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Nós físicos adoramos fenômenos da natureza. Mas não é preciso ser cientista para gostar de futebol e dos "fenômenos" que ele pode nos revelar.
Vimos ontem a despedida emocionada de genial Ronaldo "Fenômeno". Ele deixou o futebol alegando argumentos fortemente humanos: simplesmente não dá mais! Foi triste. Heróis imbatíveis só existem nas revistas em quadrinhos ou na tela do cinema. Heróis humanos são diferentes, são falíveis.
Ronaldo mesmo fora de forma, quase desfiava Newton e a Lei da Inércia, e ainda foi capaz de fazer jogadas incríveis, históricas, muito rápidas, deixando seu marcadores procurando a bola no vazio!
Futebol é (ou deveria ser) apenas isso: brincadeira, entretenimento, diversão. Para os atletas não, é profissão. Mas para a grande maioria das pessoas futebol é apenas desculpa para brincar com os amigos que torcem para outros times. É motivo de bom papo nas segundas-feiras após a rodada do final de semana. Futebol nada mais é que a coisa mais importante entre as coisas menos importantes que existem. Infelizmente muita gente leva o futebol a sério demais. Mais a sério que a sua própria vida, do que a política do país! Uma pena. E por conta deste equívoco, faz bobagens e até mata. Ridículo!
Mas é fato que, mesmo nos altos e baixos do Ronaldo nos últimos tempos, nunca deixei de admirá-lo pelo talento especial de alguém fez história no futebol mundial, o que não pode ser mera obra do acaso. Nem sempre aprovei as suas atitudes, é fato. Nem sempre o achei um exemplo máximo de profissionalismo. Mas é fácil falar, criticar. Não deve ser simples para alguém tão jovem e tão talentoso conquistar o mundo tão cedo e rapidamente e ainda manter a linha. Ronaldo escreveu a sua história, por linhas tortas. Mas tem uma bela história escrita. Diria mais, uma história conquistada. E ao final da sua carreira, é isso que de fato importa.
Se tiver um pouco de paciência, veja esta postagem que rola na internet sobre R9:
::: RAIO X DE UM GOL 'FENOMENAL' :::
Ficou na minha cabeça e, imagino, na cabeça de muita gente que gosta de futebol, o genial lance do terceiro gol feito pelo Ronaldo “F.” de Fênix, deFenômeno ou de Futebol, como queira.
É este lance que vou “radiografar” fisicamente neste artigo por solicitação da jornalista Valéria Corbucci, editora de esportes do Portal Vírgula (virgula.uol.com.br).
0 - Fenômenos físicos
Antes de mais nada, fenômenos físicos são sempre previsíveis. Uma vez observados e entendidos podemos criar leis que sempre serão por ele obedecidas. Estas leis, as famosas leis da Física, nos mostram a regularidade do fenômeno físico e são capazes de prever sempre, dentro das condições de contorno para as quais foram criadas, como o fenômeno vai se comportar.
Já um fenômeno do futebol, como o Ronaldo, é imprevisível. Mesmo submetido às mesmas leis da Física como qualquer outro corpo – afinal é somente mais um corpo no Universo – não há como prever o que pode fazer a ponto de às vezes parecer que é capaz de burlar as leis físicas. Incrível! Na verdade, grandes esportistas não ferem as leis da Física. Ao contrário, sabem muito bem como usá-las na prática em seu favor.
1 – O tempo de reação
Sempre que tomamos uma decisão há um tempo de reação. Em outras palavras, se pensamos fazer alguma coisa, entre o momento em que o cérebro dá o comando para a ação e o momento em que a ação acontece, passa-se um período de tempo, curto, mas não desprezível. Este período é o tempo de reação.
Grandes atletas, fenômenos do esporte, têm sempre um tempo de reação minimizado e, por isso, são capazes de tomar atitudes e realizar movimentos com muita agilidade. Eles parecem pensar na frente de todo mundo. Na verdade eles reagem antes do que se poderia esperar. Esta é uma característica marcante que confere a um fenômeno do futebol, como o Ronaldo, imprevisibilidade. Não dá tempo de prever o que ele vai fazer e já foi, ele já fez!
2 - As Leis de Newton
A segunda lei de Newton prevê que a “Força resultante é igual à massa vezes a aceleração”. Matematicamente ela pode ser escrita como:
Traduzindo para uma linguagem menos técnica, esta lei prevê que todo corpo de massa m, submetido a uma força resultante F, adquire aceleração a. E, se acelera, ganha velocidade. Quanto maior é a sua aceleração a, mais rapidamente atinge a velocidade máxima.
Ronaldo sempre teve uma explosão muscular invejável, ou seja, sempre foi capaz de trocar com o gramado uma força F bastante intensa. E, pela Terceira Lei de Newton, a Lei da Ação e Reação, “se empurra o chão para trás com uma força F (Ação), recebe dele outra força F (Reação) de mesmo valor, na mesma direção, mas em sentido contrário”, ou seja, para frente. Esta força, aplicada à sua massa m, provoca alteração da sua velocidade, ou seja, produz uma aceleração a para frente dada por:
Note pela expressão acima que, quanto menor é a massa m (denominador), maior é a aceleração a, ou seja, mais rapidamente a velocidade máxima é atingida. E, chegando antes à velocidade máxima, Ronaldo ganha tempo e espaço, deixando os marcadores para trás.
Ronaldo treinou, fez dieta, malhou, e já perdeu bastante massa. Atualmente, com uma massa m visivelmente menor, para a mesma explosão muscular F, consegue uma aceleração a significativamente maior, ou seja, dá seus típicos piques com arrancadas muito rápidas e fortes. Até parece um carro de F1 acionando o KERS(1) - Kinetic Energy Recovery System - e ganhando alguns cavalos a mais de potência. No caso do Ronaldo não é a força F que cresceu e sim a massa m que diminuiu. Mas o efeito é análogo.
3 – Quatro segundos, reação rápida, a Inércia, e Gooooool No lance do terceiro gol do Corinthians Ronaldo já recebe o passe em pleno pique. Já deu sua famosa arrancada e se posiciona bem para receber a bola.
Triguinho, que fez o único gol do Santos, corre atrás do Ronaldo a toda velocidade que pode e pretende encontrá-lo lá na frente e barrá-lo antes que chute a gol. Pela Lei da Inércia, mais uma das Leis de Newton, “todo corpo em movimento tende a continuar em movimento retilíneo e uniforme”. Mais uma vez procurando ser um pouco menos técnico e mais prático, isso quer dizer queTriguinho (ou qualquer corpo) correndo não consegue parar instantaneamente pois tende a continuar se movendo em linha reta. Forças têm que se opor ao movimento e produzir a freada. E para isso tem que haver um tempo de desaceleração.
Aí vem mais um golpe de genialidade do Ronaldo que, com o pé direito dá um toque sutil e inesperado na bola que muda a sua trajetória em quase 90 graus. Vamos marcar o tempo. Disparamos o cronômetro quando acontece o toque genial, instante t0 = 0s.
O momento do toque sutil, porém matador
Triguinho, que vem “no embalo”, por Inércia, não consegue parar e "passa batido". Já era!
Triguinho "passa reto", por inércia
O tempo (cerca de 2s) que ele vai demorar para reagir, brecar, parar e mudar a sua própria trajetória para continuar seguindo Ronaldo é curto mas suficientemente grande para que o Fenômeno, muito ágil, reencontre a bola, agora de cara para o gol, sem nenhum marcador a frente, só o goleiro, adiantado, e chute-a como o pé esquerdo no instante t1 = 2,3s(2).
Momento do chute sobre o goleiro adiantado
Fábio Costa assiste ao indefensável vôo da bola sobre a sua cabeça
E a bola vai morrer na rede no instante t2 = 4,5s.
Bola na rede ao final de 4,5 s de uma jogada fenomenal
É incrível! Ronaldo resolve o lance em apenas 2,3s, praticamente a metade do tempo total de 4,5s. O vôo da bola, de pouco mais de 2,0s até parece em câmera lenta frente à agilidade do jogador e a sua jogada matadora de 2,3s!
4 – Uma parábola perfeita em direção à rede
Todo corpo lançado ao sabor da gravidade, desprezando-se a resistência do ar, fará uma trajetória que é uma parábola perfeita. Esta parábola, desenhada pela gravidade, pode ser descrita pelos seus componentes ortogonais na horizontal e na vertical. Esta descrição é uma herança de Galileu Galilei e obedece rigorosamente às Leis de Newton e à Lei da Gravitação Universal (também de Newton).
Demonstra-se que o tempo T de vôo do corpo lançado, no caso a bola de futebol, pode ser calculado por:
V0 é a velocidade inicial da bola logo após o chute, q é o ângulo de chute em relação à horizontal e g a gravidade local.
Supondo que o ângulo q tenha sido de 45º, sabendo que g = 9,8 m/s² e tom,ando T = 2,2s como o tempo de vôo da bola, podemos substituir os dados na expressão acima para encontrar o valor da velocidade da bola no chute ao gol que dá, aproximadamente, V0 = 15 m/s (cerca de 54 km/h).
Note que a velocidade é baixa, o chute não foi uma "paulada". Ronaldo, de forma brilhante, percebe o goleiro Fábio Costa adiantado, no meio da área. E só dá um "tapa" com precisão na bola para conferir à ela a velocidade correta (aproximadamente 15 m/s ou 54 km/h), num ângulo de chute perfeito (aqui estimado em 45º). Sem a menor chance de defesa o goleiro apenas assiste ao vôo bem alto da bola sobre a sua cabeça. Genial! Perfeito! Fenomenal!
Alguém duvida que o imprevisível Ronaldo Fenômeno é o cara? E hoje? Será que ele apronta mais sobre o Santos? Imprevisível. Só assitindo para ver! Mas a probabilidade de mais um show do Fenômeno é grande!
[Upgrade: pós segunda partida da final] Parabéns aos manos do Mano!
Com empate em 1 X 1 com o Santos o Corinthians é o Campeão Paulista 2009! Esperávamos Ronaldo aprontando mais uma mas, só para ratificar a sua imprevisibilidade, ele teve uma participação "normal".
Mas depois de marcar dois gols na primeira partida, em plena Vila Belmiro, e deixar o Corinthians em grande vantagem contra o Santos para esta segunda partida, Ronaldo nem precisava ter jogado esta segunda final. Precisava?
Fonte : Prof. Braz Jr.
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