Pesquisa revela que um dos elementos químicos essenciais para o
surgimento da vida na Terra chegou ao planeta em meteoritos
que o bombardearam em tempos remotos
André JuliãoSEMENTE
Meteorito (acima) encontrado na Antártica
continha nitrogênio, uma das bases da vida
Nossa relação com o cosmos é muito mais estreita do que qualquer um podia imaginar. Cientistas americanos descobriram que um dos ingredientes essenciais para a vida – o nitrogênio – chegou à Terra em meteoritos. Os pesquisadores americanos retiraram o pó de um desses pedaços de asteroide e o trataram com água a alta temperatura e pressão. A massa resultante emitiu amônia, que contém nitrogênio. Ela não poderia ter sido adquirida quando o meteorito chegou ao planeta, pois sua composição é diferente da amônia encontrada aqui. O estudo foi publicado na revista especializada “PNAS”.
ALIENS
Sandra diz que asteroides podem ter gerado vida em Marte
O nitrogênio é essencial para a formação dos aminoácidos e nucleobases, os princípios da vida. Num passado longínquo, ele se juntou a elementos como carbono, hidrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre e deu origem às primeiras formas de vida. Os estudiosos afirmam que isso aconteceu há cerca de 3,46 bilhões de anos – idade dos fósseis mais antigos encontrados até hoje, colônias de bactérias conhecidas como estromatólitos (leia quadro abaixo).
Descoberto em 1995, na Antártica, o meteorito estudado agora é conhecido como Grave Nunataks 95229, em referência ao local onde foi encontrado. Outro objeto do tipo, o Murchison, ficou famoso em 1970, quando um estudo da prestigiada revista científica “Nature” revelou que ele havia trazido aminoácidos à Terra. “O estudo do Murchison mostrou que moléculas idênticas às da vida podem ser produzidas em ambientes cósmicos”, disse à ISTOÉ Sandra Pizzarello, chefe do estudo e pesquisadora da Arizona State University (EUA). “A composição dele, no entanto, tem um pouco de tudo e é difícil supor um caminho evolucionário para cada molécula”, explica a cientista.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o nitrogênio da Terra teria chegado exclusivamente por meio de cometas, cuja composição tem 1% de amônia. “Essa é uma prova de que ele também veio de asteroides e meteoritos”, afirma Amâncio Friaça, pesquisador em astrobiologia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o nitrogênio não é um elemento tão comum de se encontrar aqui quanto os outros que formam as bases da vida. Prova disso é que, em nosso planeta, a maior quantidade está na atmosfera e em depósitos de seres mortos, os fósseis.
Por terem possivelmente gerado a vida aqui, não se descarta a possibilidade de os meteoritos a terem semeado em outros lugares. “Isso pode ter acontecido especialmente em Marte, onde alguns especialistas acreditam que, no passado, as condições eram até mais favoráveis do que na Terra”, diz Sandra. Esse ambiente amistoso a seres vivos se deteriorou quando o planeta vermelho perdeu sua magnetosfera, uma parte exterior da atmosfera.
Para quem estuda o começo da vida no Universo, o resultado da pesquisa não surpreende tanto. Apesar de tendermos a acreditar que nossa origem é puramente terrestre, a própria composição do corpo humano tem mais a ver com o mundo externo do que com o nosso planeta.“Não somos filhos da Terra”, diz Friaça. “Só 3% do corpo humano é formado por elementos da crosta terrestre, como fósforo, enxofre e cálcio. Todo o resto – carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio – é abundante no cosmos”, explica. Somos todos aliens.
A semana 2 - Refugiados do clima
Guerras e conflitos religiosos ou raciais não são mais os únicos
motivos para migrações - segundo a ONU, as mudanças
climáticas farão 50 milhões de pessoas mudar de casa até 2020
André JuliãoEM FUGA
Chineses no deserto de Gobi deixam a região
ameaçada pela desertificação
A Organização das Nações Unidas (ONU) define como refugiado uma pessoa que está fugindo de onde vive por conta de perseguição a sua raça, religião ou nacionalidade. A realidade atual do planeta, no entanto, torna cada vez mais comum o uso do termo “refugiados ambientais”. A ONU estima que, até 2020, 50 milhões de pessoas devam migrar de seus lares por causa de seca, erosão do solo, desertificação, do desmatamento e de outros problemas relacionados ao meio ambiente.
O dado alarmante foi revelado na mais recente reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), no fim de fevereiro, em Washington (EUA).
“As mudanças climáticas vão afetar as plantações e provavelmente inflar os preços dos alimentos, o que gera inquietação nas pessoas que detêm poucos recursos”, diz Ewan Todd, professor da Michigan State University e organizador da conferência que debateu o tema. “Atualmente, há instabilidade social no Oriente Médio e no norte da África, mas, uma vez que temos uma população em crescimento e poucas lavouras, estamos prestes a ver ainda mais conflitos e refugiados”, explica.
SEM LAR
No Quênia, refugiados voltam para casa:
mudanças climáticas assolam a África
Mas qual a relação entre as mudanças climáticas e a oferta de alimentos? Invernos mais quentes mantêm vivas as pestes que atacam as plantações, permitindo que carreguem doenças para as plantas na primavera. Além disso, os gases do efeito estufa e a poluição do ar afetam a estrutura das plantas, enfraquecendo suas defesas. Enxurradas causadas por chuvas fortes transportam fezes de animais para a comida consumida por humanos, espalhando ainda mais doenças. Estimativas dão conta de que 2,2 milhões de pessoas morrem todos os anos nos países em desenvolvimento por conta de males relacionados à comida e à água contaminadas.
O aquecimento do planeta e o consequente derretimento do gelo dos polos da Terra geram ainda outro efeito colateral: o aumento no nível dos oceanos. Isso afeta principalmente as pequenas nações-ilha. Esse grupo de países, no qual se inclui Tuvalu, no oceano Pacífico, pode desaparecer com a subida de meros 60 centímetros na maré. Algumas estimativas dão conta de que um aquecimento de 6oC poderia elevar os níveis em cinco metros. Foi num desses locais, inclusive, que ocorreu em 2009 a primeira migração de uma nação inteira por conta das mudanças climáticas. Todos os 2,6 mil habitantes das Ilhas Carteret, a mil quilômetros da Austrália, migraram para Bougainville, uma ilha distante cerca de 85 quilômetros.
Em Bangladesh, tempestades, enchentes e danos às lavouras causados pelo aumento do nível do mar fazem com que, a cada ano, 400 mil pessoas fujam de suas vilas em direção à capital, Daca. Porém, como a cidade está poucos metros acima do nível do mar e é regularmente atingida por ciclones e enchentes, ela é uma das mais vulneráveis do mundo aos efeitos do aquecimento global. A situação atual mostra que as medidas de prevenção e adaptação às consequências das mudanças climáticas são tão ou mais urgentes do que a redução das emissões de gases do efeito estufa. A verdade é que corremos o risco de, em um futuro próximo, não termos mais a quem proteger.
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