Ilustres desconhecidos
Ranking nomeia as dez espécies mais impressionantes
descobertas na natureza nos últimos meses - e um cogumelo
brasileiro que emite luz está entre elas
André JuliãoUma espécie brasileira está entre as dez descobertas mais surpreendentes realizadas na natureza no último ano. O ranking, divulgado apenas recentemente, está em sua quarta edição e é feito anualmente pelo International Institute for Species Exploration, da Arizona State University (EUA). Entre as revelações está um fungo com a rara capacidade de emitir luz, a bioluminescência. O cogumelo foi encontrado em áreas remanescentes de Mata Atlântica pelo químico Cassius Stevani, da Universidade de São Paulo (USP).
Para selecionar as espécies – que incluem uma aranha com a teia mais forte já estudada e uma bactéria que se alimenta da ferrugem do Titanic – foi convocado um grande comitê de taxonomistas (cientistas que nomeiam novos seres). “Eles são livres para usar os critérios que julgarem mais justos, mas são lembrados de que queremos capturar a atenção do público com as escolhas mais impressionantes possíveis, seja por uma biologia estranha, seja por um novo registro de alguma espécie ou mesmo por um nome engraçado”, disse à ISTOÉ Quentin D. Wheeler, diretor do instituto organizador do ranking.
Para selecionar as espécies – que incluem uma aranha com a teia mais forte já estudada e uma bactéria que se alimenta da ferrugem do Titanic – foi convocado um grande comitê de taxonomistas (cientistas que nomeiam novos seres). “Eles são livres para usar os critérios que julgarem mais justos, mas são lembrados de que queremos capturar a atenção do público com as escolhas mais impressionantes possíveis, seja por uma biologia estranha, seja por um novo registro de alguma espécie ou mesmo por um nome engraçado”, disse à ISTOÉ Quentin D. Wheeler, diretor do instituto organizador do ranking.
Com a lista, ele espera atrair a atenção para a necessidade de conhecer e conservar a biodiversidade, além de dar suporte ao trabalho de museus de história natural, jardins botânicos e à própria taxonomia. Um dos nomes do ranking atual ilustra a dificuldade de batizar uma nova espécie. O antílope Philantomba walteri foi encontrado pela primeira vez no Togo, na África, em 1968. “O tempo entre a primeira coleta e a sua nomeação formal pode ser curto ou longo. Em alguns casos, é questão de esperar até encontrar o especialista certo”, explica Wheeler.
Foi o que aconteceu com Stevani, da USP. O cogumelo Mycena luxaeterna foi encontrado por ele pela primeira vez em 2007, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, em Iporanga (SP). “Eu não podia escrever um artigo sobre o fungo enquanto ele não fosse descrito corretamente”, diz Stevani. Ele então procurou por taxonomistas até encontrar Dennis Desjardin, da San Francisco State University (EUA), que o ajudou no registro.
Os cientistas têm pressa para nomear novos seres. Pela média histórica de sete mil espécies descobertas por ano, estima-se que demoraria 1,4 mil anos para finalizar o trabalho de descrever todas elas. Mesmo com a taxa atual de 20 mil descobertas por ano, ainda assim levaria 500 anos. Em 2010, o instituto chefiado por Wheeler convocou cientistas para discutir formas alternativas para acelerar esse processo. “Em breve publicaremos um relatório que vai apontar como o trabalho pode ser completado em 50 anos ou ainda menos”, avisa o pesquisador. Nesse caso, a pressa é amiga da conservação.
Satélites caçadores de água
Recheados com instrumentos de altíssima precisão,
equipamentos mandam do espaço informações que ajudam a
encontrar aquíferos subterrâneos e saber quando vai chover em
áreas vizinhas a desertos
Larissa VelosoSONDA
Espalhado em dois satélites, o sistema Grace acha até água subterrânea
Pouco importa onde a água se esconda. Soterrada ou invisível, ela é encontrada por poderosos satélites ou por um conjunto deles. A centenas de quilômetros da superfície terrestre, equipamentos desenvolvidos pelos Estados Unidos e pela Europa abrigam instrumentos tão precisos que podem ver mudanças milimétricas nos níveis do líquido precioso. Mesmo quando ele está debaixo da terra.
Um desses instrumentos é o sistema Grace (sigla em inglês para Registro de Gravidade e Experimento Climático), desenvolvido pela Nasa e pela DLR, a agência espacial alemã. Seus dispositivos conseguem detectar finas mudanças no volume de água dos mais variados reservatórios. Depois de descontar as alterações que ocorrem por fatores naturais, os cientistas sabem exatamente qual foi a quantidade de líquido usada pelo homem. E podem fazer alertas sobre seu uso.
É possível estimar a variação de áreas de até 200 mil km² com a precisão de 1,5 cm. “Aplicamos o método em muitos dos maiores aquíferos do mundo, como o do Central Valley, na Califórnia, que vem diminuindo 1 km³ a cada quatro meses”, afirma o diretor do Centro de Modelagem Hídrica da Universidade da Califórnia e responsável pelo projeto, Jay Famiglietti. Ele também cita o caso de um grande sistema aquífero no noroeste da Índia, que perde 18 km³ por ano, o equivalente a sete piscinas olímpicas.
Um desses instrumentos é o sistema Grace (sigla em inglês para Registro de Gravidade e Experimento Climático), desenvolvido pela Nasa e pela DLR, a agência espacial alemã. Seus dispositivos conseguem detectar finas mudanças no volume de água dos mais variados reservatórios. Depois de descontar as alterações que ocorrem por fatores naturais, os cientistas sabem exatamente qual foi a quantidade de líquido usada pelo homem. E podem fazer alertas sobre seu uso.
É possível estimar a variação de áreas de até 200 mil km² com a precisão de 1,5 cm. “Aplicamos o método em muitos dos maiores aquíferos do mundo, como o do Central Valley, na Califórnia, que vem diminuindo 1 km³ a cada quatro meses”, afirma o diretor do Centro de Modelagem Hídrica da Universidade da Califórnia e responsável pelo projeto, Jay Famiglietti. Ele também cita o caso de um grande sistema aquífero no noroeste da Índia, que perde 18 km³ por ano, o equivalente a sete piscinas olímpicas.
À ESPERA DA CHUVA
Os satélites determinam qual é a hora certa de
plantar na região do Sahel, ao sul do Saara
Além de detectar o esgotamento de reservas subterrâneas de água, por meio do sistema de satélites Grace, os cientistas estão conseguindo monitorar o derretimento das geleiras do Alasca e da Patagônia. A intenção é que, no futuro, o equipamento também ajude a minimizar tragédias. “Vamos nos concentrar na integração dos dados com modelos climáticos para poder prever a disponibilidade de água. Além disso, a ideia é poder antever grandes enchentes sazonais, como as que ocorrem no Paquistão e na bacia do rio Mississippi”, detalha Famiglietti.
Em termos de ajuda a áreas que sofrem com a falta ou o excesso de água, um outro estudo, desenvolvido pelo Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, é inovador. Usando dados da rede de satélites Meteosat, da Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos, pesquisadores descobriram um modo para prever as fortes tempestades que se formam na área ao sul do deserto do Saara e duram até dois dias. “Descobrimos que, onde há uma combinação de áreas de solo seco e úmido, as novas chuvas têm duas vezes mais propensão de ocorrer. Isso porque essa combinação de taxas de umidade gera diferenças na temperatura do ar, o que por sua vez provoca um fenômeno semelhante à brisa marinha”, explica o responsável pela pesquisa, o meteorologista Christopher Taylor.
A região estudada, conhecida como Sahel, engloba países como Nigéria, Sudão e Etiópia, nações com baixos níveis de desenvolvimento humano, nas quais uma boa colheita pode ser a diferença entre a vida e a morte. Os estudos, desenvolvidos em conjunto pela Grã-Bretanha, França e Austrália, podem ajudar a determinar a hora certa para plantar. Depois de garantir as comunicações ao redor do planeta, chegou a hora de os satélites matar a sede de animais e vegetais que vivem por aqui.
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