John Lennon é considerado um dos maiores cantores da história do rock – mas detestava a sua voz e usava truques de estúdio para disfarçar o que julgava uma deficiência. No sábado 9, esse ex-beatle, o mais famoso dos quatro integrantes da banda de Liverpool que agitou o mundo nos anos 1960, faria 70 anos. Na lista de homenagens, uma delas vai receber mais holofotes: o relançamento de sua discografia remasterizada, projeto conduzido por sua viúva, a artista plástica Yoko Ono. A ideia é, justamente, colocar em evidência a interpretação do ex-marido, destacando-a sobre a massa de som que ele pedia aos técnicos. Dos oito álbuns, um recebeu tratamento especial: “Double Fantasy”, o disco que Lennon tinha acabado de lançar quando foi assassinado na frente de seu apartamento em Nova York, em dezembro de 1980. A nova versão vem com o termo “Stripped Down” (desnudado) e, nela, a sua voz surge límpida como nunca se ouvira antes. Ao fazer isso, Yoko não pretende apenas oferecer um produto inédito para os antigos fãs do roqueiro, mas, isso sim, não deixar que a memória do marido morra junto às novas gerações. “Os jovens estão começando a ouvir as músicas espontaneamente, mas ainda é preciso incentivá-los”, disse Yoko por e-mail à ISTOÉ. Assim, ao alimentar a chama da memória de Lennon mantém-se vivo o mito em torno do artista, cuja morte trágica o transformou em um dos ícones de nossa época.
HERDEIRA
Yoko sempre cuidou da fortuna
do marido: US$ 500 milhões
do marido: US$ 500 milhões
Mitos valem ouro. No caso de Lennon, sua fortuna à época da morte era de US$ 160 milhões. Hoje seu espólio é de US$ 500 milhões. A fortuna em torno do seu nome registrou um aumento de mais de 210%, graças ao tino de Yoko para os negócios.
HOMENAGENS
Desenho de Sean Lennon, filho de John, para a capa
Desenho de Sean Lennon, filho de John, para a capa
de “Double Fantasy”, e cena do filme “O Garoto de Liverpool”
Desde o nascimento do filho Sean, em 1975, ela passou a cuidar das contas do marido, enquanto ele se encarregava da mamadeira da criança. Dono do título de sétimo artista morto que mais fatura no show biz, em 2009 sua receita foi de US$ 15 milhões – ano do lançamento da discografia remasterizada dos The Beatles, do game Beatles Rock Band e do espetáculo “Love”, do Cirque du Soleil. Este ano promete ser mais lucrativo ainda.
No Festival do Rio já pode ser visto o filme “O Garoto de Liverpool”, que pinta o ex-beatle como o melhor em tudo, inclusive no sofrimento. Paul McCartney, que se apresenta em São Paulo em novembro, é mostrado como franzino e retraído. Além de documentários e da cinebiografia, está prevista a disponibilização das músicas de Lennon no iTunes. No momento em que as vendas digitais estão em crescimento, isso significa rendimentos consideráveis. Entre as 121 faixas oferecidas estão as 13 gravações caseiras do CD inédito “Home Tapes”, incluído na caixa “Signature Box”, com 11 álbuns, o item mais luxuoso nas comemorações. Existe uma versão crua da canção-manifesto “God”, do primeiro disco pós-Beatles em que ele desanca com a ex-banda e todas as crenças hippies, decretando que o sonho acabou: “Não acredito em ‘I Ching’, na ‘Bíblia’, em ioga, Elvis, Dylan, etc.”
NOVIDADE
A caixa “Gimme Some Truth” reúne
as músicas por temas
Yoko acha que canções como essa “são tão relevantes hoje como eram na época em que foram compostas.” Uma afirmação fácil de ser contestada, já que o discurso pacifista e feminista de Lennon se tornou um pastiche publicitário na mão de outros roqueiros. O próprio Lennon percebeu isso ao comentar sobre “Imagine”: “Aquilo é só uma porcaria de canção.” Não se trata, contudo, de demonizar Yoko em sua função de guardiã da aura e do tesouro de Lennon. No recém-lançado livro “Ponto Final” (Companhia das Letras), o jornalista Mikal Gilmore, da revista “Rolling Stone”, desmistifica a visão comum de que a artista japonesa fosse uma megera e a responsável pela separação dos Beatles. Ele lembra uma declaração de Lennon: “O que eu fiz foi usar Yoko.” A confissão, ao invés de destruir, só aumenta o mito em torno dele.
Confira abaixo entrevista com Yoko Ono
ISTOÉ – Poderia falar das dificuldades na remasterização dos oito CDs de John Lennon?
Yoko Ono – Dificuldades são desafios e eu gosto disso.
ISTOÉ – Qual a emoção de se ouvir a voz de Lennon tão clara no CD inédito “Double Fantasy Stripped Down”?
Yoko – Apenas ouça o CD. Você vai ter suas próprias respostas.
ISTOÉ – Lennon fez muitas declarações de amor em música e não via problema em expor vida íntima de vocês dois. Isso era revolucionário na época?
Yoko – Declarações de amor são sempre legais. E eu amei cada uma que ele me fez. Não importava qual o assunto.
ISTOÉ – O que a sra. achou do filme “O Garoto de Liverpool”?
Yoko – Adorei!
ISTOÉ – Poderia adiantar um pouco sobre as raridades reunidas na caixa de CDs “John Lennon Signature Box”?
Yoko – É uma caixa de surpresas e assim deve ficar até o momento em as pessoas a abrirem.
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