A MENTE QUE SE ABRE A UMA NOVA IDEIA JAMAIS VOLTARÁ AO SEU TAMANHO ORIGINAL.
Albert Einstein

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A semana na Ciência

A semana 1 - Seis planetas e 54 ‘Terras’ possíveis

Chegou ontem a notícia: a missão Kepler descobriu candidatos a planeta do tamanho da Terra e, mais ainda, os primeiros que estão na zona habitável de uma estrela! Resultados mais do que aguardados pelos astrônomos do mundo inteiro. Isso porque a missão espacial Kepler da NASA foi concebida na década de 1990 justamente com o intuito de detectar planetas que tivessem o tamanho da Terra e, por isso, deveriam ser rochosos.
Basicamente, hoje existem duas maneiras de detectar planetas fora do Sistema Solar, os exoplanetas. A primeira delas é baseada no “bamboleio” que os planetas provocam na estrela ao se movimentarem ao redor dela. Conforme a configuração nas órbitas, os planetas puxam mais ou menos a estrela e isso provoca um movimento sutil que pode ser detectado através de espectroscopia. Esse método funciona bem para detectar grandes planetas, que provocam grandes puxões nas estrelas.
A outra maneira é através de trânsitos, que nada mais são do que pequenos eclipses. Neste caso é preciso observar uma estrela por muito tempo, esperando por variações sutis de brilho. Toda vez que um planeta passa na frente da estrela, o brilho diminui. Muito sutilmente, mas diminui. Para descartar confusões – por exemplo, uma variação natural da própria estrela – é preciso observar pelo menos três desses trânsitos. Quando isso acontece, um candidato a planeta foi descoberto.
A detecção direta de um planeta, ou seja, a observação de um planeta em uma imagem é outra possibilidade. Mas ainda é muito difícil de ser implementada: o brilho da estrela é muito maior que o brilho do planeta e ele acaba ofuscado. Mas estamos progredindo nisso também!
A missão Kepler, depois de vários meses observando as constelações do Cisne e da Lira, encontrou uma estrela batizada de Kepler-11 (a uma distância de 2.000 anos-luz) e mostrou o mais impressionante sistema planetário já descoberto. A Kepler-11 é uma das 156 mil estrelas do tipo solar que serão monitoradas durante pelo menos 3 anos e meio.
A demora é fundamental, pois o objetivo é achar um planeta com as mesmas características que a Terra, que leva um ano para completar uma órbita. Para se fazer uma detecção segura de uma gêmea terrestre, são necessários no mínimo 3 anos de observações.
Em Kepler-11, foram achados seis possíveis planetas, cinco deles confinados em órbitas que caberiam dentro da órbita de Mercúrio. Na verdade, todo o sistema caberia dentro da órbita de Vênus.
Esses cinco planetas mais interiores devem ter, de acordo com modelos numéricos, massas entre 2,3 e 13,5 vezes a da Terra. O sexto planeta deve ser bem parecido com Urano ou Netuno em termos da massa, mas isso é apenas especulação, pois o modelos usados não forneceram resultados satisfatórios nesse caso. Aliás é bom que se diga, são resultados de modelos.
A descoberta precisa ser confirmada com meios mais diretos que simulação numérica e já há campanhas observacionais programadas para daqui a um ano com esse objetivo.
Impressiona também os números da missão. Até agora, a missão Kepler já descobriu 1.235 candidatos a planetas desde que foi lançada, em março de 2009 (confirmados são apenas 15). Desses planetas, 68 são aproximadamente do tamanho da Terra, 288 são chamados de “super Terra” pois são maiores que a Terra, mas ainda são menores que Netuno, portanto ainda podem ser rochosos.
Cinquenta e quatro planetas foram encontrados na zona habitável, que é a região em volta da estrela onde é possível encontrar água líquida em um planeta. Desse total, 5 candidatos têm o tamanho aproximado da Terra e são esses candidatos que serão prioridade nos próximos anos.
O que era ficção científica há 20 anos, hoje é uma realidade muito agradável. Como disse William Borucki, da NASA, nós saímos do zero para 54 candidatos na zona habitável! E os resultados têm mostrado que aproximadamente 20% das estrelas têm sistemas planetários e que, na maioria das vezes, são sistemas com múltiplos exoplanetas. Isso significa que deve existir muito mais astros do que antes se imaginava.


A semana 2 A maldição de Herodes

A história de Ehud Netzer, que descobriu a sepultura de um rei e morreu onde a encontrou, mostra a paixão que move os arqueólogos e os expõe a aventuras às vezes fatais

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TROFÉU
Netzer assina uma das maiores
descobertas do século XX
 
 Herodes, o Grande (73 a. C. a 4 a. C.), rei da Judeia, entrou para a história por ordenar a morte de todas as crianças com menos de 2 anos, na tentativa de exterminar Jesus Cristo, anunciado como futuro rei de Israel. Também por ser um líder sanguinário e odiado pelos súditos, que governava judeus sob a tutela dos romanos. Ficou famoso pelas fantásticas obras que realizou, como o porto de Cesareia e o Templo de Jerusalém. Mas sua porção cruel sobrepuja a sua genialidade como arquiteto. Convencido de que a imagem que a história reservou para o rei era injusta, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém Ehud Netzer dedicou exatamente metade da vida recontando sua trajetória por meio da arqueologia. E morreu ao cair no seio de sua maior descoberta, o túmulo do soberano. 


Em Herodium, uma colina artificial erguida por Herodes no deserto para cercar um palácio, Netzer armou acampamento, em 1972. Ali, só para citar duas extravagâncias, existiram uma gigantesca piscina de 2,6 mil m2 e um teatro para 450 espectadores. Foram 38 anos escavando à procura da tumba do rei. Ele a encontrou em 2007. “É um dos maiores achados de Israel, de relevância bíblica para o judeu e o mundo ocidental”, diz o arqueólogo Jorge Fabbro, da pós-graduação em arqueologia do Oriente Médio Antigo, da Universidade de Santo Amaro. Há registros de que, antes de morrer, Herodes ordenou que líderes judeus presos fossem mortos para que o povo de Israel chorasse no funeral do rei (ordem não cumprida).

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Netzer não pôde desacelerar. Alguns contestaram sua descoberta por não conter uma inscrição mortuária do tipo “aqui jaz Herodes”, comum nos sepultamentos da época. Herodium continuou sendo a sua casa. Ali, sob os escombros e a aura do político habilidoso e homem devasso, Netzer perseguiu sua obsessão e se expôs a perigos, que muitas vezes causaram a morte de arqueólogos – como ocorreu com Howard Carter, que descobriu o túmulo do faraó Tutancâmon, em 1922, e faleceu em consequência de uma intoxicação produzida pelos gases liberados pelo sarcófago. Na colina artificial, três anos e meio depois de achar a sepultura do rei, Netzer, 76 anos, tragicamente encontrou a sua. Ele conversava com colegas de trabalho quando o corrimão de madeira no qual se apoiava cedeu. Ao despencar seis metros abaixo, lesionou-se no pescoço e nas costas e não resistiu aos ferimentos. Judeus como Benjamim Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, teceram-lhe homenagens e choraram a sua morte. Exatamente como Herodes sonhava. 

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VÍDEO DO DIA

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