A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A física do impacto e o possível impacto nas eleições








Antes de mais anda, quero deixar claro que:

1. Este post não tem qualquer relação com a minha decisão política de escolher entre Serra e Dilma no segundo turno das eleições 2010. O voto, por lei, é secreto. Valho-me do meu direito legal e não vou aqui revelar a minha escolha nem tampouco aproveitar para fazer campanha para um ou outro partido. Certo?
2. Mas quero deixar claro que acho um absurdo qualquer tipo de intolerância.
3. Também acho igualmente absurdo o uso que se pode tentar fazer de qualquer fato para buscar mais votos.
4. Por 2 e 3, entendo que erraram os petistas, intolerantes. Errou também o outro lado que tentou transformar a bola de papel numa "tijolada". Infelizmente, a campanha presidencial, embora aconteça num clima democrático, não me agrada nem um pouco pois não tem a consistência esperada para um país que precisa crescer muito à altura da sua grandeza.

Portanto, que fique bem claro: a proposta deste post, como qualquer outro aqui no Física na Veia!, é a Física contextualizada, ou seja, o uso da Física e o bom senso científico para analisar qualquer coisa, qualquer fato, neste caso um lamentável episódio que mostra a ganância de ambos os lados na busca desesperada por votos e pelo poder.

• massa da bola de papel: m = 6g = 0,006 kg
• velocidade da bola de papel no momento do impacto: V = 4,5 m/s

Para termos parâmetros de comparação, neste post publicado em 2005 mostro, através de estimativas, que o impacto de uma bola de futebol (m = 450 g = 0,45 kg) contra o rosto de um jogador (a uma velocidade V = 20 m/s = 72 km/h) pode, em condições extremas, passar de 1000 N (ou 100 kgf). A foto que ilustra o post mostra a incrível deformação da face do jogador com a bolada em alta velocidade. E uma pancada dessas pode atordoar o atleta.

Vou fazer aqui o mesmo cálculo que fiz para a bolada no jogador, só que agora para a bolada (de papel) contra a cabeça do candidato José Serra. Usarei como tempo de interação o valor Δt = 1/100 s = 0,001 s, um valor típico. Como em qualquer cálculo estimativo, você pode alterar os valores, dentro de uma realidade plauzível, e fazer as suas próprias estimativas.

A força média Fm trocada entre o artefato (aparentemente uma bola de papel) e a cabeça do candidato José Serra pode ser calculada.

onde Δt = 1/100 = 0,01 s é o tempo estimado de interação (contato) entre os corpos na colisão, m = 0,006 kg a massa estimada do artefato, e ΔV = Vf - Vi = 4,5 - (- 4,5) = 9 m/s o módulo da variação vetorial da velocidade antes e depois da colisão (supondo que, em módulo, as velocidades antes e depois da colisão apresentam o mesmo valor). Assim teremos:


Considerei, para facilitar, que as velocidades da bola de papel antes e depois da colisão estão na mesma direção, apenas em sentidos opostos. Desconsiderei a dissipação de energia com a deformação da bola, o que daria uma diminuição de velocidade pós impacto. O vídeo mostra algo ligeiramente diferente. Portanto, meus cálculos devem ser vistos apenas como uma primeira aproximação. Ele nos dá uma ideia da orde de grandeza do impacto mas não pretende acertar na mosca o valor da força.


Pelas estimativas, encontramos uma força bem pequena, equivalente àquela que você deve fazer para equilibrar o peso de um corpo de massa 540 g (ou 0,54 kg) na superfície da Terra onde a gravidade é g = 9,8 m/s² (aproximadamente 10 m/s²). Imagine, por exemplo, você segurando um saquinho de sal de 1kg mas já pela metade, com apenas 540g de sal. É esta a foça estimada no impacto da bolinha de papel contra a cabeça do candidato José Serra.

Uma força desse tamanho não tem o poder de causar nenhuma lesão física grave, a não ser que fosse feita numa área muito sensível como, por exemplo, num dos olhos. Fica bem claro neste episódio que a "lesão moral" é o que pesou mais. Não há como negar que o candidato à presidência foi desrespeitado em seu direito legítimo de campanha. Concorda? E isso, ratifico, é lamentável.

Mas, mesmo sem ferir, a bolada que o Serra levou pode ter provocado dor local pois:

1. Uma bola de papel é irregular e pode apresentar pequenas pontas. Não são pontas tão rígidas, mas são pontas. Uma força, mesmo pequena, feita numa área pequena (área de uma ponta de dobra de papel), pode dar uma pressão suficiente para provocar deformações "penetrantes". Nesta ordem de grandeza de força, em um caso mais "grave", a bolinha de papel poderia provocar um furinho, como o de uma agulha, e produzir um minúsculo sangramento. Não foi o que aparentemente aconteceu. Não houve lesão aparente na pele.

2. A bola atingiu a pele de José Serra, na região calva. Se ele tivesse cabelo no local da pancada, certamente a bolada teria sido melhor amortecida e a dor atenuada.

Ratifico que o episódio foi lamentável, por qualquer lado que se olhe. E carimba o clima eleitoreiro (e não eleitoral!) que estamos mais uma vez vivendo enquanto sonhamos com um país de verdade. Uma pena!

Posto tudo isso, tire você mesmo as suas conclusões. Pense e repense: o episódio terá impacto no resultado das eleições?

Conto com o seu bom senso! E que o triste episódio sirva para ensinar um pouco mais de Física para quem quiser aprender.

Fonte : Dulcidio Braz Junior

TIRINHA DO DIA

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