A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A caminho do Tudo – Parte XVI

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA

Crime e castigo



Galileu, perto dos 70 anos, como se diz hoje : “já no saldo”, foi acusado de heresia e levado a julgamento em Roma. Ele estava esperando algum tipo de acordo negociável, onde poderia admitir ter agido contra as ordens do papa e simplesmente não lecionar mais o sistema copernicano nem demonstrar apoio a ele, ou seja, arregar. Mas não houve esse tipo de acordo. Sob ameaça de tortura lhe mostraram o instrumento “especial” feito para ele caso se recusasse a cooperar.


Ele foi obrigado a retratar sua crença na teoria copernicana. De acordo com a lenda, ao ser levado embora ele murmurou eppur si muove (e no entanto se move); acho eu que ele poderia até estar pensando nisso mais certamente não teria ousado a pronunciar aquelas palavras em voz alta.
O conflito estava até o talo atolado na política e luta pelo poder. Galileu foi punido de forma severa por entornar o caldo quando Roma estava tentando ter uma visão unificada teologicamente contra os protestantes, pensão alguns.
A abordagem de Galileu a ciência tocou igualmente membros do clero e acadêmicos. Segundo sua visão, o estudo da ciência não deveria se restringir ao mundo da igreja e das universidades; antes deveria ser uma prática aberta a toda cabeça bem treinada e potencialmente capaz de contribuir. Seu apoio ao sistema de Copérnico foi apresentado como uma conclusão à qual o leitor deveria chegar por si mesmo, entendendo o modo de procedimento do método cientifico, uma metodologia que deveria ser aplicada a todas as carreiras e profissões. Talvez o crime mais grave de Galileu tivesse sido o desafio à noção de que somente os teólogos tinham acesso às grandes verdades. Durante século o homem comum se voltara para a igreja à procura de uma compreensão da natureza e do universo; e agora, aquele italiano atrevido estava dizendo que qualquer um podia observar o firmamento e deduzir a verdade sozinho.


Condenado pela inquisição, Galileu passou os últimos oito anos de sua vida em prisão domiciliar em sua casa de campo perto de Florença. Desacreditado, mais não derrotado ele continuou com suas indagações cientificas mais ferozmente do que a maioria dos homens de sua idade seria capaz.

Perto do fim Galileu terminou mais uma obra pioneira, desta vez sobre a mecânica , Diálogos sobre duas novas ciências. Se diz que pediu permissão para sair de sua casa de campo apenas uma vez quando levou escondido uma cópia de seu novo livro para seus amigos publicarem fora da Itália.



No ano de 1642 morre em sua casa de campo este grande homem da ciência.




Só aos poucos e muito devagar, o vaticano começou a reconhecer que estava errado ao condenar Galileu.
Galileu, literal e figuradamente trouxe os céus à Terra. Usando o telescópio para sondar o Sol, a Lua e os Planetas ele demonstrou que esses corpos, que antes se pensava ser do nosso inteiro domínio, poderiam ser estudados usando os mesmos instrumentos que usamos aqui na Terra. Depois de Galileu não foi mais preciso usar os deuses para invocar novas idéias para descrever os céus. E o mais importante de tudo foi que Galileu descobriu o poder da matemática para descrever o mundo natural.
Creditamos a Galileu a idéia de que existe uma ordem na natureza e que essa ordem pode ser descrita através da matemática de forma simples e até elegante nas equações.
Um grande abraço, espero que tenham gostado desta jornada sobre a vida de Galileu. Na próxima semana vamos conversar sobre a vida de mais um ilustre filho de Nicolau Copérnico : Sir. Isaac Newton, o Gênio Solitário.
Feliz dia dos pais e não esqueça de abraçar o seu velho e dizer que lhe ama

Poema para Galileu
António Gedeão - Portugal)



Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te?
A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno
às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!
.
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita
num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar
(que disparate, Galileu!)
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
.
.
Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos,
hirtos,
de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível
que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a civilização.
.
Tu, embaraçado e comprometido,
em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites
e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas
(parece-me que estou a vê-las),
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
.
E tu foste dizendo a tudo que sim,
que sim senhor,
que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado
e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite
louvores à harmonia universal.
.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo,
na própria intimidade do teu pensamento,
(livre e calma),
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
.
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes,
grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo,
empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
.
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
.
Por isso, estoicamente,
mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias,
a todos os contratempos,
enquanto eles,
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

António Gedeão - Lisboa, Portugal (1906-1997)
.

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