aceitável e o que atravessa a fronteira do entretenimento e da emoção e avança numa desumana exposição do sofrimento e da dor é tênue.
Paciente terminal, a ex-BBB inglesa Jane Goody vendeu os direitos de imagem para tevês

A discussão em fóruns da internet e nos principais jornais americanos acerca do caso de Philip Harris vem chamar a atenção para isso. Os seus filhos defenderam a continuidade das filmagens e a exibição. Jack e Josh, ao serem indagados se impediram que algumas cenas fossem usadas na edição final, afirmaram que não: “Queríamos que tudo parecesse o mais real possível.” Eles entendem o programa como um tributo à biografia do pai e revelaram que poderão gravar uma nova temporada no próximo ano – em que distribuirão pelo mar do Alasca as cinzas do capitão Harris. Para o diretor do canal Discovery, seria uma maneira de o público compartilhar com a família o luto pela morte do pescador. Não se pode esquecer, contudo, que condoída ou escandalizada, a resposta do telespectador se traduz na audiência que tal exposição vai provocar. Os filhos de Harris garantiram que o último suspiro do navegante não será mostrado. É esperar para ver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário