A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 24 de julho de 2011

A Semana na Ciência


Os donos do GPS

Quem são as pessoas que, em uma sala no interior dos EUA, 

controlam o sistema que orienta aviões, encontra endereços e 

torna possível acertar um míssil numa formiga a 2 mil km

Edson Franco
Vídeo mostra como, a partir de um centro da Aeronáutica nos EUA, trabalham os responsáveis pela manutenção do GPS em todo o mundo. Confira :

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VIGILÂNCIA
Três equipes de oito pessoas monitoram 32 satélites 24 horas
Cada um dos 32 satélites utilizados pelo GPS (Sistema de Posicionamento Global) custa cerca de R$ 100 milhões. Se as informações que eles passam não forem interpretadas corretamente, aviões podem cair, navios a caminho da Índia correm o risco de parar na América e, em vez de cavernas no Afeganistão, os mísseis americanos podem acertar o Vaticano. O responsável por operar máquina tão cara e evitar tragédias dessa magnitude pode ter pouco mais de duas décadas de vida. É o caso do aviador classe A do Segundo Esquadrão de Operações Espaciais da Força Aérea dos EUA Jareo Brumfield. Ele tem apenas 22 anos.

Jareo é um dos três operadores de sistema de satélite, fundamentais para a saúde do sistema que orienta nossos passos, voos e cruzeiros pela Terra. Ele controla satélites viajando a 14 mil km/h e repletos de peças que, a essa velocidade, seriam destroçadas caso fossem atingidas por uma meia de astronauta solta no espaço. “Toda informação que chega até os satélites passa por quem ocupa essa posição”, disse à ISTOÉ Marie Denson, segundo-tenente responsável pelas relações públicas na Base Aérea de Schriever, Colorado. É ali que fica o complexo de 16 km² onde é controlado todo o sistema.

Além de três profissionais como Brumfield, a sala de controle tem mais cinco cadeiras: uma é a do operador de rede, que cuida da comunicação entre a central e sistemas em terra; outra é a do analista de dados do sistema, responsável por checar e corrigir informações vindas do espaço; há ainda a do operador de veículos, profissional que entra em ação caso algum satélite saia da rota. Completam o time um chefe e um comandante. São três equipes que se alternam em turnos de oito horas.

Não é nada fácil ocupar uma dessas cadeiras. Os candidatos começam os testes 1,5 mil km distantes delas, na base aérea de Vanderberg, Califórnia. Durante seis semanas, recebem noções sobre GPS e como operá-lo. Os que passam por essa primeira peneira vão até Schriever. Dependendo do posto com o qual sonham, passam por treinamentos que duram entre 60 e 140 dias. E aí vira um funil. “Um teste final define os pouquíssimos aprovados”, afirma a segundo-tenente Marie.

Tanto critério na seleção se justifica. Esses profissionais têm nas mãos a responsabilidade de controlar os mais precisos relógios feitos por mãos humanas. Toda operação do GPS depende do sincronismo e da precisão absoluta dessa constelação de satélites bailando no espaço. Graças ao controle do horário, é possível aos operadores coordenar as máquinas para que, a todo tempo, seja possível “ver” quatro delas ao mesmo tempo em qualquer ponto da Terra (leia quadro abaixo). Um milésimo de segundo no espaço pode significar dezenas de milhares de quilômetros na superfície.

A escolha dos candidatos também passa por um processo que evita, por exemplo, a entrada de um sabotador. Mas a maior preocupação com segurança está longe do departamento de recursos humanos. Tudo no GPS é controlado por PCs, e computador é sinônimo de vulnerabilidade. As vacinas digitais mais poderosas do mundo têm dado conta desse recado, mas há outros perigos. Em um estudo publicado no começo deste ano, o professor Martyn Thomas, da Universidade de Oxford, mostrou que uma gambiarra numa antena poderia desordenar o serviço de GPS em todo o sul da Inglaterra, fechando aeroportos, interrompendo operações bancárias e, claro, levando motoristas para o lado errado. “A probabilidade de algo assim ocorrer é baixíssima. Parte dos satélites GPS hoje tem como funcionar independentemente do controle terrestre por até 180 dias”, pondera o professor-doutor João Francisco Galera Monico, do Grupo de Estudos em Geodésia Espacial da Unesp.

Na Base Aérea de Schriever são controlados dois tipos de GPS. Além desse cujos resultados aparecem em qualquer táxi, há um outro mais preciso, mas de uso restrito aos militares. Com ele, um destróier faz um míssil entrar numa chaminé há 2 mil km de distância. Essa versão mais completa não dá nem para comprar. Mas a primeira é de graça. E isso não significa falta de qualidade. Neste exato momento, há oito homens e mulheres empenhados em garantir isso. 
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O futuro da comida

O crescimento da população e o aquecimento global forçam a 

ciência a criar soluções para garantir o suprimento de alimentos

André Julião
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Para uma pessoa que adquire todos os alimentos de que precisa no supermercado, é difícil imaginar que a grande variedade de cereais, legumes, frutas e carnes disposta nas prateleiras corre o risco de desaparecer. Mas, num planeta que alcançará sete bilhões de habitantes neste ano – e deve chegar a nove bilhões até 2050 –, a abundância de comida é meramente ilusória. No mundo todo, diariamente são extintas inúmeras espécies vegetais, os mares possuem cada vez menos peixes, e a criação extensiva de gado é um dos grandes motores do aquecimento global. 

Enquanto uma população maior gera demanda por mais comida, o aquecimento do planeta exige novas variedades de plantas comestíveis, resistentes a novas pestes e condições climáticas. O mesmo ocorre com as raças de animais de que dependemos para obter proteínas – principalmente bois, cabras e porcos. Além disso, só recentemente o homem começou a domesticar nossa última fonte alimentar selvagem: os peixes. Algo urgente ,considerando as estimativas de que, mantido o ritmo atual da pesca, em 50 anos não haverá mais o que tirar do mar.

Especialistas acreditam que, para garantir nutrientes a uma população 28,5% maior daqui a 40 anos, seria preciso dobrar a produção atual de alimentos. Quanto aos vegetais, o desafio é armazenar amostras do maior número possível de variedades alimentícias, a fim de fazer cruzamentos que garantam plantas mais produtivas e resistentes. Foi exatamente a combinação entre seleção e cruzamento que permitiu que alcançássemos as grandes produções atuais. Ao mesmo tempo, essa prática fez com que muitos tipos tenham se perdido. Na China, por exemplo, 90% das espécies de trigo que existiam há um século simplesmente sumiram. “A variabilidade genética é fundamental para garantir o futuro da humanidade”, disse à ISTOÉ Cary Fowler, diretor-executivo da Fundação Global para a Diversidade de Safras.
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VISIONÁRIO
“A variabilidade da comida é o futuro da humanidade”, diz Cary Fowler
Em 2008, ele inaugurou o Banco Global de Sementes, em Svalbard, na Noruega. Nessa estrutura estão guardadas cópias de segurança dos germoplasmas (sementes, mudas e outras partes de vegetais que podem ser plantadas) dos 1,4 mil bancos desse tipo espalhados pelo mundo. Esses repositórios da diversidade vegetal possuem pelo menos 6,5 milhões de amostras de diferentes plantas comestíveis, que, no futuro, podem servir para fazer cruzamentos de acordo com as características desejadas.

O projeto mais ousado de Fowler, porém, é a busca global pelas últimas espécies selvagens dos alimentos que consumimos hoje, missão que deve durar dez anos. “Elas são a maior, a melhor e a última fonte de diversidade”, diz. A versão brasileira da arca da comida de Fowler é a Rede de Recursos Genéticos Vegetais, uma ramificação da Plataforma Nacional de Recursos Genéticos, formada por universidades e institutos de pesquisa e encabeçada pela Embrapa. A rede possui 214 mil amostras de 600 espécies agrícolas importantes. “Graças a ela, temos a chance de ter uma variedade muito maior de alimentos no prato no futuro”, diz Patrícia Bustamante, líder do programa.
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GARANTIA 
DNA de animais é congelado para conservar espécies brasileiras
Já a Rede de Recursos Genéticos Animais conta com 50 mil amostras de sêmen de diversas espécies, sobretudo de bovinos, caprinos e ovinos, além de 300 embriões, mantidos em botijões de nitrogênio líquido a 196 graus negativos. A rede conta ainda com uma fazenda, a cerca de 30 quilômetros de Brasília, onde tipos diferentes de bois, porcos, ovelhas e cabras garantem um estoque vivo de material genético para as próximas décadas. “O Brasil possui raças que se adaptaram aos diferentes ecossistemas”, explica Artur Mariante, líder da Plataforma Nacional de Recursos Genéticos. “Embora menos produtivas que as comerciais, as raças naturalizadas (trazidas pelos colonizadores) têm um enorme potencial, tanto para cruzamentos quanto como raças puras”, diz. Soluções mais radicais, porém, estão em curso.
Cientistas das universidades de Oxford (Inglaterra) e Amsterdã (Holanda) trabalham no desenvolvimento de carne artificial. Estudos apontam que a técnica reduziria em 96% a emissão de gases do efeito estufa em comparação com a criação de gado. Além disso, exigiria de 7% a 45% menos energia e apenas 1% da terra e 4% da água necessárias para obter o mesmo volume do alimento produzido convencionalmente. “Se mais recursos forem investidos, a fabricação comercial poderia começar em cinco anos”, diz Hanna Tuomisto, uma das autoras do estudo. Para obter a aparência de bife, outros cinco anos seriam necessários. Poucas quantidades foram feitas até agora e a textura ainda é parecida com a de carne moída.
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ESTOQUE
Patrícia Bustamante, da Embrapa, cuida de 214 mil amostras de sementes
A obtenção de carne de peixe, porém, ainda está numa fase anterior. Só nos últimos 50 anos a piscicultura (ou aquicultura) se tornou uma indústria de verdade. A produção mundial passou de menos de um milhão de toneladas em 1950 para 52,5 milhões em 2008. Hoje, metade dos frutos do mar consumidos no mundo vem de criações. A maior parte do salmão, por exemplo, sai de fazendas de países como o Chile, que, embora não tenha esse animal entre as espécies nativas, possui condições climáticas ideais para a sua criação. A carne deles, porém, tem menos nutrientes do que a dos animais selvagens e um aspecto acinzentado. Frequentemente, os criadores adicionam um produto químico à ração dada aos peixes para dar a coloração alaranjada semelhante à natural.

Outra tendência para os próximos anos, a criação de espécies vegetarianas e de água doce, como a tilápia e a perca-gigante, deve predominar em relação à de carnívoros como o atum e o salmão, que exigem espécies retiradas do mar para compor sua dieta. “A criação de áreas de proteção marinha poderia ainda trazer de volta 30% das populações, o que aumentaria consideravelmente o número desses predadores”, disse à ISTOÉ Paul Greenberg, autor do livro “Four Fish” (sem tradução no Brasil), um dos trabalhos mais abrangentes sobre a questão pesqueira.
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CRIAÇÃO
A maioria do salmão consumido no mundo é de cativeiro
Pelo que se vê, a comida do futuro não será tão diferente, mas virá de outras espécies animais e vegetais. Mas carne de laboratório, peixe de cativeiro e novas variedades de grãos são as únicas soluções? “Gostaria de afirmar que tudo vai ficar bem, mas realmente não sabemos”, diz Fowler, do Banco Mundial de Sementes. Temos os meios para garantir o alimento do amanhã. Precisamos, agora, de criatividade para inventá-lo.  
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