A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 29 de maio de 2011

A Semana na Ciência


De onde vem a água da Lua

Pesquisadores descobrem que o recurso natural está no centro do 

satélite e sua reserva é semelhante à existente na Terra

André Julião
Descubra mais detalhes na reportagem em vídeo :
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Cientistas descobriram que a Lua possui uma quantidade de água 100 vezes maior do que se pensava. A pesquisa, publicada na revista científica “Science”, mostra que fragmentos de minerais, coletados no satélite durante a missão Apollo 17, em 1972, possuem moléculas do recurso natural em uma quantidade inimaginável até então. O estudo traz ainda uma nova evidência sobre a formação do corpo celeste.
A teoria mais aceita diz que o nosso planeta foi atingido por astro errante entre 50 milhões e 100 milhões de anos depois da sua formação – ocorrida há cerca de 4,55 bilhões de anos. Os detritos levantados com o impacto se uniram e formaram a Lua. Até hoje, acreditava-se que a maior parte da água espirrada na atmosfera havia se evaporado e a existente hoje no satélite teria chegado a ele a bordo de cometas e asteroides. A nova pesquisa, porém, prova que o recurso natural foi preservado dentro de rochas vulcânicas – vale lembrar que, no início, a Lua era cheia de vulcões.

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A PROVA
Moléculas de água (acima) preservadas
dentro de um mineral

“A quantidade de água no interior da Lua é similar à existente na Terra”, diz o chefe da pesquisa, Erik Hauri, do Carnegie Institution of Washington, nos EUA. Em 2008, o mesmo grupo de pesquisadores publicou um artigo na revista “Nature” sobre a presença de água nas mesmas amostras. As novas análises, porém, feitas com uma microssonda, mostraram uma quantidade 100 vezes maior do elemento. 
As moléculas não poderiam ser encontradas no magma solidificado, pois a temperatura durante uma erupção é tão alta que a água se evapora. Foi graças a um mineral chamado olivina, liberado em explosões vulcânicas, que os pesquisadores puderam encontrar as moléculas. Elas estavam em rochas que, por sua vez, eram preservadas em microesferas desse mineral. “A olivina forma uma cápsula protetora que pode guardar a rocha hidratada por bilhões de anos”, explica Amâncio Friaça, pesquisador em astrobiologia e astrofísica da Universidade de São Paulo (USP).

O estudo também leva a crer que a água encapsulada na olivina pode ser a fonte do gelo que foi descoberto nos polos Norte e Sul do satélite. “Estima-se que só uma cratera do astro, Cabeus, tenha mais de três bilhões de litros de água congelada, o equivalente a 1,5 mil piscinas olímpicas”, diz Hauri. A Lua toda, portanto, teria um bilhão de vezes mais água que isso. “Erupções vulcânicas no astro podem ter produzido muito mais água do que a levada por cometas ou asteroides que caíram na superfície.” Mais uma evidência de como nosso satélite ainda é um ilustre desconhecido. 
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Intoxicados de informação

O estresse causado pela hiperconectividade e a sensação de estar

sempre desatualizado causam a chamada infoxicação. Saiba quais 

são os sintomas e como se livrar desse mal

Patrícia Diguê e João Loes
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ATORDOADA
Larissa fica conectada o dia todo e ainda assim
tem medo de ficar por fora
 
A publicitária Larissa Meneghini, 24 anos, toma café da manhã com os olhos grudados num livro. No caminho para o trabalho, parada no trânsito de São Paulo, aproveita para escutar notícias pelo rádio do carro e ler mais um pouco. Passa o dia conectada, respondendo a e-mails, checando redes sociais e pesquisando sites relacionados ao trabalho. “Chego a ficar tonta com tanta informação, a ponto de ter de sair da frente do computador e esperar passar”, conta a paulistana, que recentemente abriu mão do celular com internet para tentar reduzir o estresse com a hiperconectividade. Apesar de antenada com tudo, se sente constantemente desatualizada. “Estou sempre com medo de ficar de fora”, lamenta. A angústia de Larissa diante do grande volume de informação é tema que vem gerando manifestações acaloradas desde o início da era digital e agora ganhou nome: infoxicação. 

O neologismo, uma mistura das palavras “informação” e “intoxicação”, foi cunhado por um físico espanhol especialista em tendências da informação, Alfons Cornellá. Segundo ele, uma pessoa está infoxicada quando o volume de informação que recebe é muito maior do que o que ela pode processar. “Quando ainda nem terminamos de digerir algo, já chega outra coisa”, afirma o especialista. As consequências são a ansiedade diante de tantas opções e a superficialidade.
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ESTRATÉGIA
Para não perder tempo no mundo online, Guilherme
inventou uma dieta da informação
 

Na mesma corrente, está o psicólogo britânico David Lewis, que criou o conceito da Síndrome da Fadiga Informativa, que se dá em pessoas que têm de lidar com toneladas de informação e acabam se sentindo paralisadas em sua capacidade analítica, ansiosas e cheias de dúvidas, o que pode resultar em decisões mal tomadas e conclusões erradas. Outros sintomas são danos às relações pessoais, baixa satisfação no trabalho e tensão com os colegas. “O excesso é mais prejudicial do que proveitoso”, afirma. Se há duas décadas só contávamos com alguns canais de televisão, hoje o volume de dados no mundo equivale à leitura de 174 jornais por dia por pessoa, aponta estudo da USC Annenberg School for Communication & Journalism, publicado em fevereiro (leia quadro). 
Apesar dos perigos do excesso de informação, a maioria dos especialistas ainda enxerga mais vantagens do que desvantagens na era digital. Só alertam para a necessidade de as pessoas aprenderem a amenizar os efeitos colaterais dessa nova realidade. “Não temos como reverter esse processo, então é preciso aprender a lidar com ele”, defende a psicóloga Rosa Farah, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “E não podemos subestimar a capacidade de o ser humano de adaptar-se a essa realidade.” 

Para não ser contaminado pelo turbilhão de bytes a que está exposto diariamente, o engenheiro naval Guilherme Malzoni Rabello, 27 anos, inventou uma dieta da informação. “Eu escolho cuidadosamente o que merece minha atenção antes de sair atirando para qualquer lado, atentando principalmente para a origem da fonte. “Quanto mais gabaritada e reconhecida, mais vale a pena consumir”, diz. O engenheiro é exemplo de quem conseguiu exercer a escolha criativa, segundo o psicanalista Jorge Forbes, que não concorda com a patologização do mundo online. “Será que alguém fica gordo porque vai a um restaurante de bufê e se acha obrigado a comer de tudo para não fazer desfeita?”, compara Forbes. A professora Rosa, da PUC, ressalta, porém, que há pessoas mais vulneráveis a essa abundância e, para elas, recomenda escutar os alertas do organismo. “O corpo dá sinais de que estamos ultrapassando limites. Aí é hora de reavaliar prioridades”, ensina. Por enquanto, a quantidade de informação no mundo ainda equivale a menos de 1% da que está armazenada nas moléculas de DNA de um ser humano, indício de que a espécie deverá sobreviver a mais esse impacto. 
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O coração deste homem ficou 96 minutos sem 

bater

Americano torna-se o primeiro homem a permanecer tanto 

tempo sem batimento cardíaco, fora do hospital, e mesmo 

assim sobreviver sem qualquer dano neurológico

Cilene Pereira
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O americano Howard Snitzer, 54 anos, morador de Goodhue, em Minnesota, entrou para a história da medicina. Ele é o primeiro ser humano a ficar 96 minutos com o coração parado, sem um batimento sequer, fora de um hospital, e mesmo assim sobreviver. Seu caso acaba de ser publicado na Mayo Clinic Proceedings, da Clínica Mayo, respeitada instituição de pesquisa do mundo.

O drama de Snitzer começou após uma parada cardíaca, ocorrida em frente a uma loja de Goodhue. Ele poderia ter um desfecho trágico se Snitzer não tivesse sido beneficiado por alguns fatores. O primeiro foi o de ser submetido ao procedimento de ressuscitação imediatamente. Quem prestou o socorro foi uma pessoa que sabia aplicar a respiração boca a boca e a compressão no tórax para que o oxigênio continuasse a circular pelo corpo. O segundo foi o fato de ter tido o ataque em frente a um posto do Corpo de Bombeiros, para onde foi levado em seguida, recebendo ajuda de profissionais mais qualificados. E, por último, de ter sido atendido, após cerca de meia hora, por uma equipe da Mayo, enviada de helicóptero até o lugar.

Foram esses médicos que insistiram nos procedimentos até que o coração de Snitzer voltasse a bater. Eles se guiaram por um aparelho que mede a quantidade de CO2 expelido pelos pulmões. Se estiver mais alta, indica que as manobras estão sendo suficientes para garantir um suprimento satisfatório de oxigênio ao cérebro e aos demais órgãos.

Cinco dias após a parada cardíaca (causada por uma obstrução em uma das artérias do coração), Snitzer deixou a UTI do hospital – para onde foi levado assim que seu coração retomou os batimentos – e sem qualquer dano neurológico. Na opinião do médico Roger White, que coordenou, da sede da Mayo, o atendimento a Snitzer, o caso deve ser inspirador. “Leigos, assim como as pessoas que trabalham em resgate, devem ter certeza de que, se fizerem a compressão do tórax corretamente, a vida pode ser restaurada”, disse à ISTOÉ. “E se houver outros indivíduos treinados no local, deve-se alternar o responsável pelas compressões. É cansativo fazê-las e por isso as pessoas devem se revezar nesta tarefa.” 
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Água contra o suicídio?

Pesquisa sugere que consumo de água com maior 

concentração de lítio pode impedir que as pessoas atentem 

contra a própria vida

Cilene Pereira
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O lítio, mineral encontrado na natureza, é componente importante de me­dicações para o tratamento de doenças psiquiátricas como a depressão. Agora, um estudo que acaba de ser divulgado sugere que o consumo de água proveniente de solos com ele­vada concentração do mineral pode estar associado a taxas mais reduzidas de suicídio.

Publicado na edição deste mês do prestigiado “The British Journal of Psychiatry”, o trabalho foi realizado por cientistas da Universidade de Viena, na Áustria. Eles analisaram 6.460 amostras de água coletadas em todos os 99 distritos do país. Verificou-se que nas dez regiões com os níveis mais reduzidos do mineral, a taxa de suicídio era de 16 por 100 mil habitantes. Por outro lado, nas dez áreas nas quais a quantidade de lítio era maior, a taxa registrada era de 11 por 100 mil habitantes.
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O resultado – muito similar ao obtido em trabalhos anteriores, realizados nos Estados Unidos, Japão e Inglaterra – suscitou polêmica. Alguns especialistas chegaram a defender a adição do mineral à água da população, nos mesmos moldes do que é feito com o flúor com o objetivo de proteger os dentes contra as cáries. “Talvez devêssemos olhar para o campo da saúde dental. A colocação do flúor reduziu o risco de cáries”, escreveu Allan Young, da University of British Columbia, do Canadá, no comentário que fez, no “British Journal of Psychiatry”, sobre o artigo dos colegas austríacos. Porém, o próprio pesquisador em seguida coloca ponderações. “Mas essa medida também levantou controvérsias: de bioquímicas e estéticas aos direitos dos indivíduos de exercer sua liberdade de escolha.”

Os responsáveis pelo trabalho, porém, rejeitam qualquer proposta nesse sentido. “Claramente não sugerimos que o lítio seja adicionado à água a ser consumida pela população como uma maneira de prevenir o suicídio”, disse à ISTOÉ Nestor Kapusta, coordenador do estudo. “Mas poderia ser benéfico beber a água das regiões com concentrações mais elevadas do mineral.”
 

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