A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 15 de maio de 2011

A Semana na Ciência

Viagem ao fundo do mar

O empresário que promete levar turistas ao espaço prepara 

expedição ao ponto mais profundo dos oceanos

Paula Rocha
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PATRONO
O bilionário Richard Branson investe em projetos ousados
Os mistérios e desafios advindos do fundo do mar alimentam a curiosidade humana. Dos monstros marinhos que habitavam a imaginação de navegantes no século XIV, às aventuras do submarino Náutilus, no clássico “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Julio Verne, as profundezas do oceano sempre foram um ambiente pouco conhecido e explorado pelo homem. As buscas e expedições realizadas até hoje trouxeram apenas um vislumbre do que a imensidão das águas marinhas pode abrigar. Agora uma nova e ousada viagem promete revelar o que há escondido em alguns dos pontos mais inóspitos do oceano. ­Motivado pelo mesmo desejo de aventura do capitão Nemo no romance de Verne, o bilionário inglês Richard Branson acaba de anunciar um projeto que pretende explorar os locais mais profundos dos cinco oceanos da Terra, chegando onde nenhum homem já esteve antes (leia quadro).

Durante dois anos, Branson e uma equipe de exploradores e cientistas farão incursões nos cinco maiores abismos marinhos. O primeiro será a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico. Conhecida como o local mais profundo de todo o mar, essa depressão chega a ter 11.034 metros de profundidade e há mais de 50 anos não recebe a visita de nenhum submarino tripulado. Em 1960, Jacques Piccard e Don Walshen desceram a bordo do batiscafo Trieste, uma embarcação sem autonomia, que apenas descia e subia em linha reta. Essa limitação, somada à grande nuvem de poeira levantada ao atingirem o fundo, não permitiu que fossem registradas imagens dos seres que viviam ali. Porém, desde os anos 1990, submarinos robôs como o japonês Kaiko e o americano Nereus conseguiram coletar dados sobre alguns peixes, crustáceos e organismos unicelulares que só existem nesse local.
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MÁQUINA
Branson e o piloto Chris Welsh, que também comandará o veículo subaquático
Em sua nova aventura, Branson pretende “catalogar formas de vida nunca antes vistas por olhos humanos e até hoje desconhecidas para a ciência”, como declara no site do projeto Virgin Oceanic. Mas, segundo o oceanógrafo Paulo Sumida, pesquisador do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), as chances de que a expedição encontre novos seres são pequenas. “Quanto mais fundo se vai, menores e mais escassas são as criaturas encontradas. Por isso, não acredito que essa viagem trará novidades relevantes para a oceanografia”, diz Sumida. “Mas acho que a iniciativa é válida pela tecnologia desenvolvida para a construção do submersível.” O veículo subaquático composto de fibra de carbono, titânio e quartzo será capaz de submergir mais de 11 mil metros e é dotado de asas que facilitarão sua flutuação.

O custo total dessa aventura deve bater na casa dos US$ 10 milhões, ­valor razoável para Branson. Dono de nada menos do que 400 empresas, o bilionário fez fortuna com a gravadora Virgin, fundada na década de 1970. De lá para cá, ganhou fama mundial por suas excentricidades.

Ele foi o primeiro homem a atravessar os oceanos Atlântico e Pacífico num balão. Em 2004, criou a primeira companhia aérea espacial do mundo, a Virgin Galactic, que promete viagens turísticas ao espaço pela bagatela de US$ 200 mil por pessoa. Não satisfeito com a conquista sideral, Branson agora volta seus investimentos para outra paixão: o mar. E um dia pretende oferecer a todos que amam o oceano o gostinho de uma viagem ao fundo do mar. Paga, é claro.
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Baleias em Nova York


Pesquisadores descobrem, por meio da captação de sons, que 

populações inteiras de cetáceos passam pelas águas que 

banham a metrópole - um risco para os animais

André Julião
Um estudo realizado com uma rede de dez gravadores subaquáticos nas águas que cercam Nova York revelou o inusitado. Grupos de pelo menos seis espécies de baleia passam por uma área que vai da costa sul de Long Island e passa por toda a extensão do porto da metrópole americana. Embora seja raro avistar um desses animais, os sinais sonoros revelaram que baleias-azuis, minkes, franca-austrais, jubartes, fin e sei passaram pela área durante um período de dois anos.

Os pesquisadores que realizaram o estudo, divulgado na semana passada, não sabem ao certo por que os animais frequentam esse ambiente cercado de prédios, navios e poluição – que inclui a ilha que abriga a Estátua da Liberdade, Liberty Island. “Essas águas podem ser parte histórica de seu hábitat ou conter abundância de alimento”, disse à ISTOÉ Aaron Rice, diretor-científico do Bioacoustics Research Program, da Cornell University, nos EUA. Alguns dos indivíduos estavam em rota de migração rumo ao Norte para conseguir alimento, enquanto outros costumam permanecer um tempo na costa da metrópole.

O que mais impressionou os cientistas, porém, não foi a diversidade de espécies, e sim a sua densidade, já que as baleias estavam espalhadas por toda a área do estudo. Não foi possível saber exatamente quantos indivíduos eram. Os pesquisadores sabem diferenciar as espécies porque cada uma emite um som diferente. “A comunicação por sons é um componente fundamental no comportamento e na ecologia das baleias – seja para encontrar seus familiares, potenciais parceiros sexuais ou comida”, diz Rice. “Barulhos produzidos pelo homem podem mascarar os sons produzidos por esses cetáceos, diminuindo a efetividade e o alcance da sua comunicação”, explica.

Grandes navios comerciais são os maiores responsáveis por essa interferência, mas construções como plataformas de petróleo também emitem ruídos que podem deixar o animal desorientado – levando-o a se perder do grupo e até mesmo encalhar. O monitoramento é parte de um trabalho amplo, que busca identificar os diferentes sons produzidos pelo homem na costa leste dos EUA e descobrir como eles podem afetar as baleias no longo prazo. 
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Brasil devassado


Sem um satélite próprio, o País depende de estrangeiros para 

proteger suas riquezas, fluir informações militares e até controlar 

o tráfego aéreo

Claudio Dantas Sequeira
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Apesar dos avanços e recuos, uma das prioridades do governo brasileiro é reaparelhar as Forças Armadas. Pelos planos, em breve o Brasil ganhará um submarino de propulsão nuclear para patrulhar a costa, em especial a região do pré-sal, um grupo de caças de quinta geração para proteger o espaço aéreo do país; e armamentos de última geração para equipar os soldados que monitoram a porosa fronteira brasileira. Como em qualquer país com um poderio militar moderno, o plano do governo prevê que toda a comunicação entre as três forças seja feita via satélite, permitindo a troca rápida e segura de informações. Na teoria, a estratégia de defesa brasileira parece não ter falhas graves e obedece aos procedimentos das melhores forças armadas do mundo. Na prática, no entanto, existe um nó difícil de ser desatado e que, em tese, compromete todo o investimento bilionário que o País se prepara para fazer.

Ao contrário das principais nações desenvolvidas e emergentes do mundo, o Brasil não tem controle nem ao menos sobre um dos quase mil satélites que estão em órbita no mundo hoje. A Índia, por exemplo, tem seis deles dedicados a ela e a China, outros 60. Hoje, todas as informações brasileiras que trafegam pelo espaço – sejam elas militares, governamentais ou de empresas privadas nacionais – passam por satélites privados, controlados por uma única empresa, a Star One, do bilionário mexicano Carlos Slim. Na prática, o Brasil é um simples locador de um retransmissor espacial que tem como função principal gerar lucros para o seu dono. Em uma situação de conflito, seja ele militar ou econômico, em última instância o locador tem o poder de simplesmente cortar o sinal do satélite, fazendo com que todo o moderno aparato militar que o País pretende adquirir se torne completamente inútil.

Desde que o Brasil perdeu o controle sobre seus satélites, com a privatização da Embratel em 1998, nenhum caso semelhante ocorreu. Mas o que preocupa especialistas brasileiros em segurança é a mera possibilidade de que isso venha a acontecer. “Não há como negar, é uma ameaça à segurança nacional”, diz o engenheiro José Bezerra Pessoa Filho, do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e ex-diretor da Associação Aeroespacial Brasileira (AAB). Sua opinião é compartilhada por diversos analistas e autoridades. “São informações fundamentais para a proteção de milhares de pessoas”, afirma Thyrso Villela, diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB).

A dependência a satélites estrangeiros não é um problema restrito à área militar. O governo também depende da boa vontade alheia, ao custo de vários milhões de dólares, para obter dados meteorológicos vitais para a prevenção de desastres naturais como enchentes, furacões e tempestades tropicais. Ficam ameaçadas também a transmissão de dados bancários e as comunicações sobre tráfego aéreo, que em poucos anos terá de ser feito via satélite, conforme determina o padrão internacional. Algumas vozes argumentam que os contratos comerciais firmados pelo governo com empresas de satélites, como a Star One que comprou a Embratel, contêm salvaguardas que garantem a prestação do serviço. Nesse sentido, o descumprimento das cláusulas contratuais prevê multas milionárias. No entanto, numa situação extrema, seja de guerra ou de catástrofe natural, quem vai pagar a fatura pela perda de vidas humanas? O histórico recomenda cautela.
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FRUSTRAÇÃO
A base de Alcântara, no Maranhão, foi destruída após
tentativa de lançamento de foguete pelo governo brasileiro
Ao menos em duas ocasiões o Brasil sofreu os efeitos da dependência. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, um dos satélites meteorológicos que fornecia imagens para o governo foi reposicionado pelos Estados Unidos e deixou de fornecer informações sobre o clima em todo o Hemisfério Sul durante dois meses. Em 2005, por conta do furacão Katrina, os americanos precisaram usar toda a potência de varredura de seus satélites para rastrear o fenômeno, reduzindo a frequência das imagens da América do Sul e do Brasil. “Se fossemos atingidos naquela época por um evento da magnitude do ciclone Catarina, que varreu a região Sul em 2004, ficaríamos no escuro”, afirma Villela, da AEB.

A história de dependência começou com a privatização do sistema Telebrás, em 1998. A Embratel, que operava os satélites BrasilSat, passou às mãos da americana Verizon e depois da América Movil, do magnata mexicano Carlos Slim, dona da Star One. Embora fossem satélites comerciais, o governo brasileiro detinha dois transponders de banda X, exclusivos para comunicações militares, instalados nesses satélites. Com a privatização da estatal, todo o controle passou para as mãos privadas.

Há, logicamente, salvaguardas pelas quais a operação desses satélites é feita somente por brasileiros. Mas os militares não têm controle sobre esses equipamentos, não podem desligar o satélite ou mudar sua posição. “As salvaguardas servem para mitigar o problema da soberania”, reconhece o coronel da reserva Edwin Pinheiro da Costa, chefe da seção de Telemática do Ministério da Defesa e responsável pelo Sistema de Comunicações Militares (Siscomis). Vale lembrar que a Verizon foi arrolada nos EUA numa polêmica sobre fornecimento de dados telefônicos de seus clientes ao FBI e a agências de inteligência do governo.

Uma das diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END) é o desenvolvimento do Satélite Geoestacionário Brasileiro, o SGB. Para tirar o projeto do papel é preciso empenho político e recursos financeiros. Uma das tentativas é construir um foguete próprio capaz de lançar o satélite brasileiro. As primeiras tentativas terminaram com a destruição da Base de Alcântara, no Maranhão, após a explosão de um protótipo. O mais próximo que o Brasil chegou para voltar a ter satélites próprios foi uma minuta de intenções para firmar uma parceria com a França. No entanto, as negociações para que o acordo saia estão paradas há dois anos. Enquanto isso, todo o sistema de comunicações do País continua nas mãos do bilionário Carlos Slim.
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