A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 5 de junho de 2011

A Semana na Ciência


1- Celular sob suspeita de causar câncer

OMS classifica o uso do aparelho como possivelmente 

carcinogênico. Picles e café estão na mesma categoria

Cilene Pereira
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Os cinco bilhões de usuários de telefone celular levaram um susto na última semana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um comunicado no qual afirmou que o uso dos aparelhos possivelmente aumenta a chance de câncer.

O anúncio foi feito após a realização de um encontro que reuniu 31 cientistas de 14 países, em Lyon, na França, organizado para analisar o potencial carcinogênico da exposição humana a campos de frequência eletromagnética, como os criados por radares, micro-ondas, antenas de transmissão de sinais de rádio e tevê e celular. Segundo a entidade, há evidência – limitada – de que a utilização do aparelho está associada a maior risco para glioma (tumor maligno no sistema nervoso central ou na coluna) e neuroma acústico (tumor benigno no canal auditivo).

O anúncio causou enorme confusão e deixou mais dúvidas do que certezas. A conclusão dos especialistas reunidos pela OMS foi obtida após a análise de centenas de estudos científicos, de acordo com o órgão. Mas os cientistas não souberam quantificar o risco (quanto tempo o indivíduo deve ser exposto). Apenas citaram um trabalho, de 2004, que mostrou aumento de 40% na chance de ocorrência de glioma entre os que usavam 30 minutos por dia, por mais de dez anos.

Com base no que encontrou na literatura científica a respeito do assunto, o grupo de pesquisadores resolveu classificar o celular como um agente “possivelmente carcinogênico para humanos”. Essa é uma das classificações criadas pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), para avaliar o risco de agentes diversos em uma escala que vai de um a quatro. Sob essa designação estão outros 266 agentes – entre eles picles e café.

5 Bilhões é o número de usuários de celular em todo o planeta

Na definição da entidade, a classificação representa duas situações: que há evidência limitada de potencial carcinogênico em humanos e menos do que suficientes em trabalhos com animais ou que há evidência inadequada em humanos, mas suficiente em pesquisas com cobaias. “Isso significa que pode haver algum risco”, afirmou Jonathan Samet, coordenador do grupo de especialistas e professor da Uni­versity of Southern California, nos Estados Unidos. “E que a partir de agora devemos ficar muito atentos para um link entre celulares e o risco de câncer.”

De fato, a avaliação da OMS servirá como um estímulo para que mais pesquisas sejam realizadas daqui para a frente – até porque, como a própria entidade admite, os resultados ainda são controversos. Uma das grandes expectativas repousa sobre os resultados do chamado projeto Cosmos, integrado por diversos centros de estudos europeus que tem por objetivo avaliar o impacto do celular sobre a saúde usando como base de amostra cerca de 230 mil pessoas. A ideia é acompanhar esses indivíduos por no mínimo dez anos.

Uma das questões que estão em aberto é a explicação sobre os mecanismos que poderiam levar a essa associação. O documento da OMS, por exemplo, não esclarece isso. E a contar do que se sabe atualmente seria de supor que o aparelho não apresentasse risco de causar qualquer tipo de tumor. “O celular emite uma radiação não ionizante, que, pela biologia, não causa câncer”, afirma o médico Douglas de Castro, do Departamento de Radioterapia do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo.
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ATENÇÃO 
O cientista Samet alerta para a necessidade de mais pesquisas
De qualquer maneira, autoridades de saúde em todo o mundo preferem recomendar a cautela na utilização do aparelho. “Enquanto não houver mais informações sobre o tema, é importante que o usuário adote medidas que reduzam sua exposição à radiação emitida pelo aparelho”, afirmou Christopher Wild, diretor da Iarc. “Uma delas é recorrer ao fone ou enviar mensagens de texto, mantendo o aparelho distanciado do corpo.”

Outra orientação – essa mais antiga – é a de evitar a utilização por crianças. De acordo com o Ministério de Saúde da Inglaterra, por exemplo, o recomendável é que não seja permitido o uso para os menores. A explicação é a de que, nesta fase da vida, o sistema nervoso ainda está em formação, e, dada a ausência de conclusões mais definitivas, o ideal é deixar os pequenos longe dos aparelhos.  
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2-Expulsos pelo gelo

Estudo comprova que alteração brusca de temperatura fez os 

vikings abandonarem a Groenlândia no século XV - um alerta 

em tempos de mudanças climáticas

André Julião
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INÓSPITO 
A queda da temperatura acabou com as colônias vikings na Groenlândia
O fim da ocupação viking na Groenlândia continua um mistério para a arqueologia, mas as ciências climáticas acabam de desenhar um novo quadro sobre a época em que esse povo – originário da Islândia e da Noruega – viveu na ilha, situada entre os oceanos Ártico e Atlântico. Os cientistas já sabiam que uma súbita queda de temperatura, chamada de Pequena Era do Gelo, assolou o território por volta de 1400. Agora, uma nova pesquisa comprova que o clima se tornou mais frio em um período de décadas, o que expulsou os europeus da América de vez.

A descoberta é fruto da reconstrução dos eventos climáticos ocorridos nos últimos 5.600 anos em dois lagos de Kangerlussuaq, localidade próxima de uma das áreas onde os vikings viveram. A análise do gelo encontrado nos lagos reflete a temperatura do ar na época em que esse povo nórdico viveu, assim como os povos anteriores a eles – os saqqaq e os dorset. “É o primeiro registro quantitativo de temperatura dessa área”, diz William D’Andrea, principal autor do estudo, publicado na edição da semana passada da revista científica “PNAS”. “Podemos dizer que houve uma tendência de resfriamento na região logo antes dos nórdicos desaparecerem”, afirma.

Análises do núcleo da camada de gelo são a principal ferramenta para analisar temperaturas do passado. Graças a estudos desse tipo é que sabemos, por exemplo, que a Terra está se aquecendo a níveis nunca antes observados no planeta. “Há uma grande variedade de técnicas que os cientistas usam para reconstruir o clima do passado a partir dessas análises”, explica D’Andrea à ISTOÉ. “Isso inclui taxas de acúmulo de neve, isótopos de oxigênio e a medição da temperatura diretamente dos buracos feitos no gelo”, completa.

“É interessante considerar como rápidas mudanças no clima impactaram sociedades do passado, principalmente levando em conta as mudanças climáticas repentinas que ocorrem hoje”, afirmou Yongsong Huang, professor da Brown University (EUA) e coautor do estudo. Os pesquisadores, porém, reiteram que esse não foi o único fator a influenciar o fim da ocupação viking na Groenlândia. Seu modo de vida sedentário, altamente dependente da agricultura e do gado para alimentação, a dependência de comércio com a Escandinávia e os constantes conflitos com os vizinhos inuítes – que colonizaram a ilha depois deles – foram os fatores que contribuíram para o seu declínio.
O período em que os vikings se estabeleceram no território, aproximadamente no ano 980, coincide com um clima ameno, semelhante ao que a ilha vive hoje – seu manto de gelo está derretendo e deixando mais terra disponível para a agricultura. O mesmo ocorreu com outros povos que viveram lá antes (leia quadro). A mudança brusca de temperatura mudou radicalmente a vida dos guerreiros nórdicos – conosco, pode não ser muito diferente. 
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3-A escolha alemã

O anúncio do fim do programa nuclear da Alemanha gera 

decisões semelhantes em outras partes do mundo - e pode 

mudar planos do Brasil em relação às suas usinas

André Julião
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CONDENADAS
Todas as 17 usinas nucleares alemãs serão desativadas até 2022
A Alemanha tomou uma decisão histórica na semana passada ao anunciar o desligamento progressivo de todos os seus reatores nucleares até 2022. A medida, anunciada pela chanceler Angela Merkel, prevê a aposentadoria das 17 instalações atualmente em funcionamento no país – responsáveis por mais de 20% do fornecimento da energia elétrica local. As fontes renováveis devem tomar o lugar da fissão, embora ainda não seja claro como isso vai ocorrer.

O desafio é grande. Mesmo que a Alemanha dobre a participação da energia eólica, solar e de biomassa (atualmente de 18%), como promete, não dará conta de suprir a necessidade do país. Por isso, o governo aposta também em medidas de estímulo à redução do consumo, como incentivos fiscais a construções com baixo gasto de eletricidade. Segundo o plano, o consumo deve cair 10% até 2020.

Especialistas, no entanto, acreditam que nos próximos anos a desativação deve provocar o aumento do uso de energia termoelétrica, obtida a partir da queima do carvão e responsável por grande parte das emissões globais de gases do efeito estufa (leia quadro). Essa forma de geração energética responde hoje pela maior parte do abastecimento local. Isso, porém, se daria apenas nos primeiros anos da década, quando as alternativas renováveis então ganhariam mais espaço. “A Alemanha tem um bom potencial para energia eólica e solar”, diz o físico nuclear José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP).
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FUTURO
A chanceler Angela Merkel aposta nas energias limpas.
Nas outras fotos, protestos antinucleares em Berlim
O anúncio de Angela Merkel ocorre num momento de crescimento do Partido Verde alemão – que deve sua origem à luta antinuclear – e de pressões populares. Há dois anos, a chanceler havia revisto uma decisão de 2002 do então mandatário Gerhard Schroeder, que previa o encerramento da atividade nuclear da nação até 2030. Em vez disso, ela decidiu prorrogar a atividade dos reatores até 2042. A medida desagradou ao ministro do Meio Ambiente e organizações ambientalistas. Dois dias antes da decisão, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas em 20 cidades alemãs para pedir o fim da energia atômica no país.

Dos 17 reatores alemães, oito estão no chamado “estado de hibernação”. Isso ocorre desde março, quando as instalações nucleares de Fukushima, no Japão, entraram em colapso. A parada nas atividades, que seria temporária, agora será definitiva. Dos nove ainda em funcionamento, seis serão desativados até 2021 e os últimos três, em 2022 (leia gráfico abaixo). Depois do vazamento japonês, Suíça, Áustria e Dinamarca também se comprometeram a abandonar a fissão nuclear. Já a Itália, China, Tailândia e Malásia adiaram planos de construir novas instalações. Por sua vez, França, Grã-Bretanha e os países do Leste Europeu se recusam a abrir mão de seus reatores.

A escolha alemã de se tornar a primeira nação europeia a abandonar a energia nuclear ressoou também no Brasil. A construção de quatro novas usinas nucleares até 2030 está sob reavaliação na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão submetido ao Ministério de Minas e Energia e responsável pelo novo Plano Nacional de Energia (PNE), com a estratégia para o setor até 2035. As quatro novas usinas – duas no Nordeste e duas no Sudeste – podem ser excluídas das prioridades. “É um bom sinal, mas isso não quer dizer, ainda, que as usinas não serão mais construídas”, explica Ricardo Baitelo, especialista em energia do Greenpeace.

A decisão brasileira, porém, só será anunciada no ano que vem. O plano era construir mais quatro usinas, além de Angra 3, que teve as obras retomadas após uma interrupção de 20 anos. Os equipamentos dessa usina e de Angra 2 são alemães, mas não devem ser afetados pelo fim do programa nuclear do país europeu do ponto de vista tecnológico – todo o material já estaria no Brasil. O problema é financeiro. Cerca de 30% do valor da usina cerca de (R$ 3,4 bilhões) viria de investimentos da França, garantidos por um mecanismo de crédito do governo alemão. Sem uma definição sobre o futuro nuclear no País, a oposição alemã pressiona para que o crédito seja cancelado. Por isso, o BNDES já se comprometeu a pagar essa parte, arcando com todo o custo da obra – cerca de R$ 10,4 bilhões. A Alemanha provou que o fim das usinas tem um poder de se espalhar maior do que o da radiação.
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SUJAS
Usinas termoelétricas alemãs serão mais usadas
Limpa por um lado, suja por outro
Uma notícia pode abalar o clima de festa que se seguiu ao anúncio do fim do programa nuclear alemão. A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu que 2010 foi o ano com as maiores emissões de gases do efeito estufa da história. Os defensores da energia atômica podem argumentar que o desligamento das usinas alemãs vai aumentar as emissões por causa do aumento da queima de carvão. Com alguma razão. Antes do anúncio do fim do programa nuclear alemão, a AIE já havia advertido que a “hibernação” dos sete reatores iria acrescentar 25 milhões de toneladas por ano às emissões de dióxido de carbono do país. “Se considerarmos o ciclo inteiro, da mineração até o descarte do material radioativo, porém, ela emite muito mais do que qualquer outra fonte energética”, diz Ricardo Baitelo, do Greenpeace. Para José Goldemberg, da USP, as piores consequências do aquecimento global serão sentidas em 30 ou 40 anos. “Mas um acidente nuclear tem desdobramentos imediatos.”
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