A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

sábado, 30 de julho de 2011

Histórias da Física - o fim de uma era

O fim de uma era



            O pouso do ônibus espacial Atlantis, na quinta-feira da semana passada (21/07), o último em operação da flotilha da agência espacial americana (Nasa), encerrou um período de três décadas de domínio desses veículos.
Nessas ocasiões, são comuns as cenas de abraços, despedidas e lágrimas entre os membros das equipes técnicas.
            Entre a população de modo geral também parece haver a sensação de que, o que um dia foi o futuro luminoso e cheio de promessas, rapidamente passou para a história como algo desvendado e sem outro destino a não ser os museus.
            Para a mídia diária quase sempre é apenas mais uma oportunidade de se produzir e divulgar uma montanha de tolices, repleta de emocionalismo e completa desinformação.
            Nos telejornais, mesmo nos melhores deles, a confusão em torno do noticiário de ciência se mantém à altura dos conteúdos do antigo curso primário.
            Desolador.
            Em relação aos ônibus espaciais, no entanto, para não fugirmos do foco desta abordagem, pode-se dizer que “já foram tarde”.
            Desde o início, os ônibus que sensibilizaram o grande público foram duramente criticados pela comunidade científica mais conseqüente.
E a razão disso é que não contribuíram em praticamente nada para o avanço da ciência, neste caso, basicamente da exploração do espaço, com todos os desdobramentos possíveis deste empreendimento.
            Os ônibus espaciais não foram mais que uma concepção do ex-ator de filmes de cowboy, Ronald Reagan, como presidente americano, para materializar o que concebeu como “guerra nas estrelas” o cenário projetado pelos conservadores para a batalha final no ambiente da guerra fria.
            Mas a então União Soviética desmoronou antes disso.
            Os ônibus foram atuantes na montagem da Estação Espacial Internacional (ISS) que também é irrelevante em termos de produção científica.
            Os ônibus foram desativados com a conclusão da estação e a estimativa é de que, já em 2020, ela mesmo mergulhe de volta à Terra, afundando no Oceano Pacífico.
            Em órbita da Terra a ISS, seria apenas mais um item do lixo espacial.
            O único item capaz de produzir pesquisa científica relevante foi adicionado à ISS no vôo anterior de um ônibus espacial.
Trata-se de um detector europeu para raios cósmicos.
Mas esse instrumento pode apenas amenizar o vazio científico da estação e não estava programado para fazer parte da estrutural orbital.
            Cientistas mais críticos temiam que os recursos destinados aos ônibus espaciais comprometessem a exploração não tripulada de planetas do Sistema Solar e outros alvos do espaço profundo, com engenhos em órbita.
            Com a desativação dos ônibus, para minimizar a situação, fala-se de um retorno à Lua e uma ida à Marte, além de certa “popularização” do turismo orbital.
            Metas vagas e distantes.
            Um retorno à Lua, ao que tudo indica, só será viabilizado pela indústria do turismo espacial, mas mesmo essa meta não está logo ali, no próximo quarteirão, ainda que não seja nenhuma utopia.
É apenas questão de dinheiro, a única coisa que parece ter valor no mundo atual.
Quanto a Marte, o desafio não chega a ser tecnológico, mas de motivação.
O que iríamos fazer em Marte neste momento, com os cofres da Terra arruinados e sem perspectiva de solução a curto prazo?
Não estou dizendo que os catastrofistas tenham razão e que o mundo não passa de 2012, como parte das pessoas parece estar sempre disposta a interpretar.
Não.
O mundo sempre foi terrível ou maravilhoso, dependendo das circunstâncias e, como na relatividade geral de Einstein, dependendo da posição de um observador.
Na minha interpretação, mas isso é apenas uma única opinião, sempre foi, é e será um fascinante mistério. Até minha última respiração.
Mas meu vizinho pode entender, com toda procedência, que, como John Lennon, eu também sonhe de olhos abertos.
Enfim, os ônibus espaciais já foram tarde.
Que o futuro próximo nos traga novas e fascinantes razões para observamos as grandes distâncias, cobiçando os tesouros de conhecimento que elas abrigam.
Ulisses Capozzoli

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