A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 18 de julho de 2010

A semana na Ciência

A semana 1 - O efeito mamute

A raça humana acelera o aquecimento global há pelo menos 15.000 anos, época em que ajudamos a extinguir os gigantes

Desaparecimento dos mamutes alterou a vegetação do Hemisfério Norte

Se você se sente culpado diante do avanço do aquecimento global causado pela ação do homem, saiba que somos os vilões dessa história desde que começamos a dominar o planeta. Há tempos os arqueólogos afirmam que nossos antepassados ajudaram a extinguir a megafauna que habitava o Hemisfério Norte, dizimando animais gigantescos como os mamutes há cerca de 15.000 anos. Agora, um grupo de cientistas do departamento de ecologia da Universidade de Stanford (EUA) comprovou que o desaparecimento da espécie alterou a vegetação que cobria a região temperada – sobretudo no Alasca e na Sibéria – a ponto de mexer com os termômetros de forma significativa.

“Antes da extinção dos mamutes, a maior parte dessas áreas era coberta por grama, já que, assim como os elefantes contemporâneos, eles derrubavam todo tipo de árvore para se alimentar”, disse à ISTOÉ o pesquisador Chris Doughty, um dos autores do estudo. Com o sumiço dos gigantes vegetarianos, bétulas anãs – árvores densas e de folhas escuras, com cerca de dois metros de altura – avançaram sobre o terreno e fizeram com que o calor ficasse encapsulado muito perto da superfície. “Durante o inverno, boa parte da grama que cobria a região era coberta pela neve, um rebatedor natural da energia gerada pelo Sol. Com as árvores tomando conta da paisagem e deixando a neve no solo, essa mesma energia ficava acumulada na Terra”, diz Doughty.

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Segundo o estudo, a temperatura média global subiu 0,1ºC nos dois séculos seguintes. “Na Sibéria, o aumento foi o dobro graças à maior concentração humana”, explica o cientista. Claro que os números são bem menores do que os registrados após a Revolução Industrial, mas comprovam a vocação do homem para o desastre ambiental. “Várias pessoas ainda acreditam que a contribuição humana para o aquecimento global é um mito, mesmo com mais de seis bilhões de pessoas vivendo na Terra”, diz Doughty. “Nosso estudo serve para mostrar que até mesmo pequenas populações são capazes de causar um grande estrago.”





A semana 2 - Encontro às escuras

Cientistas do mundo todo se reúnem na Ilha de Páscoa para observar o eclipse total do Sol e entender melhor alguns dos segredos da estrela


No domingo 11, os galos que vivem na Ilha de Páscoa tiveram o momento mais surreal de suas curtas vidas. Durante cinco minutos, a Lua encobriu o Sol e, de repente, o dia virou noite. As aves, que cantam sempre ao alvorecer, soltaram seus pulmões depois de uma “noite” de meros cinco minutos – o tempo do eclipse total do astro, desta vez visualizado por completo apenas na ilha perdida no Pacífico, o ponto mais isolado do planeta.

Apesar de curioso, o fato foi o menos relevante para as oito mil pessoas presentes no local, metade delas forasteiros. “Foi um momento de euforia”, conta o astrônomo Alexandre Andrei, chefe do Girasol (Grupo de Instrumentação e Referência em Astronomia Solar), do Observatório Nacional, que presenciou o fenômeno. O eclipse total acontece quando o Sol, a Lua e a Terra se alinham. Mesmo a estrela sendo 400 vezes maior do que o satélite, a distância faz com que a segunda pareça estar sobre a primeira. Na maior parte das vezes que esse fenômeno ocorre, no entanto, ele não é visível por completo de nenhum lugar em terra firme – só no oceano.

O evento natural fez dobrar a população do antigo lar da civilização rapa nui – famosa por suas estátuas de pedra, os moais. Além dos turistas, astrônomos da França, Índia, Alemanha, Noruega, dos EUA e Japão estavam na festa, digna de uma convenção científica. “O eclipse é ideal para medir o diâmetro do Sol, pois as bordas aparecem bem definidas”, explica Jucira Penna, astrônoma que observa o astro desde 1977 e é parte da equipe do Girasol que ficou no Brasil.

Assim como Andrei, foram para a ilha os astrônomos Victor d’Ávila e Eugênio Reis, além do óptico Sandro Coletti. O time levou um instrumento que nenhuma outra equipe possuía. Desenvolvido no Brasil, o heliômetro é usado para medir o diâmetro do Sol e observar suas manchas. “Elas mostram a atividade solar, cujo interior está sempre em movimento”, diz d’Ávila, projetista do instrumento. “Esse movimento é um dos fatores que definem o aquecimento global”, explica. O objetivo maior do heliômetro, no entanto, é entender como funciona a fotosfera, a parte mais brilhante da estrela, responsável por quase toda a energia solar.

Por fora, o instrumento não é muito diferente de um telescópio comum. A posição de seus espelhos e um filtro solar, no entanto, o tornam único. A criação brasileira é, na verdade, uma reinvenção. O primeiro aparelho com esse nome foi criado há mais de 300 anos. Naquela época, ele foi usado para medir as variações do diâmetro do Sol e assim determinar com maior precisão a órbita da Terra. Em 1838, o instrumento foi resgatado para medir a distância das estrelas em relação ao nosso planeta. A nova versão foi feita há cinco anos e o seu modelo portátil levado para a ilha há dois.

Segundo d’Ávila, existem três causas para o aquecimento do planeta. Uma delas é a evolução natural do clima – com fenômenos como o El Niño –, as ações do homem e a atividade solar. Um exemplo dessa última influência é a chamada “Miniera Glacial” ocorrida na Europa entre 1645 e 1715. Naquela época, o frio intensificou-se ao mesmo tempo que o Sol teve seus índices de atividade mais baixos – fenômeno conhecido como Mínimo de Maunder.

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